Votar ou não votar
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Vamos pensar em casos concretos de eleições com uma elevada taxa de abstenção. Algum governo veio dizer "ai que temos de repensar a democracia e a forma como fazemos política"ou "vamos passar a ser sérios e a cumprir as nossas promessas, senão os cidadãos não votam"? Nenhuma alteração de fundo foi levada a cabo. E porquê? Porque ninguém vai interpretar uma não posição. É como uma pergunta a que se responde com o silêncio. Alguém vai interpretar o silêncio como uma crítica, ou vai considerá-lo um consentimento ou uma cumplicidade?
Não será a abstenção uma forma de renunciar ao direito de participação, abdicar da nossa voz ou questionar a própria democracia? A democracia não tem o seu fundamento no voto? Não votar, não é questionar uma forma específica de fazer democracia, é recusar qualquer tipo de democracia. É uma rejeição do direito de escolha. Se eu não me quero pronunciar, estou a deixar que outros decidam por mim. Abdicar do direito de voto é abdicar de um regime que ouça a minha opinião, é permitir que qualquer politica não precise de legitimação. Não é abrir a porta a regimes ditatoriais que não admitem a legitimação política pelo voto?
Eu pessoalmente recuso-me a desistir da democracia abdicando do meu direito de voto. É um regime imperfeito, com muitos vícios e injustiças, que exige grandes mudanças no sentido da equidade, da justiça social e da seriedade política. Mas acredito que as nossas escolhas vão motivar essas reformas. E do poder de escolha, da nossa voz não devemos abdicar...