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domingo, maio 02, 2010

Valores ...



Valores do Séc. XXI por Quino

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Entre o branco e o preto, há uma vasta escala de tons de cinzento

Confesso que não gosto de me pronunciar sobre casos, em que não consigo conhecer com segurança todos os factos. Não gosto de julgamentos apressados. Chocam-me os radicalismos, chocam-me os extremos. Já ouvi pessoas criticarem ferozmente os pais de “Esmeralda” porque provavelmente compraram a criança à brasileira, outros disseram que o pai biológico só está interessado nos 30 mil euros de indemnização, porque até está desempregado.

Como se mede e avalia o egoísmo ou inversamente, como se mede e avalia o amor verdadeiro e desinteressado?

Temos um pai biológico que duvidou da sua paternidade, nem vou especular sobre os motivos dessa dúvida. Mas duas certezas existiam, ele manteve de facto uma relação sexual não protegida e por isso haveria sempre uma probabilidade de ele, ser de facto o pai. Ele escolheu rejeitar essa probabilidade, nesse momento a paternidade não lhe provocou qualquer simpatia. Foi uma escolha e as nossas escolhas têm sempre consequências.

A mãe biológica não tendo emprego, nem condições para educar a criança, concorda em abdicar da sua maternidade. Um casal decide adoptar. E até aqui tudo parece lógico. Excepto a parte em que se verifica que o processo de adopção não foi legal. E aqui, entra uma questão que eu ainda não vi ninguém colocar. Porque é que de um caso em que existe uma vontade expressa de regularizar uma adopção, de ambas as partes (recordo que o pai biológico, neste momento recusava a paternidade), resulta um processo ilegal? Quem prestou aconselhamento jurídico a este casal? Onde estava a segurança social, existiu algum contacto, que tipo de apoio? Quem pode afirmar com segurança que existiu desleixo do casal adoptivo, quando pode ter havido desinformação ou falta de informação?

Mas a “Esmeralda” precisava de um pai e de uma mãe, não podia esperar que se deslindassem burocracias, legalidades e ilegalidades. E teve-os, para ela, eles existem, mesmo se juridicamente não o são. Mesmo que legalmente, a sua custódia venha a ser atribuída ao pai biológico que nunca conheceu.

Quem teve dúvidas, quem fez escolhas? É justo que as duvidas e escolhas erradas de um pai, por muito legitimas que fossem, venham retirar à criança os pais que ela reconhece como seus? Outra questão é legitimo que os pais adoptivos impeçam o pai biológico de ver a criança e fujam à justiça? O que está aqui em jogo? O orgulho de quem quer deter a paternidade, com se de um bem se tratasse? Ou o amor verdadeiro e desinteressado de quem pensa que a razão da felicidade da menina está do seu lado?

Estará o egoísmo e o orgulho só de um lado e o amor desinteressado exclusivamente no outro? De um lado, os bons, do outro os maus? Não haverá entre o branco e o preto, uma vasta escala de tons de cinzento?

Imagem: "O julgamento do rei Salomão" de Rubens

domingo, janeiro 21, 2007

A moral segundo Kohlberg

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«A teoria de julgamento moral de Kohlberg é rica pelo facto de postular uma sequência universal, da qual os estágios mais altos (5 e 6) constituem o que ele chamou de pensamento pós-convencional. Ao contrário da maior parte das explicações sociais e psicológicas, que consideram a interiorização de valores da sociedade como o ponto terminal do desenvolvimento moral (perspectivas de Durkheim, Freud e do behaviorismo), para Kohlberg a maturidade moral atingida quando o indivíduo é capaz de entender que a justiça não é a mesma coisa que a lei; que algumas leis existentes podem ser moralmente erradas e devem, portanto, ser modificadas. (…)

O pensamento pós-convencional, enfatizando a democracia e os princípios individuais de consciência, parece uma norma essencial da cidadania.


Assim, segundo o autor, existem três níveis da moralidade. O primeiro chamou de nível pré-convencional que se caracteriza pela moralidade individualista, onde "as regras morais derivam da autoridade, são aceites de forma incondicional e a criança obedece a fim de evitar castigo ou para merecer recompensa". O indivíduo deste estágio, define a justiça em função de diferenças de poder e status, sendo incapaz de diferenciar perspectivas nos dilemas morais. (…)


O segundo nível, classificado por Kohlberg, foi chamado de nível convencional, no qual se valoriza o reconhecimento do outro e inclui dois estágios: o da moralidade da normativa interpessoal e o da moralidade do sistema social. No primeiro começa-se a seguir as regras para assim garantir um bom desempenho do papel de "bom menino" e de "boa menina", percebe-se uma preocupação com as outras pessoas e seus sentimentos. Já no segundo estágio, o indivíduo "adopta a perspectiva de um membro da sociedade baseada em uma concepção do sistema social como um conjunto consistente de códigos e procedimentos que se aplicam imparcialmente a todos os seus membros" (DÍAZ-AGUADO e MEDRANO, 1999, p. 31).


O terceiro nível foi chamado de nível pós-convencional, considerado por Kohlberg, como o mais alto da moralidade, pois o indivíduo começa a perceber os conflitos entre as regras e o sistema, o qual foi dividido entre o estágio da moralidade dos direitos humanos e o estágio dos princípios éticos universais. Neste nível, os comportamentos morais passam a ser regulados por princípios.


"Os valores são independentes dos grupos ou das pessoas que os sustentam, porque são princípios universais de justiça: igualdade dos direitos humanos, respeito à dignidade das pessoas, reconhecimento de que elas são fins em si e precisam ser tratadas como tal"»


Fonte: WIKIPÉDIA

sábado, janeiro 06, 2007

E viva a civilização ocidental...

«O Ocidente não é um sistema político-cultural homogéneo. O que se exprime pela voz dos EUA e seus aliados (cada vez menos em número e com menor grau de convicção) é um Ocidente agonizante e sem norte; incapaz de agir de acordo com os princípios e valores que pretendeu seguir e impor aos seus inimigos, parece-se cada vez mais com estes. Barbarizado na luta contra o que designa por barbárie, transforma-se no mal que desenha os eixos do mal, reduz a força dos princípios ao princípio da força e acaba por imolar-se no sangue que faz derramar.

O julgamento de Saddam Hussein ficará para a história como uma das mais grotescas caricaturas da justiça internacional. (…) Foi uma justiça circense, uma farsa como a da justiça revolucionária que Saddam accionou (numa época em que era apoiado pelos EUA) para julgar os implicados no atentado à sua vida. Onde está a diferença ocidental, do primado do Direito e das garantias de uma justiça independente?

(…) Cabe, pois, perguntar porque se perdeu a oportunidade de realizar um julgamento (…) que reforçasse a justiça internacional e consolidasse o consenso global sobre a punição dos crimes contra a humanidade. Porque o ocidente bushiano é constituído pela mesma fraqueza que comanda o extremismo do bombista suicida. Reclamando para si da mesma inocência sacrificial que o dispensa de distinguir entre culpados e inocentes, não tolera mediações, negociações, compromissos, enfim, a paz e acima de tudo, não reconhece a dignidade do outro, do outro que mesmo culpado, tem direito a um julgamento justo.

(…) Humilhado pela morte de um irmão (amado ou odiado) em dia sagrado, o povo muçulmano tem toda a razão para crer que o sangue derramado é inocente. A vingança de Saddam é ele ser um ditador sanguinário com o direito, conferido pelos seus algozes, a ser reclamado por muitos como herói ou mártir. Por isso não é por Saddam que os sinos dobram. Os sinos dobram pelo Ocidente bushiano

Boaventura de Sousa Santos, “O espectro de Saddam” in Revista Visão de 4/01/2007


Desculpem a longa citação, mas gosto de citar quem diz o que eu penso, muito melhor que eu. Ao que está dito, só acrescento que me choca este retrocesso civilizacional. Seria de esperar um progresso de civilidade, em que a moralidade e a ética pesassem nas decisões políticas. Não, descemos ao nível daqueles que condenamos. Somos básicos, olho por olho, dente por dente.

As milhares de vítimas de Saddam, que ninguém esqueça que pereceram numa época em que o regime era apoiado pelos EUA, os 12320 civis iraquianos e os 3000 soldados americanos, mortos desde o inicio da guerra no Iraque, sentir-se-ão vingados, deixam de ser um peso na consciência e na historia da Humanidade? Não, essa memória, não se apaga, porque se vinga.

E depois o espectáculo da condenação, orquestrado pelos média, divulgado sem pudor. Porquê pensar nas consequências? Porquê pensar que se transformou um ditador odiado, num mártir agora adorado pelo mundo islâmico? Porquê pensar nas crianças que iriam assistir a tudo e iriam perder as suas vidas porque acharam que se trata de uma brincadeira, de uma banalidade?

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Humanidade, convicções e impunidade

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Chama-se “Children of Men” (“Os Filhos do homem”) de Alfonso Cuarón e mostra a debilidade da condição humana e das nossas convicções. A humanidade em 2027 debate-se com o problema da infertilidade e possível extinção, caindo num estado de total anarquia. É impressionante ver que as pessoas passeiam as suas vidinhas pacatas indiferentes às jaulas onde estão seres humanos como eles, só porque são emigrantes ilegais... e o grupo de activistas que luta contra esta situação, também acaba por abdicar das suas convicções.

Este filme explora a fraqueza da condição humana e a desculpabilização dos actos que hostilizam e excluem uma maioria, para que alguns eleitos mantenham os seus privilégios. A condição humana surge-nos em toda a sua complexidade. Todo o tipo de actos hediondos vão sendo cometidos e admitidos.

O filme é um excelente pretexto para discutir até que ponto o ser humano, abdica de toda a ética em situações extremas. A impunidade que vemos hoje em dia na nossa sociedade, assume em 2027 ainda maior protagonismo. Se hoje a nossa sociedade globalizada admite que se ganhem 342 milhões de euros com o tráfico de seres humanos, ou que 2% da população detenham 50% da riqueza mundial... será assim tão descabido que no futuro, milhares de emigrantes permaneçam enjaulados, perante a passividade daqueles que têm o privilegio de uma vida confortável?

E nós, o que faríamos? Escolhíamos uma vidinha confortável? Será que nos juntávamos ao grupo terrorista que reage à situação dos emigrantes, mas que compromete os seus próprios ideais, quando os fins justificam os meios? É muito cómodo e ingénuo, pensar que faríamos o que está certo... Parece-me que ninguém pode dizer com segurança, até que ponto se mantém fiel às suas convicções em situações limite. É uma questão que coloco a mim própria muitas vezes e sobre a qual só consigo especular.


«He who fights with monsters might take care lest he thereby become a monster. And if you gaze for long into an abyss, the abyss gazes also into you.»


Friedrich Nietzsche