quarta-feira, janeiro 31, 2007

Referendo: Citações a ponderar II

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"Ao defender-se a liberdade de decisão da mulher, nos prazos legalmente definidos, admite-se uma opção, mas não se impõe uma opinião. Negar essa liberdade é transformar a opinião contrária em doutrina ou imposição do Estado"

"Trata-se de saber quem é por ou contra a persistência de uma proibição, com as respectivas consequências. Trata-se, ao fim e ao cabo, de saber quem é pela verdade na lei ou pela continuação da mentira e da hipocrisia"

"O aborto, em Portugal, foi liberalizado da pior forma possível: pelo laxismo, pela mentira, pela hipocrisia e pelo negócio"

Manuel Alegre, Público Online

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Haja o que houver



Madredeus
"Haja o que houver"
Letra e Música: Pedro Ayres Magalhães

domingo, janeiro 28, 2007

Referendo: Citações a ponderar I

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A partir de hoje, e até à realização do referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, vou publicar no blog, algumas citações que me parecem importantes, para a reflexão que esta questão deve suscitar. Aqui fica a primeira citação:
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«Creio que é compatível o voto na despenalização e ser - por pensamentos, palavras e obra - pela cultura da vida em todas as circunstâncias e contra o aborto. O "SIM" à despenalização da interrupção voluntária da gravidez, dentro das dez semanas, é contra o sofrimento das mulheres redobrado com a sua criminalização. Não pode ser confundido com a apologia da cultura da morte, embora haja sempre doidos e doidas para tudo.»

«Parece-me exorbitante ameaçar os católicos que votem "sim" com a excomunhão. Comparar o aborto ao terrorismo é fazer das mulheres aliadas da Al-Qaeda. A retórica deve ter limites.»

Frei Bento Domingues, Público 28/01/2007

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Entre o branco e o preto, há uma vasta escala de tons de cinzento

Confesso que não gosto de me pronunciar sobre casos, em que não consigo conhecer com segurança todos os factos. Não gosto de julgamentos apressados. Chocam-me os radicalismos, chocam-me os extremos. Já ouvi pessoas criticarem ferozmente os pais de “Esmeralda” porque provavelmente compraram a criança à brasileira, outros disseram que o pai biológico só está interessado nos 30 mil euros de indemnização, porque até está desempregado.

Como se mede e avalia o egoísmo ou inversamente, como se mede e avalia o amor verdadeiro e desinteressado?

Temos um pai biológico que duvidou da sua paternidade, nem vou especular sobre os motivos dessa dúvida. Mas duas certezas existiam, ele manteve de facto uma relação sexual não protegida e por isso haveria sempre uma probabilidade de ele, ser de facto o pai. Ele escolheu rejeitar essa probabilidade, nesse momento a paternidade não lhe provocou qualquer simpatia. Foi uma escolha e as nossas escolhas têm sempre consequências.

A mãe biológica não tendo emprego, nem condições para educar a criança, concorda em abdicar da sua maternidade. Um casal decide adoptar. E até aqui tudo parece lógico. Excepto a parte em que se verifica que o processo de adopção não foi legal. E aqui, entra uma questão que eu ainda não vi ninguém colocar. Porque é que de um caso em que existe uma vontade expressa de regularizar uma adopção, de ambas as partes (recordo que o pai biológico, neste momento recusava a paternidade), resulta um processo ilegal? Quem prestou aconselhamento jurídico a este casal? Onde estava a segurança social, existiu algum contacto, que tipo de apoio? Quem pode afirmar com segurança que existiu desleixo do casal adoptivo, quando pode ter havido desinformação ou falta de informação?

Mas a “Esmeralda” precisava de um pai e de uma mãe, não podia esperar que se deslindassem burocracias, legalidades e ilegalidades. E teve-os, para ela, eles existem, mesmo se juridicamente não o são. Mesmo que legalmente, a sua custódia venha a ser atribuída ao pai biológico que nunca conheceu.

Quem teve dúvidas, quem fez escolhas? É justo que as duvidas e escolhas erradas de um pai, por muito legitimas que fossem, venham retirar à criança os pais que ela reconhece como seus? Outra questão é legitimo que os pais adoptivos impeçam o pai biológico de ver a criança e fujam à justiça? O que está aqui em jogo? O orgulho de quem quer deter a paternidade, com se de um bem se tratasse? Ou o amor verdadeiro e desinteressado de quem pensa que a razão da felicidade da menina está do seu lado?

Estará o egoísmo e o orgulho só de um lado e o amor desinteressado exclusivamente no outro? De um lado, os bons, do outro os maus? Não haverá entre o branco e o preto, uma vasta escala de tons de cinzento?

Imagem: "O julgamento do rei Salomão" de Rubens

terça-feira, janeiro 23, 2007

Tentar não cair...

Mark Tucker

"Balancing Man"

domingo, janeiro 21, 2007

A moral segundo Kohlberg

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«A teoria de julgamento moral de Kohlberg é rica pelo facto de postular uma sequência universal, da qual os estágios mais altos (5 e 6) constituem o que ele chamou de pensamento pós-convencional. Ao contrário da maior parte das explicações sociais e psicológicas, que consideram a interiorização de valores da sociedade como o ponto terminal do desenvolvimento moral (perspectivas de Durkheim, Freud e do behaviorismo), para Kohlberg a maturidade moral atingida quando o indivíduo é capaz de entender que a justiça não é a mesma coisa que a lei; que algumas leis existentes podem ser moralmente erradas e devem, portanto, ser modificadas. (…)

O pensamento pós-convencional, enfatizando a democracia e os princípios individuais de consciência, parece uma norma essencial da cidadania.


Assim, segundo o autor, existem três níveis da moralidade. O primeiro chamou de nível pré-convencional que se caracteriza pela moralidade individualista, onde "as regras morais derivam da autoridade, são aceites de forma incondicional e a criança obedece a fim de evitar castigo ou para merecer recompensa". O indivíduo deste estágio, define a justiça em função de diferenças de poder e status, sendo incapaz de diferenciar perspectivas nos dilemas morais. (…)


O segundo nível, classificado por Kohlberg, foi chamado de nível convencional, no qual se valoriza o reconhecimento do outro e inclui dois estágios: o da moralidade da normativa interpessoal e o da moralidade do sistema social. No primeiro começa-se a seguir as regras para assim garantir um bom desempenho do papel de "bom menino" e de "boa menina", percebe-se uma preocupação com as outras pessoas e seus sentimentos. Já no segundo estágio, o indivíduo "adopta a perspectiva de um membro da sociedade baseada em uma concepção do sistema social como um conjunto consistente de códigos e procedimentos que se aplicam imparcialmente a todos os seus membros" (DÍAZ-AGUADO e MEDRANO, 1999, p. 31).


O terceiro nível foi chamado de nível pós-convencional, considerado por Kohlberg, como o mais alto da moralidade, pois o indivíduo começa a perceber os conflitos entre as regras e o sistema, o qual foi dividido entre o estágio da moralidade dos direitos humanos e o estágio dos princípios éticos universais. Neste nível, os comportamentos morais passam a ser regulados por princípios.


"Os valores são independentes dos grupos ou das pessoas que os sustentam, porque são princípios universais de justiça: igualdade dos direitos humanos, respeito à dignidade das pessoas, reconhecimento de que elas são fins em si e precisam ser tratadas como tal"»


Fonte: WIKIPÉDIA

sexta-feira, janeiro 19, 2007

How low can you go?


Não há limites para a prepotência da Igreja na campanha pelo não ao referendo à despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Primeiro foi o Papa a dizer que aborto e terrorismo são a mesma coisa. Depois vem o Bispo de Braga comparar a IVG à execução de Saddam Hussein.




A mesma Igreja Católica que deu a extrema-unção a um ditador sanguinário responsável pelo assassinato de milhares de pessoas, aplica a pena de excomunhão aos Católicos que votem sim? Que Igreja é esta? Não é certamente a Igreja Daquele que um dia afirmou: «Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra», onde está o Perdão, a misericórdia e a infinita bondade?


E pior, é que os católicos continuam pelo silêncio a pactuar com este tipo de discurso, mesmo quando baixinho dizem que na verdade não concordam… Não era tempo de se insurgirem contra este tipo de actuação e exigirem mais tolerância, mais respeito pela liberdade de expressão e menos hipocrisia?

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Rosto marcado pela globalização

Camponês que participa na Marcha contra o comércio livre
in Público 17/01/2007


terça-feira, janeiro 16, 2007

Porque voto sim...

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Ana tem 14 anos, está no 8º ano, engravidou. Tomou uma qualquer medicação abortiva, sem supervisão médica. A sobredosagem acabou por provocar-lhe a morte. A Ana nunca chegou à idade adulta, porque para além de ter sido vítima, da inexistência de politicas de planeamento familiar e de educação sexual, não teve o acompanhamento médico que lhe permitisse abortar sem perder a vida.

Maria é mãe de 4 filhos, toma a pílula. Tomou um antibiótico para curar uma gripe, que anulou o efeito do contraceptivo. O rendimento do agregado familiar mantém 6 pessoas no limiar da pobreza. Maria não tem dinheiro para ir abortar a Espanha, terá de o fazer na cozinha de um apartamento de uma ex-enfermeira. Faleceu devido a complicações resultantes de um aborto mal efectuado. Quatro crianças perdem a mãe.

Joana disse ao namorado que estava grávida. O namorado não aceitou a situação, deixou-a. Joana não tem emprego, nem o apoio dos pais. Sabe que a questão mais colocada às mulheres numa entrevista profissional, é: «Tenciona ter filhos nos próximos cinco anos?». Como poderá ter um filho? Se abortar será julgada como criminosa.

Histórias assim, quantas? Por quanto mais tempo? Eu não aceito que as mulheres continuem a perder a vida, porque tiveram de fazer a dramática escolha de abortar. Não aceito que sejam julgadas como criminosas, quando não tiveram outra escolha. No próximo dia 11 de Fevereiro, vou votar sim.


domingo, janeiro 14, 2007

Muscle Museum



Muse
Album: "Showbiz"

terça-feira, janeiro 09, 2007

Esperar por um gesto

Vivo na esperança de um gesto
Que hás-de fazer.
Gesto, claro, é maneira de dizer,
Pois o que importa é o resto
Que esse gesto tem de ter.
Tem que ter sinceridade
Sem parecer premeditado;
E tem que ser convincente,
Mas de maneira diferente
Do discurso preparado.


Sem me alargar, não resisto
À tentação de dizer
Que o gesto não é só isto...
Quando tu, em confusão,
Sabendo que estou à espera,
Me mostras que só hesitas
Por não saber começar,
Que tentações de falar!
Porque enfim, como adivinhas,
Esse gesto eu sei qual é,
Mas se o disser, já não é...


Reinaldo Ferreira

sábado, janeiro 06, 2007

E viva a civilização ocidental...

«O Ocidente não é um sistema político-cultural homogéneo. O que se exprime pela voz dos EUA e seus aliados (cada vez menos em número e com menor grau de convicção) é um Ocidente agonizante e sem norte; incapaz de agir de acordo com os princípios e valores que pretendeu seguir e impor aos seus inimigos, parece-se cada vez mais com estes. Barbarizado na luta contra o que designa por barbárie, transforma-se no mal que desenha os eixos do mal, reduz a força dos princípios ao princípio da força e acaba por imolar-se no sangue que faz derramar.

O julgamento de Saddam Hussein ficará para a história como uma das mais grotescas caricaturas da justiça internacional. (…) Foi uma justiça circense, uma farsa como a da justiça revolucionária que Saddam accionou (numa época em que era apoiado pelos EUA) para julgar os implicados no atentado à sua vida. Onde está a diferença ocidental, do primado do Direito e das garantias de uma justiça independente?

(…) Cabe, pois, perguntar porque se perdeu a oportunidade de realizar um julgamento (…) que reforçasse a justiça internacional e consolidasse o consenso global sobre a punição dos crimes contra a humanidade. Porque o ocidente bushiano é constituído pela mesma fraqueza que comanda o extremismo do bombista suicida. Reclamando para si da mesma inocência sacrificial que o dispensa de distinguir entre culpados e inocentes, não tolera mediações, negociações, compromissos, enfim, a paz e acima de tudo, não reconhece a dignidade do outro, do outro que mesmo culpado, tem direito a um julgamento justo.

(…) Humilhado pela morte de um irmão (amado ou odiado) em dia sagrado, o povo muçulmano tem toda a razão para crer que o sangue derramado é inocente. A vingança de Saddam é ele ser um ditador sanguinário com o direito, conferido pelos seus algozes, a ser reclamado por muitos como herói ou mártir. Por isso não é por Saddam que os sinos dobram. Os sinos dobram pelo Ocidente bushiano

Boaventura de Sousa Santos, “O espectro de Saddam” in Revista Visão de 4/01/2007


Desculpem a longa citação, mas gosto de citar quem diz o que eu penso, muito melhor que eu. Ao que está dito, só acrescento que me choca este retrocesso civilizacional. Seria de esperar um progresso de civilidade, em que a moralidade e a ética pesassem nas decisões políticas. Não, descemos ao nível daqueles que condenamos. Somos básicos, olho por olho, dente por dente.

As milhares de vítimas de Saddam, que ninguém esqueça que pereceram numa época em que o regime era apoiado pelos EUA, os 12320 civis iraquianos e os 3000 soldados americanos, mortos desde o inicio da guerra no Iraque, sentir-se-ão vingados, deixam de ser um peso na consciência e na historia da Humanidade? Não, essa memória, não se apaga, porque se vinga.

E depois o espectáculo da condenação, orquestrado pelos média, divulgado sem pudor. Porquê pensar nas consequências? Porquê pensar que se transformou um ditador odiado, num mártir agora adorado pelo mundo islâmico? Porquê pensar nas crianças que iriam assistir a tudo e iriam perder as suas vidas porque acharam que se trata de uma brincadeira, de uma banalidade?

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Até que ponto, somos efectivamente livres?

«Ausência de excessos, mediania em tudo, limitações legitimadas pelos «costumes», quer dizer, pela própria coesão da sociedade civil — tudo isto que era sustentado pelo regime de Salazar é hoje suportado pela norma única invisível do bom senso. Não há outra via. O medo, de perder todos os benefícios materiais que a entrada na União Europeia proporcionou, enxertou-se no sedimento de temor que já existia, transformando-o. Nasceu um novo objecto em que se investiu, inconscientemente, o medo do medo, o pequeno terror, a exclusão, o próprio terror de ser excluído, ou de vir a ser objecto de conflito (que comporta a ameaça de exclusão). Ameaça que existe disseminada no interior do real, sem que se saiba quem é o responsável, sem que o real se desrealize. É pois sempre mais conveniente continuarmos a não assumir responsabilidades, a não afrontar opiniões contrárias, a fugir aos problemas e a não pensar mais além das soluções que entram no quadro de todas as integrações. Sobretudo, recusar os conflitos.»


José Gil – Portugal, hoje: o medo de existir. Lisboa, Relógio de Água, 2004. p. 129-130.

Será que somos livres só porque vivemos em democracia? Não existe censura, não existe polícia política, não há um regime ditatorial que exerça uma coerção violenta sobre a nossa forma de agir... A agressão à nossa liberdade mudou de forma, somos coagidos pela norma social e pelo politicamente correcto. Temos medo dos olhares que nos julgam, temos medo da exclusão, temos medo de perder o emprego, se a nossa opinião foge à norma. A norma transformou-se na nova polícia política.

A repressão não é física, é psicológica e somos nós que a infligimos. Não estaremos nós perante a ditadura da estabilidade social, da não conflitualidade, do bom senso? Haverá forma mais eficaz de controlo que a pressão social e a auto-censura?

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Desejo de Natal do Sr. Bush

.Cartoon in Newropeans Magazine

Um novo plano para o Iraque em 2007? Essa nem o Pai Natal, nem o Montro do Loch Ness, nem qualquer outra criatura imaginária que me lembre de momento...