Mostrar mensagens com a etiqueta Saúde. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Saúde. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, dezembro 09, 2011

Sáude? Só com dinheiro na carteira...


Os portugueses estão a ser brindados diariamente com exigências e sacrifícios que vão comprometer a sua sobrevivência económica. Vêem os seus salários cortados e reduzidos, porque vão trabalhar mais 16 dias de borla (a tal meia hora extra), mais os 4 dias de feriados que vão deixar de o ser… 20 dias, um mês de salário de oferta… São tão generosos os portugueses, por isso é que levam com aumentos de preços e de impostos, que lhes vão levar outro mês de salário. Mas pelos vistos os portugueses não fizeram as contas ainda ou se as fizeram não parecem nada chateados com a degradação da sua situação económica. A minha questão é, e com a saúde estão preocupados? É que o seu acesso à saúde passa a estar dependente do dinheiro que têm na carteira:

«Os valores das taxas moderadoras para 2012 vão mais do que duplicar em relação aos preços atuais, anunciou o ministro da saúde na segunda-feira. As consultas nos centros de saúde passam de 2,25 euros para 5 euros, mas será nas urgências que o aumento mais se vai sentir, subindo de 9,60 para 20 euros.»
 
Então os portugueses que têm a sorte de ter médico de família e que tenham consulta no dia em que fiquem doentes, terão que prever com 2 ou 3 meses de antecedência, passam a pagar 5 euros por 5 ou 10 minutos de consulta, ou somente por uma receita da medicação habitual. Se não tiverem medico de família, nem consulta no centro de saúde, terão que ir ao hospital pagar pelo menos 20 euros. O que não é dito é que cada exame ou análise é pago e se a pessoa tiver o azar de ter um problema sério, poderá ver-se perante uma conta que não pode pagar. Desenganem-se os que pensam que por aumentar o nº de isentos, estão livres do encargo porque a fasquia dos ricos está logo nos 613 euros… basta tratar-se de um casal com 613 cada, para não ter direito a isenção. Se o pretexto do aumento é quem é rico pode pagar mais, convém ter em conta que os ricos utilizam os hospitais privados, no fundo, mais uma vez, o governo chama ricos aos remediados ou à ex-classe média.

O ministro fez questão de referir que quem vier do centro de saúde não paga taxa moderadora. Só se esqueceu de referir que para tal acontecer, é preciso que as pessoas tenham medico de família ou melhor ainda que tenham um centro de saúde aberto e a funcionar… Se ainda assim, continuarem a acreditar na bondade do governo que isenta 6 milhões, expliquem-me porque é que o aumento das taxas moderadoras permite um encaixe de 200 milhões. Não há outras formas de obter receita? Não ocorre ao governo aumentar a receita com boas práticas de organização e gestão hospitalar, colocando profissionais competentes nos conselhos de administração dos hospitais em vez de militantes do partido? Não… aqui o critério é mesmo o cartão de militante, mesmo que o militante tenha provocado um buraco de 6,5 milhões de euros ou tenha zero de experiencia na área da saúde e venha de uma empresa de tubos de plástico:

«A história repete-se. Em algumas das mais recentes nomeações para conselhos de administração de centros hospitalares voltou a acontecer a tradicional dança de cadeiras, apesar das recomendações da troika: saíram gestores do PS, entraram gestores com ligações ao PSD e ao CDS. E, noutras nomeações ainda em preparação, fervilham as movimentações partidárias para a escolha de militantes ou simpatizantes dos partidos no poder. (…) De igual forma a escolha de três dos cinco gestores do novo Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo (Tomar, Abrantes e Torres Novas) motivou acesas críticas. Os novos gestores - Joaquim Esperancinha, António Lérias e João Lourenço - tinham dirigido o centro hospitalar durante o Governo PSD/CDS, regressando depois para uma empresa de tubos de plástico com sede no Cartaxo, de onde tinham saído. O primeiro é licenciado em Engenharia Electrotécnica, o segundo, em Organização e Gestão de Empresas, e o terceiro tem um MBA em Gestão de Empresas. (…) Em Aveiro, após um primeiro convite a um médico de Coimbra (do PSD) - escolha que terá sido chumbada pelas distritais do PSD e do CDS -, fala-se agora em outro militante social-democrata que já passou pelo hospital de Aveiro entre 2002 e 2005, Álvaro Castro, e ainda de Capão Filipe (do CDS). Em 2005, o hospital apresentou um resultado negativo superior a 6,5 milhões de euros.»

Mais comentários para quê? O rigor, a austeridade e o sacrifício só se aplica ao pobre, ao cidadão que não tem poder de reivindicação e que poderá ter a sua vida em risco, caso não tenha dinheiro. Com os amigos a conversa é outra….

terça-feira, novembro 29, 2011

Confirma-se o pior...



Já escrevi neste blog um texto que falava numa estratégia de eliminação dos pobres e dos doentes. Quem leu achou exagerado... Recordo as minhas palavras há dois meses atrás:


Nestas alturas queria não ter tido razão. Espero que agora as pessoas percebam porque se devem empenhar em lutar contra estas políticas. Antes que morram mais crianças inocentes...

sexta-feira, setembro 09, 2011

Proezas austeritárias sobre a vida e a morte

São muitas as proezas austeritárias deste governo, mas na área da saúde são especialmente gravosas porque influenciam a vida e a morte. Depois de ouvirmos o ministro da saúde anunciar a redução do orçamento para transplantação de órgãos, comprometendo a continuidade desta pratica que literalmente salva vidas, ficamos perplexos. Não só pela desumanidade, mas pelo absurdo porque um transplante a longo prazo poupa dinheiro ao SNS. Mas de facto não nos consta que o ministro tenha formação em saúde. Já ouvimos testemunhos ou já presenciamos o atendimento hospitalar sob o signo da austeridade, não se fazem exames fundamentais porque isso tem custos, não se descobre a doença, não se cura, as pessoas ficam mais doentes ou em ultima instancia morrem.

Perante isto, não se esperam boas noticias. Hoje ficamos a saber que as pílulas e as vacinas contra o cancro do colo do útero, hepatite B e contra a estirpe do tipo B do vírus da gripe vão deixar de ser comparticipadas pelo Estado. Saberá o Sr. Paulo Macedo que o cancro do colo do útero é a segunda causa de morte entre mulheres dos 15 aos 44 anos na Europa e que todos os anos morrem em Portugal cerca de 300 mulheres com este tipo de cancro? Estamos a falar da vida e da morte.

Saberá o Sr. Ministro o papel fundamental da pílula na vida da mulher, não anti-conceptivo, mas como regulador do ciclo menstrual, do equilíbrio hormonal, podendo facilitar uma transição não problemática para a menopausa? Saberá alguma coisa da luta das mulheres pela sua emancipação, pelos seus direitos? Isto é um corte cego ou um preconceito ideológico? Pretende-se fomentar a abstinência sexual ou aumentar o aborto, já que estimular a natalidade é complicado se não há dinheiro para sustentar bebés...

Mais uma vez andamos entre a completa insensibilidade social, a desumanidade e o preconceito. Mas como sempre falta a propaganda. Neste caso... os centros de saúde continuam a distribuir gratuitamente estes fármacos. Claro que os dois milhões de portugueses sem medico de família e sem acesso a essas consultas sabem disso perfeitamente. Também sabem disso, os que tendo acesso e consulta, ouvem a resposta «não há». E sabem melhor ainda os que perdem dias ou tardes que lhes podem custar o trabalho, horas em filas, para conseguir consulta daí a 3 meses...

Ainda alguém duvida da estratégia de eliminação que eu falei no post anterior?

terça-feira, abril 06, 2010

Premiar uns, retirar cuidados de saúde a outros

Uma semana e meia de ausência, levam-me a escrever um daqueles textos abrangentes, sobre uma semana marcada por dois momentos bastante reveladores do lugar a que o Estado relegou o cidadão comum. Estou a falar do encerramento do centro de saúde de Valença, que é apenas um exemplo do que tem sido feito para retirar serviços e cuidados de saúde fundamentais aos cidadãos, em nome de critérios economicistas. O único garante do acesso público à saúde, demite-se da sua função. Cada vez mais é exigido ao cidadão que contribua com sacrifícios e aumento de impostos, mas depois não existe a contrapartida do Estado. E com isto, não critico a existência do Estado, mas sim a forma como está a ser gerido e as bases em que assenta. Não se pode assegurar um serviço fundamental de cuidados de saúde, porque não é rentável, mas pode-se por exemplo canalizar uma verba idêntica ou superior para o prémio de um gestor público.

Não é questionado um prémio milionário a um gestor público de uma empresa estatal que detém o monopólio do mercado, mas já existe outro rigor para eliminar um centro de saúde. O que me leva ao outro momento da semana, que é a divulgação do valor do premio anual de António Mexia. A justificação é a concretização de objectivos. Ora deve ser muito difícil gerir com sucesso uma empresa estatal como a EDP, que domina sem concorrência o mercado e pratica os preços mais elevados da Europa. Para já não falar no facto de ser questionável, que um gestor já pago mensalmente para executar uma gestão eficaz, seja ainda contemplado com um prémio por fazer o que lhe compete. Paga o Estado algum prémio ao varredor de rua que executa a sua profissão com zelo e competência, cumprindo os seus objectivos?

Como se não fosse suficiente a fraca fundamentação do prémio, ainda tivemos que assistir a uma jogada de propaganda patética com o programa "InovCity" em Évora, numa tentativa de mostrar serviço e desviar as atenções do essencial. E o essencial é gestão do bem público com critérios economicistas e não a pensar no interesse geral. A maior das ironias é que António Mexia, fez parte do grupo "Compromisso Portugal", que exigia a saída do Estado do capital de empresas como a EDP, afinal o garante do prémio chorudo que recebe agora. Tudo isto torna muito díficil perceber porque se encerram serviços públicos de um lado e se premeiam gestores ex-ministros, sentados em monopólios, no outro...

domingo, agosto 30, 2009

Da nossa imundície passada e presente


Nunca é tarde para aprender a lavar as mãos


«A tão negligenciada literatura de casa de banho acaba de obter o significativo patrocínio do Estado. O recente panfleto que a Direcção-Geral de Saúde espalhou por todas as casas de banho públicas do País é, antes de tudo, inquietante - como toda a boa literatura deve ser. Intitulado "Como lavar as mãos?", o texto começa por ser magistral no modo como manipula a arrogância do leitor para, em primeiro lugar, provocar o riso. Um riso que depressa se torna amargo: em poucos segundos, o mesmo leitor que intimamente escarneceu da intenção de quem se propunha ensinar-lhe insignificâncias é tomado pelo assombro de verificar que nunca, em toda a vida, teve as mãos verdadeiramente lavadas. O panfleto apresenta um plano de lavagem das mãos em 12 (doze) passos, incluindo manobras de esterilização com as quais o cidadão médio jamais terá sonhado. Não haja dúvidas: estamos perante um compêndio da higiene manual e digital, uma bíblia da desinfecção do carpo e metacarpo. Este detalhado e rigoroso guia não deixa nem uma falangeta por purificar. Mas - e isto é que é terrível -, ao mesmo tempo que o faz, esfrega-nos na cara a nossa imundície passada e presente.

(...) No passo número dois ("Esfregue as palmas das mãos, uma na outra", recomendação acompanhada de um desenho em que duas mãos se esfregam em movimentos circulares contrários ao movimento dos ponteiros do relógio), quem sempre esfregou no sentido inverso, como é o meu caso, sente que desperdiçou uma vida inteira de higiene pessoal. Os passos seguintes fazem o mesmo, embora em menor grau: em terceiro lugar há que "esfregar a palma da mão direita no dorso da esquerda, com os dedos entrelaçados, e vice-versa"; o quarto passo apela a que se esfregue "palma com palma com os dedos entrelaçados"; e o quinto passo aconselha uma fricção da "parte de trás dos dedos nas palmas opostas com os dedos entrelaçados". Bem ou mal, com os dedos mais ou menos entrelaçados, estes passos descrevem esfregas que estão ao alcance da imaginação de qualquer pessoa. A partir daqui, o caso piora de novo. O passo seis determina que se "esfregue o polegar esquerdo em sentido rotativo, entrelaçado na palma direita e vice-versa", em movimentos semelhantes aos que se fazem quando se acelera numa motorizada, e o passo sete recomenda que se "esfregue rotativamente para trás e para a frente os dedos da mão direita na palma da mão esquerda e vice-versa". O cuidado posto nestes preceitos amesquinha quem até aqui se limitava a esfregar as mãos uma na outra, descurando, por exemplo, o papel que os dedos devem desempenhar, e logo rotativamente, na higiene.

Enxaguar as mãos é o passo oito. Secar as mãos com toalhete descartável, o passo nove. Mas o passo dez volta a revelar que o processo é complexo: "Utilize o toalhete para fechar a torneira, se esta for de comando manual." A torneira deve, por isso, continuar a correr durante todo o passo nove, provavelmente para prevenir eventuais emergências de enxaguamento, sendo fechada apenas no passo dez. O décimo primeiro passo é o mais interessante: "Agora as suas mãos estão limpas e seguras." A contemplação da limpeza e segurança das mãos constitui, portanto, um passo autónomo neste processo de lavagem manual. No fim da lavagem, falta apenas, com as mãos impecavelmente limpas (e seguras), sair da casa de banho abrindo a porta em que toda a gente mexeu. E, creio, voltar atrás para repetir o processo.»

Ricardo Araújo Pereira

quinta-feira, agosto 27, 2009

"Reform Madness"

Nos EUA decorre uma escandalosa campanha contra o plano nacional de saúde de Obama. O sistema público de saúde está a ser apelidado de comunista, comparado à antiga URSS, diabolizado de uma forma ridícula. Por trás desta violenta campanha de manipulação dos cidadãos americanos, estão os lobbies das seguradoras de saúde privadas que sentem os seus lucros milionários ameaçados. De facto estas empresas obtêm lucros espantosos, porque cobram preços elevadíssimos que depois não correspondem aos serviços efectivamente prestados. São recusados vários tipos de tratamentos graças a cláusulas contratuais abusivas. Basta ver o filme “Sicko” de Michael Moore para perceber o grau de desumanidade e de fraude que impera neste sector.

O que existe nos EUA é o sistema de saúde mais caro do mundo, colocado no ranking de qualidade em 37º lugar, deixando à margem, sem acesso a qualquer tipo de cuidados de saúde 40 milhões de americanos! Só esta informação deveria colocar o povo americano ao lado de qualquer tentativa para mudar o sistema (e o plano de Obama nem sequer é um sistema inteiramente público, é um sistema misto) ,mas não é isso que está a acontecer. As informações que estão a passar da parte dos Republicanos, lobbies das seguradoras e dos próprios média, são mentiras inacreditáveis como: «o novo plano de saúde promove a eutanásia», «haverá racionamento de tratamentos e medicação» e «o estado vai tomar conta de todo o sistema de saúde incluindo o privado».

Chegou-se ao ponto do editorial do jornal "Investor's business Daily" publicar afirmações perfeitamente disparatadas, como dizer que o físico Stephen Hawking nunca teria hipotese de tratamento no Reino Unido, porque o Sistema Nacional de Saúde Britânico consideraria a sua vida inútil! Nem sei como há alguém vivo na União Europeia, a julgar por estes comentários...

É isto que acontece quando o lucro vem antes das pessoas! Não se olham a meios para manipular a opinião pública! Um bom exemplo disso neste excerto do Daily Show de Jon Stewart, para ver aqui.

quarta-feira, agosto 05, 2009

Dentistas a mais?? Onde?




Sinceramente faz-me confusão, como é que num país onde milhares de pessoas, estão excluídas de cuidados de saúde dentária, o bastonário da Ordem dos Dentistas exije a redução de vagas nos cursos para estes profissionais. Existem dentistas a trabalhar fora do país, porque o sistema nacional de saúde não contempla esta especialidade, o que não significa que existam profissionais a mais. Esta grave lacuna no sistema nacional de saúde constitui um grave problema de injustiça social. Quem pode pagar tem acesso a cuidados de saúde dentária, quem não essa possibilidade financeira, não tem acesso aos serviços do dentista. Essa seria a realidade a combater, aí é que reside a questão fulcral e não no nº de vagas disponíveis.

O que também me deixa confusa, é a razão pela qual o desemprego dos dentistas não suscita um apelo firme do Bastonário à integração destes profissionais no Sistema Nacional de Saúde, pressionando o poder político para a resolução do problema do desemprego e das pessoas que não podem pagar cuidados de saúde dentária no privado. Não queria pensar que a razão, está na concorrência que o publico faria ao privado, que certamente obrigaria os dentistas a baixar as suas exorbitantes tabelas de preços…

Em tempo de pré-campanha para as legislativas, era bom verificar o que dizem os partidos do Sistema Nacional de Saúde. Quem se atreve a dizer que a universalidade dos cuidados de saúde, independentemente da sua condição socio-económica, não é um imperativo ético e moral?

terça-feira, setembro 09, 2008

Afinal a injustiça mata mesmo...

A edição portuguesa do "Le Monde Diplomatique" tem um artigo muito interessante sobre as conclusões do Relatório da OMS. Passo a transcrever alguns excertos do artigo e deixo o link para as conclusões da OMS:

«O documento salienta o facto de às desigualdades em matéria de saúde entre países se juntarem as que existem entre ricos e pobres de um mesmo país. Por exemplo, a esperança de vida à nascença de um rapaz norte-americano é superior em dezassete anos à de um indiano, mas a esperança de vida de um recém-nascido escocês de um subúrbio desfavorecido de Glasgow é inferior em vinte e oito anos à de um bebé vindo ao mundo num bairro privilegiado da mesma cidade.

(...) Este documento de 256 páginas lê-se, no fundo, como um requisitório contra as políticas económicas exortadas pelas instituições financeiras internacionais e levadas à prática em numerosos países. Nele faz-se, nomeadamente, a recomendação de se «lutar contra as desigualdades na distribuição do poder, do dinheiro e dos recursos, ou seja, dos factores estruturais de que dependem as condições de vida quotidiana aos níveis mundial, nacional e local».

Ligando saúde e trabalho, os membros da Comissão distanciam-se em particular das preconizações liberais da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE): «O pleno emprego, a equidade em matéria de emprego e condições de trabalho decentes devem ser objectivos comuns das instituições internacionais e devem situar-se no centro das políticas e estratégias de desenvolvimento nacionais, devendo os trabalhadores estar mais bem representados aquando da elaboração das políticas, da legislação e dos programas que incidam sobre o emprego e o trabalho». Com efeito, «um trabalho seguro, sem perigo e correctamente remunerado» reduz os factores de risco. Tal como um emprego estável, uma vez que «a mortalidade é sensivelmente mais elevada entre os trabalhadores temporários do que entre os trabalhadores permanentes».


O relatório da OMS recomenda que, para sanar as desigualdades em matéria de saúde e as disparidades nas condições de vida quotidianas, seja instaurada «uma protecção social universal generosa» – funcionando de preferência «por redistribuição» –, bem como investimentos significativos no sector da saúde. Uma tal construção «exige um sector público poderoso, determinado, capaz e suficientemente financiado».


Numa altura em que os governos dos países capitalistas avançados delegam no sector mercantil uma parte cada vez mais importante das actividades de saúde e transferem para as seguradoras privadas segmentos inteiros da cobertura na doença, os autores do estudo recordam que «a saúde não é um bem negociável». O provimento dos bens sociais essenciais, como o acesso à água e aos cuidados de saúde, «deve ser gerido pelo sector público e não pela lei do mercado».


Parece óbvio, mas pelos vistos não é... Talvez pareça mais óbvio se forem os investigadores da OMS a dizê-lo. Nunca é demais falar das consequências da injustiça social, pode ser que um dia os avisos não caíam em saco roto...


sábado, julho 14, 2007

O regresso de Michael Moore

.

Depois de “Bowling for Columbine” e “Fahrenheit 9/11”, Michael Moore tem um novo filme, “Sicko”. Desta vez o tema é o sistema de saúde norte-americano, ou a falta dele e as companhias de saúde privadas que beneficiam da ausência de um sistema de saúde pública. O filme não aborda só o problema de cerca de 50 milhões de americanos sem seguro de saúde, mas também a situação daqueles que tendo seguro de saúde, são defraudados pelas seguradoras, que se recusam a pagar despesas de saúde perfeitamente justificadas.

São apresentados factos muito interessantes e testemunhos de pacientes e empregados das seguradoras, pode ouvir-se o testemunho de uma médica no trailer que admite que um parecer seu de acordo com a política da seguradora, causou a morte de um cliente. O sistema americano é comparado com os sistemas nacionais de saúde do Canadá, do Reino Unido, da França e de Cuba. Numa altura em que assistimos à cruzada de Correia de Campos pela privatização do nosso SNS, é um documentário que valerá a pena ver.

“Sicko” estreou nos EUA no passado dia 30 de Junho e já está a gerar contestação, com tentativas de descredibilizar o filme e distorcer os factos, por parte da CNN e dos seus comentadores. Agitam-se as bandeiras da ameaça comunista da saúde nacionalizada e socialista, da sustentabilidade e dos custos económicos do sistema, movimentam-se os lobbies das seguradoras… Chega-se ao ridículo de relacionar sistema publico de saúde e ameaça terrorista, só porque no sistema britânico trabalham médicos islâmicos.


Aqui fica a resposta de Michael Moore às críticas na CNN:






Vai ser interessante verificar se o documentário, irá levar algum dos candidatos à presidência, a ter a "ousadia" de lançar um sistema público de saúde. E mais interessante ainda, quando irá a opinião pública americana começar a exigir esse direito universal...

sábado, junho 09, 2007

A indústria farmacêutica global

.

«Para acelerar a liberalização de drogas ultra-lucrativas, as companhias farmacêuticas recorrem cada vez mais a cobaias humanas dos países pobres. Milhões de pessoas submetem-se, por migalhas, a testes sem supervisão, sem padrões éticos e que muitas vezes as privam de medicamentos essenciais»


A indústria farmacêutica é uma das mais lucrativas do mundo, só nos EUA e desde 2000, cresceu 15% por ano, triplicando o lançamento de drogas experimentais entre 1970 e 1990. Para lançar novos medicamentos, há que testá-los antes. O problema é que cada vez menos pessoas, nos EUA e na Europa Ocidental estão dispostas a inscrever-se nos testes clínicos exigidos. Qualquer pessoa percebe porquê, ninguém no Ocidente se sujeita a riscos e efeitos secundários… Nos países mais pobres, com graves carências a nível económico e de cuidados médicos, não existe esse problema. É neste contexto, que surgem argumentos como este:


«Outro executivo de companhia de testes clínicos afirmou: “A África do Sul é um país óptimo [para AIDS]”, por causa do grande número de pacientes infectados pelo HIV ainda não tratados com drogas anti-virais. Com freqüência os fabricantes de drogas ficam frustrados em suas tentativas de provar que as novas drogas funcionam nos corpos impregnados de medicamentos dos ocidentais testados. Há tantas drogas em seus organismos que é cada vez mais difícil observar o efeito do composto experimental. Assim, os pacientes-virgens – pessoas doentes pobres demais para obter tratamento médico – são altamente valorizados nos testes clínicos.»


Os grandes laboratórios estão a realizar milhares de ensaios clínicos nos países em desenvolvimento como a Bulgária, Zâmbia, Brasil e Índia, por exemplo. Aqui o recrutamento é rápido. Na África do Sul, uma empresa de testes farmacêuticos, conseguiu recrutar três mil pacientes para testar uma vacina experimental em nove dias. Curiosamente ou não, a população não é totalmente informada dos riscos que corre, nem as autoridades locais têm os meios de supervisão e fiscalização adequados.


Os medicamentos testados visam a cura das doenças ocidentais, como doenças cardíacas, artrite, hipertensão e osteoporose. Isto significa que os voluntários não vão beneficiar do ponto de vista clínico com esta medicação. São tratados como ratos de laboratório, enriquecendo as grandes companhias farmacêuticas, sem qualquer contrapartida. Os mais pobres continuam a morrer de SIDA, malária e tuberculose sem acesso a essa medicação, enquanto que os pacientes ricos do Ocidente, beneficiam de mais e melhor saúde à sua custa.