quarta-feira, julho 28, 2010

Por falar em Constituição...

Estamos a chegar à Silly Season, mas não se pode dizer que exista falta de tema de conversa. Por cá discute-se a Constituição e a nível internacional, ficamos a saber que nos EUA, esse expoente máximo do mundo livre, executou civis sem apelo, nem agravo à margem da lei e dos direitos humanos. Este segundo tema, ficará para um outro post. Falemos do que se passa por cá. Não deixa de ser interessante, que se discuta uma Constituição que já de si não é respeitada. Olhando para os níveis de pobreza e de desemprego que temos, alguém pode afirmar que, as garantias que a Constituição dá aos cidadãos em termos de acesso à saúde e à educação e à protecção do emprego, são cumpridas? Obviamente que não, logo também não pode ser o bode expiatório dos males da economia e da falta de desenvolvimento sustentável do país.

É esta a ideia que o PSD tenta vender, disfarçando mal os verdadeiros interesses de lobbies económicos que tenta salvaguardar. A culpa é da Constituição, claro… e dos seus laivos de socialismo e dos despedimentos por justa causa! Se nós temos os números de desemprego que temos num país em que só se pode despedir por justa causa, imagine-se o que não era com despedimentos por “razão atendível”… Os portugueses estão mesmo a precisar de ficar sem qualquer protecção social, entregues aos caprichos do mercado (ainda mais do que já estão…). Ainda por cima, numa altura em que está mais que demonstrado e provado o que acontecem quando se deixa o marcado entregue a si próprio.

Se os portugueses estivessem minimamente atentos, perceberiam nesta jogada de alteração da Constituição, os interesses perigosos que Passos Coelho alimenta. Iam pensar duas vezes, antes de ver neste PSD uma alternativa de governo. Se existem todos os motivos para não gostar de Sócrates e da forma como desmantela o Estado Social que nos resta, também não se pode reconhecer alternativa naquele que desmantela, demole e distribui os despojos pelos amigos. Deve ser para situações destas, que o povo tem a expressão «Venha o Diabo e escolha!»

quarta-feira, julho 14, 2010

Um vencedor sem prémio milionário porque não joga à bola...

«Today Portugal got its first stage win in the Tour de France since Azevedo helped his US Postal and Discovery Channel team-mates in the 2004 and 2005 time trials. The top six in stage 10 is: 1. Sergio Paulinho (POR) RSH - 179km in 5h10’56" 2. Vasili Kiryienka (BLR) GCE at same time 3. Dries Devenyns (BEL) QST at 1’29" 4. Pierre Rolland (FRA) BTL at 1’29" 5. Mario Aerts (BEL) OLO at 1’29" 6. Maxime Bouet (FRA) ALM at 3’20"»

Não vai receber 700 mil euros, porque não é treinador de futebol, mas fez mais que chegar aos oitavos final de um campeonato do mundo. Ganhou uma dura etapa nos Alpes, na competição velocipédica mais prestigiada do Mundo, depois do trabalho que realizou para os colegas de equipa (entre eles Lance Armstrong) nos dias anteriores. À medalha de prata, soma uma vitória no Tour, algo que só três portugueses tinham conseguido. Não é para qualquer um, sobretudo com a humildade que ele demonstra no final, a pensar na equipa e não nele, e que fazia falta a outros que nos vendem como heróis... isto sim, tem muito de heroíco.


sexta-feira, julho 09, 2010

Austeridade igual a Neoservidão?

Desculpem voltar à carga com as criticas à política de austeridade que nos querem impor à força. Quanto mais artigos acerca de politica económica leio, mais me convenço que estamos a caminhar para uma situação dramática de recessão e regressão democrática. Querem convencer-nos que a austeridade é a via para a prosperidade, implicando cortes na despesa pública e o aumento de impostos, cortando salários e benefícios sociais. É um verdadeiro desmantelamento do Estado social e das garantias conquistadas no passado como o direito à educação, a cuidados de saúde, a apoio no desemprego, na doença e na reforma. Vendem-nos esta ideia como necessária, mesmo contra as vozes de ilustres economistas que eu já tenho citado aqui, (hoje é a vez de Michael Hudson), que alertam para uma lógica auto-destrutiva que atira as economias para a recessão, reduzindo a receita e aumentando o défice cada vez mais.

É questão para perguntar quem vende está ideia, a resposta é simples são os bancos centrais independentes, todo um sistema financeiro que ninguém elegeu e cujo negócio é a “dívida”. Seja dos Estados, seja dos cidadãos, a Banca lucra com o endividamento, empresta e recolhe esse crédito com juros elevados. Como nem uns nem outros têm capacidade de pagar essa divida, o sistema financeiro tenta absorver o que a economia produz e que devia ser empregue em investimento, emprego e despesas sociais. O nível de endividamento torna-se insustentável, e os governos insistem em injectar mais dinheiro na Banca. A grande consequência é que a Banca faz lobbie para impor este tipo de politicas:


As políticas de austeridade são incompatíveis com os valores de equidade e justiça social em que assentam as bases da democracia, desde o séc. XVIII, colocam o próprio regime político em causa. Assim um problema económico, torna-se um problema de legitimidade democrática. O sistema só tem sido aceite porque existe uma manipulação da opinião pública que vende a ideia de pobreza como caminho para a prosperidade:


Até no séc. XVIII era consensual a ideia de que a riqueza devia ser criada pelo trabalho e esforço pessoal, e não pela obtenção de privilégios ou manipulação. Michael Hudson fala de um golpe de estado financeiro ao qual a União Europeia vai sucumbir: