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quinta-feira, dezembro 20, 2007

Medo e controlo


«A sociedade, num futuro muito próximo, reduzirá o seu já limitado espaço de liberdade a uma instância insistentemente policiada. Não haverá sociedade como intervenção cultural, relação com o contrário, subdivisão de grupos de interesses, coexistência de sinalizações alternativas. Ser continuamente vigiado liquida o fundamento das instituições democráticas, o qual oscila entre o tratamento igualitário e o tratamento diferenciado. Impossível escapar ao reconhecimento de que caminhamos para uma nova e diferente ditadura, dissimulada em leis de "segurança", de "ordem" e de "autoridade". Não há lugar para o exercício das "referências", porque se deixou de admitir a alteridade. Uma das características sociais reside no direito do indivíduo a não ser "massa", e a recusar a rigidez identitária que a vigilância (pelo medo que lhe subjaz) sugere, impõe e inculca.


Não sorria. Está a ser filmado.»


Baptista Bastos, “A instrução do Medo” in DN Online


Estamos a cair numa sociedade controlada pelo medo, uma nova forma de ditadura que anula a diferença e as vozes críticas. Quer seja o medo pela vigilância, quer seja o medo de perder a estabilidade económica, de perder o emprego. Para além das câmaras de vigilância, existe ainda a delação e até a obrigatoriedade das empresas de telecomunicações guardarem por 2 anos, o registo dos sites que consultamos. Medo e controlo, é óbvio...

quinta-feira, agosto 30, 2007

Medo

Quem dorme à noite comigo?

É meu segredo, é meu segredo!

Mas se insistirem lhes digo.

O medo mora comigo,

Mas só o medo, mas só o medo!


E cedo, porque me embala

Num vaivém de solidão,

É com silêncio que fala,

Com voz de móvel que estala

E nos perturba a razão.

(...)


Reinaldo Ferreira

domingo, julho 01, 2007

Medo e Controlo

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Os recentes episódios “Fernando Charrua” e “Maria Celeste Cardoso” são exemplos evidentes das novas formas de controlo social nas sociedades globalizadas. Pergunto-me quantos funcionários públicos, num contexto de avaliação de desempenho e ameaçados pelo quadro de excedentes, não pensarão duas vezes antes de emitir uma critica ao governo ou qualquer outra opinião politica divergente. É uma espécie de ameaça psicológica velada, em que os alvos são as mais básicas necessidades humanas, como a manutenção do emprego que garante a sobrevivência do próprio e da família. Não há forma mais eficaz de garantir o silêncio e o conformismo, que jogar com a vida profissional das populações, num contexto de precariedade laboral e desemprego.


O medo instala-se não por ameaça de violência física, mas por chantagem psicológica, que leva o indivíduo à auto-censura. Nos regimes totalitários a censura e o controlo social eram visíveis, estavam estampados no rosto da polícia politica ou do censor de lápis azul em punho. Actualmente isso não é necessário, as formas de manipulação são dissimuladas e rapidamente interiorizadas pela sociedade. A ajudar também estão os apelos ao consumismo e ao materialismo, que são distracções muito convenientes, mas isso fica para desenvolver noutro post...


A verdade é que sociedades assustadas, oprimidas, inseguras e pouco esclarecidas são mais fáceis de controlar. Não será por isso que o nosso governo tenta “reformar” a saúde, a educação, a legislação laboral e tenta vender a ideia da flexisegurança? Porque é que todos os dias vemos, escapar das nossas mãos mais direitos e garantias e nos sentimos cada vez mais inseguros? Quanto mais inseguros nos sentimos, mais pensamos na necessidade de garantir alguma estabilidade. Temos medo, pensamos duas vezes antes de falar. O silêncio e a passividade surgem como a melhor das alternativas.


Tudo isto preocupa-me e muito… não é esta a sociedade que eu quero…


quarta-feira, janeiro 03, 2007

Até que ponto, somos efectivamente livres?

«Ausência de excessos, mediania em tudo, limitações legitimadas pelos «costumes», quer dizer, pela própria coesão da sociedade civil — tudo isto que era sustentado pelo regime de Salazar é hoje suportado pela norma única invisível do bom senso. Não há outra via. O medo, de perder todos os benefícios materiais que a entrada na União Europeia proporcionou, enxertou-se no sedimento de temor que já existia, transformando-o. Nasceu um novo objecto em que se investiu, inconscientemente, o medo do medo, o pequeno terror, a exclusão, o próprio terror de ser excluído, ou de vir a ser objecto de conflito (que comporta a ameaça de exclusão). Ameaça que existe disseminada no interior do real, sem que se saiba quem é o responsável, sem que o real se desrealize. É pois sempre mais conveniente continuarmos a não assumir responsabilidades, a não afrontar opiniões contrárias, a fugir aos problemas e a não pensar mais além das soluções que entram no quadro de todas as integrações. Sobretudo, recusar os conflitos.»


José Gil – Portugal, hoje: o medo de existir. Lisboa, Relógio de Água, 2004. p. 129-130.

Será que somos livres só porque vivemos em democracia? Não existe censura, não existe polícia política, não há um regime ditatorial que exerça uma coerção violenta sobre a nossa forma de agir... A agressão à nossa liberdade mudou de forma, somos coagidos pela norma social e pelo politicamente correcto. Temos medo dos olhares que nos julgam, temos medo da exclusão, temos medo de perder o emprego, se a nossa opinião foge à norma. A norma transformou-se na nova polícia política.

A repressão não é física, é psicológica e somos nós que a infligimos. Não estaremos nós perante a ditadura da estabilidade social, da não conflitualidade, do bom senso? Haverá forma mais eficaz de controlo que a pressão social e a auto-censura?