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segunda-feira, janeiro 31, 2011

Pela liberdade ou pela justiça social?



Muito se tem falado da Tunísia e do Egipto, dos levantamentos populares em nome da democracia. O que está em causa são uns terríveis ditadores, cuja opressão se tornou insuportável para as populações. Mas estes levantamentos, mais que a liberdade exigem justiça social. Se a liberdade fosse a única coisa em causa, já teríamos assistido a estas movimentações há anos atrás. Sem querer desvalorizar a defesa da liberdade, que é fundamental, chamo a atenção que se exige mais. Será coincidência que os Média não falem no desemprego, no aumento do custo de vida, nos jovens licenciados sem perspectivas e num contexto de completa crise social, que foi o rastilho de pólvora para os levantamentos populares? Claro que não, podiam as pessoas começar a fazer comparações... afinal de contas, em Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda, não há desemprego, pobreza e jovens licenciados sem perspectivas...

O melhor é mesmo que cá se pense, que lá longe existem uns povos a pedir democracia e a lutar contra os ditadores maus. Nada disto tem a ver connosco! Os nossos problemas não têm nada a ver. Nós não precisamos tanto de justiça social, de igualdade de oportunidades, de emprego e direito à felicidade como precisamos de democracia e de liberdade... Espero sinceramente que tunisinos e egípcios vençam esta batalha e que a sua luta pela justiça social e por uma democracia fraterna, venha a ser também a nossa.

sexta-feira, junho 18, 2010

Adeus Saramago



Pelo espírito crítico, pelo inconformismo, pela vontade indomável de pensar a realidade e de a mudar, Saramago vai fazer-nos imensa falta. Felizmente fica a sua obra e as suas palavras para nos incutirem a necessidade de ter um espírito tão livre como o dele.

domingo, maio 23, 2010

«O sistema oprime, criando uma aparência de liberdade»



Excerto de uma entrevista a Zeca Afonso em 1984

É fantástica a actualidade destas palavras! A ouvir com atenção...

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Ética para a Internet?


São muitos os casos de pessoas acusadas judicialmente, pelo simples facto de expressarem uma opinião crítica na Internet, acerca de uma entidade privada ou pública. Um blogger fez uma referência crítica ao Primeiro-Ministro e acabou acusado judicialmente. Aquando do incidente terrorista no avião para Detroit, alguém proferiu um tweet sarcástico sobre o tema e acabou na prisão. Agora é um grupo de pilotos da TAP, que terá manifestado opiniões ofensivas para a empresa através do Facebook. Em blogs, no twitter e agora no Facebook, até que ponto é legitimo que a expressão de uma opinião pessoal seja controlada, vigiada e em ultima instancia eliminada? Porque é que uma crítica fundamentada ou uma manifestação de descontentamento, passa a ser considerada difamação/ofensa?

Imaginemos que cada cidadão utilizador de Internet, resolve publicar online um episodio em que foi incorrectamente tratado numa determinada instituição. Que impacto teria essa acção? Não seria um impacto menor, certamente. Há que dissuadir este tipo de iniciativa, antes que o cidadão comum perceba o seu potencial poder. O que se pretende é inibir o espírito crítico e o inconformismo, tentando dissuadir os cidadãos de usarem a rede para manifestar a sua opinião.

O medo de incorrer num processo judicial dispendioso, o receio de perder o emprego ou sofrer represálias socioeconómicas, são fortes elementos dissuasores. Comecemos por criar cursos de formação em ética para o Facebook, regras de conduta empresarial que dificilmente um trabalhador que quer manter o emprego, pode recusar. Assim se controla, assim se manipula, assim se disciplina no séc. XXI.

quinta-feira, outubro 08, 2009

Reflexão sobre o individualismo

Vale a pena analisar até que ponto, devemos repensar as convicções que têm fundamentado a orientação politica das nossas democracias. O que temos assistido desde o aparecimento do capitalismo, é a convicção de que o mercado e a escolha individual são os instrumentos mais eficazes de expressão da liberdade individual. Esta ideia foi levada ao expoente máximo com o neo-liberalismo actual e a ideia que a liberdade individual se baseia nas relações sociais, na solidariedade, na partilha e num socialismo ético, parece ter sido colocada de parte. Do conceito de individualismo, que é inevitável e aceitável passamos a uma sociedade baseada num individualismo egoísta, que tende a ignorar a responsabilidade social de cada um e a noção de bem-comum.

O resultado do individualismo egoísta é uma sociedade injusta e com desigualdades gritantes, em que se cria um mal-estar latente. As pessoas são pressionadas a produzir, a aumentar o lucro em prejuízo das suas vidas pessoais e na maioria das vezes, esse esforço nem se traduz na garantia de padrões mínimos de sobrevivência. O lucro que supostamente se produz não significa melhoria da qualidade de vida da sociedade no seu todo, mas apenas de uma elite ligada aos grandes grupos económicos ou ao poder político. Esta orientação para o lucro e não para o bem-comum, que deriva do individualismo egoísta mais cedo ou mais tarde, provocará uma desagregação social de consequências imprevisíveis.

Mais cedo ou mais tarde, o individualismo egoísta terá de dar lugar a um individualismo responsável e novas formas de conciliar individualidade e sociedade terão de emergir. Conceitos como socialismo ou comunismo terão de ser repensados e ajustados ao sec. XXI, sem que percam a sua essência original, que passa pela ideia de que a liberdade individual se baseia nas relações sociais, na solidariedade, na partilha, na justiça e na coesão social. Insistir numa lógica de mercado, de orientação para o lucro e de egocentrismo mascarada de esquerda ou de socialismo moderno, não é a solução e só nos levará à ruptura. E a ruptura acontecerá quando o cidadão comum perceber que a sua liberdade individual e o seu trabalho já não lhe garantem a sobrevivência, e basta olhar em volta para perceber que essa realidade, já esteve mais longe de suceder…

quinta-feira, maio 14, 2009

Direitos de autor, protecção económica ou liberdade de acesso


Acabou de ser aprovada em França, pela maioria Sarkozy, uma lei que criminaliza os utilizadores de Internet que efectuem downloads ilegais, com a punição de permanecerem impossibilitados de usar o serviço durante o ano. Os utilizadores continuam a pagar o serviço sem que o possam utilizar e tudo isto é decidido num processo administrativo, sem a intervenção de um juiz. Os fornecedores de Internet controlam os sites visitados pelos clientes e caso tenha lugar algum download, são enviados 2 avisos, após os quais o cliente é automaticamente considerado culpado. Ora isto é chamada inversão do ónus da prova, o indivíduo é imediatamente declarado culpado e ele próprio terá de provar o contrário. Democrático, não?

Note-se que os fornecedores de Internet, nunca saem prejudicados com esta medida. Recebem sempre o seu quinhão, mesmo sem que os clientes acedam ao serviço. É lhes proveitoso que os utilizadores paguem chorudas mensalidades por tráfegos ilimitados, mas desmentem o incentivo ao download ilegal e descartam qualquer possibilidade de partilhar os seus lucros com os produtores de conteúdos. Repare-se que sem conteúdos, colocados online pelos autores sejam eles quais forem, não haveria qualquer interesse para os consumidores em ter acesso à Internet. No entanto, o lucro não é partilhado.

Porque é que o consumidor final é o único culpado? Para além de ver a sua privacidade violada, a sua liberdade de acesso à informação é limitada ou mesmo proibida. Porque é a industria do audiovisual que comercializa os produtos culturais e de entretenimento a preços proibitivos, retendo muito do lucro que devia chegar aos autores, saí impune de tudo isto? E será que os autores perdem assim tanto? Nunca foram tão divulgados e é sabido que no caso dos músicos, as receitas com concertos aumentaram exponencialmente. Basta recordar o caso do último álbum dos Radiohead...

Podemos questionar se a partilha de conteúdos é de facto crime. Podemos perguntar-nos se o acesso à informação e à cultura que a Internet proporciona, não trouxe uma mais valia cívica e um crescimento pessoal a cada indivíduo, que traz benefícios socioeconómicos. Não podemos porque isso não é medível. O que é medível é a capacidade de lobbie de uma poderosa indústria audiovisual, que perdeu o monopólio sobre autores e consumidores e das empresas de telecomunicações que explora os lucros que a primeira perdeu. Mas no final os criminosos são os consumidores, o elo mais fraco da cadeia...

terça-feira, maio 05, 2009

Internet livre, antes ou depois de 5 de Maio?

Parece incrível como algumas noticias verdadeiramente importantes para o nosso dia a dia, nos passam completamente ao lado. Só hoje descobri que estará a ser votada no Parlamento Europeu uma lei que acaba com a utilização livre da Internet. Esta lei se for aprovada, permite que os fornecedores dos serviços de Internet definam o que o utilizador pode ou não aceder, como se se tratasse de um pacote televisivo pré-formatado. Isto acontece porque o livre acesso à informação é uma mais valia para o cidadão, mas não para o Estado e para as grandes empresas porque representa uma forma de perda de poder e controlo.

Pretende-se fazer crer às pessoas, que o que está em jogo é apenas uma questão de combate à pirataria e à violação dos direitos de autor, mas na prática trata-se de proibir o acesso democrático e independente à informação e aos bens culturais. Será que os pequenos produtores de conteúdo e as pequenas e médias empresas, com sites de pequena dimensão vão estar incluídos nos pacotes comerciais dos operadores de Internet?

Isto é muito grave mesmo, só espero que este projecto não seja aprovado...
O que é lamentável é que se for aprovado ninguém irá saber, porque estamos todos demasiado preocupados com a gripe suína...

Adenda: Felizmente a lei não passou, a votação foi adiada:

«O Parlamento Europeu adiou hoje em Estrasburgo a reforma da actual legislação sobre comunicações electrónicas, rejeitando propostas de cortes de acesso à Internet em casos de downloads ilegais.

Ao assumir esta posição, naquela que é a última sessão plenária da actual legislativa, a assembleia remete para o próximo Outono o chamado processo de "conciliação", com vista a um entendimento entre o Parlamento Europeu e o Conselho (27 Estados-membros) sobre todo o pacote legislativo relativo às telecomunicações.

Com efeito, ao aprovarem por 407 votos a favor, 57 contra e 101 abstenções uma emenda alternativa que só permite a restrição dos direitos dos internautas com ordem judicial, o Parlamento Europeu obriga a que todo o pacote de medidas tenha que ser revisto. "Quando uma só alínea é rejeitada, todo o pacote tem que ser conciliado" lembrou a eurodeputada socialista francesa Catherine Trautmann, autora de parte do pacote legislativo.»

domingo, abril 26, 2009

Para todas as jovens almas censuradas



José Mário Branco "Queixa das jovens almas censuradas"

Dedicado a todas as jovens almas censuradas, as de ontem e as de hoje...

sábado, abril 25, 2009

Por ser 25 de Abril...

Por ser 25 de Abril, vou fazer uma reflexão e não um lamento. Já todos temos a noção que a liberdade e o regime democrático não trouxe as mesmas liberdades, direitos e garantias para todos. Já percebemos que por mais que trabalhem ou por mais mérito que tenham, vastas camadas da população estão irremediavelmente excluídas de posições de poder, político ou económico. Vale a pena pensar porque isto acontece. Não será um problema profundo de mentalidade colectiva? Até que ponto temos noção do que é realmente o bem comum e percebemos o conceito de cidadania?

Porque é que até as pessoas mais idealistas, em posição de poder, seja no sector privado seja no público, se perceberem que podem tirar benefício próprio da função que têm, apropriam-se do que podem. Abdicam de qualquer ideal ético ou moral e delapidam o bem público, sem se preocupar com as consequências que daí advêm para todos. Assim surgem as desigualdades escandalosas de salários milionários, prémios de produtividade, chorudas reformas para uns e para outros nem um emprego, ou um salário que garanta condições mínimas de dignidade. Sendo que isto, num país que não é rico estrangula as possibilidades dos que não estão em posição de poder. Neste momento, a maioria da população tem apenas liberdade para lutar por níveis mínimos de sobrevivência, a mobilidade social ou económica está-lhes vedada. As portas que Abril abriu estão há muito fechadas para essa extensa maioria.

Estou a lembrar-me de uma reportagem que passou na SIC uns dias atrás, sobre a liberdade. Entrevistavam-se estrangeiros que vivem em Portugal, para saber o que pensavam desse conceito visto pelos portugueses. Chamou-me a atenção uma senhora inglesa que disse que em Portugal, não existe essa mobilidade social, que referi há pouco. Um outro entrevistado, falou na nossa persistência em confundir competência com chico-espertismo. É esse chico-espertismo que leva a ética e a noção de bem comum, seja substituída pelo enriquecimento individual a qualquer custo.

Os ideais de Abril só poderão imperar, quando o sistema económico e social sofrer uma espécie de moralização, que tem que começar pelas pessoas em cargos de poder. É uma transformação das mentalidades que só terá lugar, quando determinados abusos de posição dominante forem impedidos e com uma forte aposta na educação e na cultura cívica. Está nas mãos do poder político moralizar o sistema e transformar mentalidades. Se os cidadãos perceberem que essa vontade política existe, também se habituarão a pensar no bem comum, como parte fundamental do seu bem individual e talvez aí o nosso profundo problema de mentalidade colectiva seja atenuado.

quinta-feira, março 12, 2009

Free blogger... not in Italy

Mesmo pensando que já nada surpreende na Itália de Berlusconni, consigo estar errada. Depois dos ataques aos imigrantes, das rondas de cidadãos, das ofensas sexistas, os bloggers são as próximas vítimas. Decorre neste momento uma iniciativa legislativa que obriga todos os blogs a terem uma licença do Estado. O que faz sentido, uma vez que Berlusconi já controla a TV e os jornais italianos. Não convém que exista algum meio de comunicação livre. A própria Internet tem sido alvo de legislação restritiva. Está a preparada uma lei que obriga os ISPs a bloquear um site, youtube, facebook ou blog a pedido do Ministro do Interior, por alegado crime de opinião, isto é, por veicular qualquer ideia que possa incentivar ao desrespeito pela lei. A direita propõe mesmo que nenhum conteudo possa ser publicado online de forma anónima.



Não estamos a falar da China, estamos a falar de um país da União Europeia!! E já agora os Media divulgam esta situação? É que não estou a encontrar referências fora da blogosfera... curiosamente ou não... Fica o testemunho de Beppe Grillo.

terça-feira, novembro 25, 2008

Atentado à liberdade de expressão

O blogger DissidenteX recebeu esta notificação, porque escreveu alguns posts em que denunciava situações evidentes de incompetência e negligência no Hospital Amadora-Sintra. Todos os posts que escreveu visando o Amadora-Sintra, foram fundamentados até com documentação do próprio Hospital, não eram caluniosos ou injuriosos. Além disso, o Amadora-Sintra é publicamente conhecido pela má gestão e por vários casos graves de negligência médica (Façam o favor de me processar também…). Realmente parece que batemos no fundo, já não há liberdade de expressão e direito à crítica ou à indignação.



Para além de divulgar este escândalo e mostrar a minha solidariedade, peço a todos os leitores que façam o mesmo, está em causa a liberdade de expressão e a própria blogosfera enquanto espaço livre de intervenção cívica. Muitas vezes demonstrei preocupação com a progressiva perda de direitos e garantias, com a censura e com as ameaças à nossa liberdade de nos fazermos ouvir e de intervir na sociedade.

Este caso demonstra que as minhas preocupações fazem todo o sentido... Chegamos a isto, temos que lutar pelo direito à indignação e pelo exercício desse direito na blogosfera!



segunda-feira, setembro 22, 2008

Um projectozinho chamado Edvige

Quase que me passava despercebido o último golpe de Sarkozy nas liberdades e garantias dos cidadãos. Chama-se EdvigeExploração Documental e Valorização de Informação GEral - e é um sistema de ficheiro policial, que integra todo e qualquer individuo maior de 13 anos, que exerça uma função política, sindical, religiosa ou económica. Na prática bastaria uma câmara de vigilância apanhar um cidadão numa manifestação política ou de latinha de grafitti na mão, para um ficheiro com o nome dessa pessoa ser imediatamente aberto no sistema.

E como se isso não fosse já de si incrível, o Sistema pode ser consultado por entidades públicas, e não só, que queiram verificar se um determinado individuo cumpre os requisitos para um determinado serviço ou missão daquela entidade. Isto é uma intervenção numa manifestação ou uma pintura mural aos 13 anos, podem comprometer o futuro profissional da pessoa em causa. Podem ler em pormenor os objectivos do programa, neste blog, que é também a fonte dessa belíssima imagem.

Espantosa ousadia, não? Até a ONU veio criticar o projecto. Felizmente e ao contrário de outros povos mediterrânicos, comodistas e pouco esclarecidos, os franceses mobilizaram-se contra o Edvige e reuniram 140 mil assinaturas em poucos dias através da Internet. Essa mobilização obrigou o executivo de Sarkozy a rever o projecto. Resta saber o que vai permanecer e se os franceses permitem...

E só mais uma observação, e que tal a atenção dada pelos nossos Média a este assunto? Será por acaso? E se seguiram o link para o blog, repararam que o post data de 18 de Julho e que já lamentava o menosprezo da comunicação social francesa pelo tema... Também é por acaso?

Faltam as cenas dos próximos capítulos...

quarta-feira, julho 02, 2008

"Meet David Davis"

Não fosse um artigo do "Open Democracy", e eu provavelmente não saberia quem é David Davis... ou então, ando muito distraída e não li nada na nossa comunicação social sobre ele... Este senhor é um ilustre parlamentar britânico, do partido conservador, que insurgindo-se de tal forma contra a nova Lei Anti-Terrorista de Gordon Brown, demitiu-se do seu cargo político. Ele alega que o Parlamento, ao atentar contra a liberdade e os direitos mais fundamentais do cidadão, deixa de cumprir o papel que lhe foi delegado. Fala de uma asfixia da liberdade cívica pela elite governativa, pelos partidos e pelos próprios Média, sem que o Parlamento consiga evitá-lo. Vale a pena ouvir os motivos dele:







Parece exagero, mas não é. A Lei Anti-terrorista ou lei das 42 horas, prevê que um cidadão possa ser detido sem culpa formada por mais de 42 horas, desde que essa ordem venha de um responsável político da Administração Interna. O Max explica muito bem as implicações dessa legislação neste post. A esta lei juntam-se sucessivas medidas, que visam integrar uma série de dados privados dos cidadãos, em bases de dado do Estado. Bases de dados criadas e desenvolvidas por empresas privadas, que logicamente terão acesso a informações pessoais dos cidadãos. Já para não falar paranóia das câmaras de vigilância...



Claro que a imprensa e os adversários políticos estão a acusá-lo de pretender protagonismo. Sinceramente, não conheceço a política interna britânica o suficiente, para poder afirmar se é disso que se trata. O que importa é a mensagem, não o mensageiro. E para mim, a asfixia das liberdades cívicas é um facto e que já não temos, nos parlamentos ou nos governos garantes dos nossos direitos fundamentais, é mais que óbvio. Como diz o autor do artigo e muito bem, isto não é sobre David Davis, é sobre todos nós:


«Against this background democrats need to develop and reinforce the central claims that Davis is making: that voters don't want to be governed by a state which holds the innocent without charge, conducts blanket surveillance; corrupts personal information; and hires corporations to build a unified high-tech state that manages the identity of every citizen.
This isn't about David Davis, it is about us»

sexta-feira, junho 27, 2008

Escrito em 1942 ou hoje?


«O futuro imediato tem grandes probabilidades de se parecer com o passado imediato, e no passado imediato as mudanças tecnológicas rápidas, efectuando-se numa economia de produção em massa e entre uma população onde a grande maioria dos indivíduos nada possui, têm tido sempre a tendência para criar uma confusão económica e social. A fim de reduzir essa confusão, o poder tem sido centralizado e o controle governamental aumentado. É provável que todos os governos do Mundo venham a ser mais ou menos totalitários, mesmo antes da utilização prática da energia atómica; que eles serão totalitários durante e após essa utilização prática, eis o que parece quase certo. Só um movimento popular em grande escala, tendo em vista a descentralização e o auxílio individual, poderá travar a actual tendência para o estatismo. E não existe presentemente nenhum sinal que permita pensar que tal movimento venha a ter lugar.»



Não há nenhuma razão, bem entendido, para que os novos totalitarismos se pareçam com os antigos. (...) Um estado totalitário verdadeiramente «eficiente» será aquele em que o todo-poderoso comité executivo dos chefes políticos e o seu exército de directores terá o controle de uma população de escravos que será inútil constranger, pois todos eles terão amor à sua servidão. Fazer que eles a amem, tal será a tarefa, atribuída nos estados totalitários de hoje aos ministérios de propaganda, aos redactores-chefes dos jornais e aos mestres-escolas.»



Aldous Huxley, "Admirável Mundo Novo". Lisboa: Livros do Brasil, 1999. Prefácio escrito em 1942, p.15.



« Para governar, é necessário deliberar, e não perseguir. Governa-se com o cérebro, nunca com os punhos. (...) não se pode consumir muito se se fica tranquilamente sentado a ler livros»



Idem, p. 63.


terça-feira, outubro 02, 2007

Grilhões

Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no género dos tapumes que os homens dos "robertos" colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles.


– Estou a ver – disse ele.

– Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objectos, que o ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que os transportam, uns falam, outros seguem calados.

– Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas – observou ele.

– Semelhantes a nós – continuei -. Em primeiro lugar, pensas que, nestas condições, eles tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras projectadas pelo fogo na parede oposta da caverna?

– Como não – respondeu ele –, se são forçados a manter a cabeça imóvel toda a vida?

– E os objectos transportados? Não se passa o mesmo com eles ?

– Sem dúvida.

– Então, se eles fossem capazes de conversar uns com os outros, não te parece que eles julgariam estar a nomear objectos reais, quando designavam o que viam?


– É forçoso.

– E se a prisão tivesse também um eco na parede do fundo? Quando algum dos transeuntes falasse, não te parece que eles não julgariam outra coisa, senão que era a voz da sombra que passava?

– Por Zeus, que sim!

– De qualquer modo – afirmei – pessoas nessas condições não pensavam que a realidade fosse senão a sombra dos objectos.

– É absolutamente forçoso – disse ele.


– Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, ao fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objectos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objectos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objectos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objectos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam?

– Muito mais – afirmou.

– Portanto, se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos objectos para os quais podia olhar, e julgaria ainda que estes eram na verdade mais nítidos do que os que lhe mostravam?

– Seria assim – disse ele.


– E se o arrancassem dali à força e o fizessem subir o caminho rude e íngreme, e não o deixassem fugir antes de o arrastarem até à luz do Sol, não seria natural que ele se doesse e agastasse, por ser assim arrastado, e, depois de chegar à luz, com os olhos deslumbrados, nem sequer pudesse ver nada daquilo que agora dizemos serem os verdadeiros objectos?

– Não poderia, de facto, pelo menos de repente.

– Precisava de se habituar, julgo eu, se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro lugar, olharia mais facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos homens e dos outros objectos, reflectidas na água, e, por último, para os próprios objectos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há no céu, e o próprio céu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do que se fosse o Sol e o seu brilho de dia.

– Pois não!

– Finalmente, julgo eu, seria capaz de olhar para o Sol e de o contemplar, não já a sua imagem na água ou em qualquer sítio, mas a ele mesmo, no seu lugar.

– Necessariamente.


– Depois já compreenderia, acerca do Sol, que é ele que causa as estações e os anos e que tudo dirige no mundo visível, e que é o responsável por tudo aquilo de que eles viam um arremedo.

– É evidente que depois chegaria a essas conclusões.

– E então? Quando ele se lembrasse da sua primitiva habitação, e do saber que lá possuía, dos seus companheiros de prisão desse tempo, não crês que ele se regozijaria com a mudança e deploraria os outros?

– Com certeza.

– E as honras e elogios, se alguns tinham então entre si, ou prémios para o que distinguisse com mais agudeza os objectos que passavam e se lembrasse melhor quais os que costumavam passar em primeiro lugar e quais em último, ou os que seguiam juntos, e àquele que dentre eles fosse mais hábil em predizer o que ia acontecer – parece-te que ele teria saudades ou inveja das honrarias e poder que havia entre eles, ou que experimentaria os mesmos sentimentos que em Homero, e seria seu intenso desejo "servir junto de um homem pobre, como servo da gleba", e antes sofrer tudo do que regressar àquelas ilusões e viver daquele modo?

– Suponho que seria assim – respondeu – que ele sofreria tudo, de preferência a viver daquela maneira.

– Imagina ainda o seguinte – prossegui eu -. Se um homem nessas condições descesse de novo para o seu antigo posto, não teria os olhos cheios de trevas, ao regressar subitamente da luz do Sol?

– Com certeza.

– E se lhe fosse necessário julgar daquelas sombras em competição com os que tinham estado sempre prisioneiros, no período em que ainda estava ofuscado, antes de adaptar a vista – e o tempo de se habituar não seria pouco – acaso não causaria o riso, e não diriam dele que, por ter subido ao mundo superior, estragara a vista, e que não valia a pena tentar a ascensão ? E a quem tentasse soltá-los e conduzi-los até cima, se pudessem agarrá-lo e matá-lo, não o matariam ?

– Matariam, sem dúvida – confirmou ele.


Platão, Alegoria da Caverna, República, Livro VII, 514a-517c

quinta-feira, julho 12, 2007

Qualidade democrática

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Cartoon de Rodrigo no "Humoral da História"

In: www.expresso.pt

sábado, junho 02, 2007

"Então, é assim"... censura-se!

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Às vezes, esqueço-me que a educação sexual ainda é um tema tabu na sociedade portuguesa. E depois, fico surpreendida como um simples documentário animado que fala de sexualidade, cause tanta polémica. “Então é assim” é uma co-produção dinamarquesa-canadiana, um filme de animação pedagógico para crianças, que ensina tudo o que os mais novos precisam de saber sobre como se fazem bebés. O filme foi recomendado por psiquiatras e psicólogos e pareceu-me muito bem conseguido. Passou na RTP 2, no dia da criança, não sem antes, ser alvo de uma emissão especial do programa Sociedade Civil, cujo debate visava esclarecer os pais e contava com a opinião de especialistas na área, como Daniel Sampaio.



Antes da emissão, já o site do movimento de pais MOVE, praticamente classificava o que iria passar-se como uma exibição de pornografia infantil. Depressa começaram a chegar, ao blog do programa os mais estupendos comentários, desde a crítica às imagens demasiado explícitas e exageradas, ao facto da animação incentivar a iniciação precoce da vida sexual. Depois vieram as queixas ao Provedor do Telespectador e o reunir de assinaturas para que a animação não fosse exibida. Para as almas conservadoras, a censura parece sempre o melhor remédio.

Eis a explicação:


«Esta atitude da RTP2 seria de louvar se a RTP2 conseguisse garantir que as únicas crianças que amanhã verão o filme serão aquelas cujos pais assim o desejem. E isso é impossível de garantir!


Os especialistas concordam que a educação sexual não se faz em massa, que está associada a diferentes ideologias podendo portanto ser contrária às convicções de alguns. A única componente da educação sexual universalmente aceite é a biológica e científica. Este filme não se limita a isso e portanto não deveria ser mostrado na televisão neste horário.»


Portanto, privam-se os pais que consideram o filme útil e pedagógico, do seu visionamento com os seus filhos. É que os pais signatários da petição, conseguem impedir que os filhos pesquisem “sexo” na net, vejam filmes com cenas de sexo ou que vejam os “Morangos com açúcar”… Mas o mais grave, é que nesta questão, como noutras, nota-se alguma hipocrisia e uma imposição de valores aos demais. Para já não falar, de uma certa insegurança dos pais, enquanto educadores. A educação sexual ainda é um tema tabu e todo este alarido, demonstra a urgência de implementar a educação sexual não só nas escolas, mas também junto dos pais. Educar para a sexualidade não é uma tarefa fácil, e aos pais devia ser dado mais apoio e informação. Estou convencida que se assim fosse, este filme seria visto como uma ferramenta pedagógica e não como um alvo a abater...


terça-feira, janeiro 16, 2007

Porque voto sim...

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Ana tem 14 anos, está no 8º ano, engravidou. Tomou uma qualquer medicação abortiva, sem supervisão médica. A sobredosagem acabou por provocar-lhe a morte. A Ana nunca chegou à idade adulta, porque para além de ter sido vítima, da inexistência de politicas de planeamento familiar e de educação sexual, não teve o acompanhamento médico que lhe permitisse abortar sem perder a vida.

Maria é mãe de 4 filhos, toma a pílula. Tomou um antibiótico para curar uma gripe, que anulou o efeito do contraceptivo. O rendimento do agregado familiar mantém 6 pessoas no limiar da pobreza. Maria não tem dinheiro para ir abortar a Espanha, terá de o fazer na cozinha de um apartamento de uma ex-enfermeira. Faleceu devido a complicações resultantes de um aborto mal efectuado. Quatro crianças perdem a mãe.

Joana disse ao namorado que estava grávida. O namorado não aceitou a situação, deixou-a. Joana não tem emprego, nem o apoio dos pais. Sabe que a questão mais colocada às mulheres numa entrevista profissional, é: «Tenciona ter filhos nos próximos cinco anos?». Como poderá ter um filho? Se abortar será julgada como criminosa.

Histórias assim, quantas? Por quanto mais tempo? Eu não aceito que as mulheres continuem a perder a vida, porque tiveram de fazer a dramática escolha de abortar. Não aceito que sejam julgadas como criminosas, quando não tiveram outra escolha. No próximo dia 11 de Fevereiro, vou votar sim.


quarta-feira, janeiro 03, 2007

Até que ponto, somos efectivamente livres?

«Ausência de excessos, mediania em tudo, limitações legitimadas pelos «costumes», quer dizer, pela própria coesão da sociedade civil — tudo isto que era sustentado pelo regime de Salazar é hoje suportado pela norma única invisível do bom senso. Não há outra via. O medo, de perder todos os benefícios materiais que a entrada na União Europeia proporcionou, enxertou-se no sedimento de temor que já existia, transformando-o. Nasceu um novo objecto em que se investiu, inconscientemente, o medo do medo, o pequeno terror, a exclusão, o próprio terror de ser excluído, ou de vir a ser objecto de conflito (que comporta a ameaça de exclusão). Ameaça que existe disseminada no interior do real, sem que se saiba quem é o responsável, sem que o real se desrealize. É pois sempre mais conveniente continuarmos a não assumir responsabilidades, a não afrontar opiniões contrárias, a fugir aos problemas e a não pensar mais além das soluções que entram no quadro de todas as integrações. Sobretudo, recusar os conflitos.»


José Gil – Portugal, hoje: o medo de existir. Lisboa, Relógio de Água, 2004. p. 129-130.

Será que somos livres só porque vivemos em democracia? Não existe censura, não existe polícia política, não há um regime ditatorial que exerça uma coerção violenta sobre a nossa forma de agir... A agressão à nossa liberdade mudou de forma, somos coagidos pela norma social e pelo politicamente correcto. Temos medo dos olhares que nos julgam, temos medo da exclusão, temos medo de perder o emprego, se a nossa opinião foge à norma. A norma transformou-se na nova polícia política.

A repressão não é física, é psicológica e somos nós que a infligimos. Não estaremos nós perante a ditadura da estabilidade social, da não conflitualidade, do bom senso? Haverá forma mais eficaz de controlo que a pressão social e a auto-censura?