terça-feira, abril 06, 2010

Premiar uns, retirar cuidados de saúde a outros

Uma semana e meia de ausência, levam-me a escrever um daqueles textos abrangentes, sobre uma semana marcada por dois momentos bastante reveladores do lugar a que o Estado relegou o cidadão comum. Estou a falar do encerramento do centro de saúde de Valença, que é apenas um exemplo do que tem sido feito para retirar serviços e cuidados de saúde fundamentais aos cidadãos, em nome de critérios economicistas. O único garante do acesso público à saúde, demite-se da sua função. Cada vez mais é exigido ao cidadão que contribua com sacrifícios e aumento de impostos, mas depois não existe a contrapartida do Estado. E com isto, não critico a existência do Estado, mas sim a forma como está a ser gerido e as bases em que assenta. Não se pode assegurar um serviço fundamental de cuidados de saúde, porque não é rentável, mas pode-se por exemplo canalizar uma verba idêntica ou superior para o prémio de um gestor público.

Não é questionado um prémio milionário a um gestor público de uma empresa estatal que detém o monopólio do mercado, mas já existe outro rigor para eliminar um centro de saúde. O que me leva ao outro momento da semana, que é a divulgação do valor do premio anual de António Mexia. A justificação é a concretização de objectivos. Ora deve ser muito difícil gerir com sucesso uma empresa estatal como a EDP, que domina sem concorrência o mercado e pratica os preços mais elevados da Europa. Para já não falar no facto de ser questionável, que um gestor já pago mensalmente para executar uma gestão eficaz, seja ainda contemplado com um prémio por fazer o que lhe compete. Paga o Estado algum prémio ao varredor de rua que executa a sua profissão com zelo e competência, cumprindo os seus objectivos?

Como se não fosse suficiente a fraca fundamentação do prémio, ainda tivemos que assistir a uma jogada de propaganda patética com o programa "InovCity" em Évora, numa tentativa de mostrar serviço e desviar as atenções do essencial. E o essencial é gestão do bem público com critérios economicistas e não a pensar no interesse geral. A maior das ironias é que António Mexia, fez parte do grupo "Compromisso Portugal", que exigia a saída do Estado do capital de empresas como a EDP, afinal o garante do prémio chorudo que recebe agora. Tudo isto torna muito díficil perceber porque se encerram serviços públicos de um lado e se premeiam gestores ex-ministros, sentados em monopólios, no outro...

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