sexta-feira, junho 18, 2010
quarta-feira, outubro 21, 2009
Saramago: Religião e espírito crítico

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Descritores: Democracia, Literatura, Religião
quarta-feira, dezembro 03, 2008
Negro dentro de mim...

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Descritores: About me, Angústia existencial, Literatura
terça-feira, outubro 28, 2008
Labirinto

Marguerite Yourcenar, "A obra ao negro", Ed. D. Quixote, p. 88.
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Descritores: Angústia existencial, Literatura
quarta-feira, setembro 24, 2008
Um Homem na multidão: para V.A.

Só eu tinha parado, mas inutilmente. O homem não me olhava. Quis fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. Era como se a sua solidão estivesse para além de todos os meus gestos, como se ela o envolvesse e o separasse de mim e fosse tarde de mais para qualquer palavra e já nada tivesse remédio. Era como se eu tivesse as mãos atadas.
‘O Homem’, em ‘Contos Exemplares’ de Sophia de Mello Breyner Andresen
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Descritores: Angústia existencial, Literatura, Solidão
domingo, setembro 07, 2008
Por momentos...
Ser feliz por momentos é algo de que não se deve ter vergonha. Momentos que o fim torna ridículos. A felicidade, como o amor, é um sentimento ridículo. Mas a felicidade, como o amor, só é ridícula quando vista de fora. A felicidade, como o amor, só é ridícula antes ou depois de si própria. A felicidade são momentos que, no seu presente fugaz, são mais fortes do que todas as sombras, todos os lugares frios, todos os arrependimentos. Ser feliz em palavras que, durante essa respiração breve, mudam de sentido. E nem a forma do mundo é igual: o sangue tem a forma de luz, as pedras têm a forma de nuvens, os olhos têm a forma de rios, as mãos têm a forma de árvores, os lábios têm a forma de céu, ou de oceano visto da praia, ou de estrela a brilhar com toda a sua força infantil e a iluminar a noite como um coração pequeno de ave ou de criança.
Momentos que o fim torna ridículos. Momentos que fazem viver, esperando por um dia, depois de todas as desilusões, depois de todos os arrependimentos e fracassos, em que se possam viver de novo, para de novo chegar o fim e de novo a esperança e de novo o fim. Não se deve ter vergonha de se ser feliz por momentos. Não se deve ter vergonha da memória de se ter sido feliz por momentos.
José Luís Peixoto, "Uma casa na escuridão", p. 46-47.
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Descritores: Angústia existencial, José Luís Peixoto, Literatura
quarta-feira, novembro 14, 2007
Falta qualquer coisa
[...] numa tacinha, achamos a nossa vida de hoje e qual o sentido da nossa vida de hoje, o que fazemos com ela, dias atrás de dias, o supermercado, o jantar no restaurante ao domingo, a maçada das crianças às vezes e não era bem isto que nos apetecia, não era bem isto o que tínhamos desejado, falta qualquer coisa, onde é que erramos, o que falhámos, não somos infelizes mas também não temos o que secretamente ansiávamos, os anos vão passando
(- o que tu cresceste)
E não temos o que secretamente ansiávamos, de vez em quando momentos tão vazios, de vez em quando, mesmo no meio dos outros, uma solidão tão grande, um desamparo, uma sensação de queda, esta dificuldade em respirar, porque a mobília sufoca, que vem e desaparece e volta, de vez em quando, sem motivo, vontade de chorar, não lágrimas grandes, não soluços, uma coisa vaga, uma pergunta
- E agora?
António Lobo Antunes “Nada de especial” in Visão de 8 de Novembro de 2007
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Descritores: Angústia existencial, Literatura
quarta-feira, junho 06, 2007
"Cinco livros, Cinco blogs…"
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O blog “A Dreamer’s space” lançou-me o desafio de nomear 5 livros que tenha lido e depois lançar esse desafio a outros cinco bloggers. A ideia parece-me interessante, nós também somos aquilo que lemos… E estaremos a promover a leitura e a despertar a curiosidade daqueles, que ainda não tiveram o prazer de ler estes nossos livros. Ou então, não…
Voltando ao desafio, é uma tarefa muito díficil escolher 5 livros... Bem, acho que o critério vai ser... os mais inesperados de entre os meus preferidos. Então cá ficam eles:
Albert Camus – “O Estrangeiro”
Eça de Queiroz – “Os Maias”
Virgil Gheorghiu – “A 25ª Hora”
José Luís Peixoto – “Antídoto”
Isabel Allende – “O meu país inventado”
E agora, lanço gentilmente o mesmo desafio aos cinco excelsos blogs:
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terça-feira, maio 29, 2007
Nada no horizonte
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«Estava realmente perdido de todas as maneiras. Passara a vida a sonhar um Portugal melhor numa península melhor e num mundo melhor. Para que essa aspiração fosse verdade, julgava que bastaria o desaparecimento das tiranias que aqui e ali oprimiam os povos.
Ora a verdade é que os tiranos carismáticos, um a um, iam desaparecendo (…) e, quanto mais parecia debelada, mais a opressão se enraizava no corpo social e mais sólida e subtilmente se implantava nele. E olhava sem antolhos os horizontes promisssores da democracia. Cada vez se tornavam menos nítidos no meu desespero.»
Miguel Torga “A criação do mundo”
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quarta-feira, novembro 15, 2006
Capricórnio a seus pés
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A noite transforma os sons, os gestos e as palavras. Os sons que pontilham aquilo que ouço seriam iguais, aos que durante o dia, se misturam uns com os outros. No entanto, aqui, são únicos e nocturnos. Os gestos são únicos e nocturnos. Quase em silêncio, digo: amor. Diante de mim essa palavra existe durante muito tempo na noite, entre os sons, entre os gestos. Existo eu e existem as paredes da casa. A solidão. Reflectida pelo espelho, começo a despir-me. (...) No espelho, a minha barriga, o meu peito e os meus ombros são como estivessem em carne viva. Tu nunca saberás que sou um monstro. A ternura e o desejo não são suficientes para vencer aquilo que é invencível.
Como o veneno, como Capricórnio, como o Inverno, suporto o segredo do que descubro sozinha. A pele do meu peito transparente, demasiado fina, é como os meus olhos a mostrarem tudo o que escondo. Eu sou um monstro. Como o veneno, como Capricórnio, como o Inverno, o meu caminho é inevitável. Eu sou um monstro. Nunca ninguém me passará os dedos pelos ombros. Os lábios. Nunca ninguém me fará carícias nos seios. Beijos. Eu sou um monstro. No meu quarto, neste quarto, continuarei a esperar que adormeça antes de me despir. Tu continuarás longe a imaginar-me sem entender. E a noite continuará para sempre reflectida neste espelho.
José Luís Peixoto, “Capricórnio a seus pés” in Antídoto. Lisboa: Temas e debates, 2003. pp. 47-48.
Imagem: Girl before a mirror de Pablo Picasso, 1932
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Descritores: Angústia existencial, José Luís Peixoto, Literatura