sexta-feira, setembro 09, 2011

Proezas austeritárias sobre a vida e a morte

São muitas as proezas austeritárias deste governo, mas na área da saúde são especialmente gravosas porque influenciam a vida e a morte. Depois de ouvirmos o ministro da saúde anunciar a redução do orçamento para transplantação de órgãos, comprometendo a continuidade desta pratica que literalmente salva vidas, ficamos perplexos. Não só pela desumanidade, mas pelo absurdo porque um transplante a longo prazo poupa dinheiro ao SNS. Mas de facto não nos consta que o ministro tenha formação em saúde. Já ouvimos testemunhos ou já presenciamos o atendimento hospitalar sob o signo da austeridade, não se fazem exames fundamentais porque isso tem custos, não se descobre a doença, não se cura, as pessoas ficam mais doentes ou em ultima instancia morrem.

Perante isto, não se esperam boas noticias. Hoje ficamos a saber que as pílulas e as vacinas contra o cancro do colo do útero, hepatite B e contra a estirpe do tipo B do vírus da gripe vão deixar de ser comparticipadas pelo Estado. Saberá o Sr. Paulo Macedo que o cancro do colo do útero é a segunda causa de morte entre mulheres dos 15 aos 44 anos na Europa e que todos os anos morrem em Portugal cerca de 300 mulheres com este tipo de cancro? Estamos a falar da vida e da morte.

Saberá o Sr. Ministro o papel fundamental da pílula na vida da mulher, não anti-conceptivo, mas como regulador do ciclo menstrual, do equilíbrio hormonal, podendo facilitar uma transição não problemática para a menopausa? Saberá alguma coisa da luta das mulheres pela sua emancipação, pelos seus direitos? Isto é um corte cego ou um preconceito ideológico? Pretende-se fomentar a abstinência sexual ou aumentar o aborto, já que estimular a natalidade é complicado se não há dinheiro para sustentar bebés...

Mais uma vez andamos entre a completa insensibilidade social, a desumanidade e o preconceito. Mas como sempre falta a propaganda. Neste caso... os centros de saúde continuam a distribuir gratuitamente estes fármacos. Claro que os dois milhões de portugueses sem medico de família e sem acesso a essas consultas sabem disso perfeitamente. Também sabem disso, os que tendo acesso e consulta, ouvem a resposta «não há». E sabem melhor ainda os que perdem dias ou tardes que lhes podem custar o trabalho, horas em filas, para conseguir consulta daí a 3 meses...

Ainda alguém duvida da estratégia de eliminação que eu falei no post anterior?

4 comentários:

Unknown disse...

É o preconceito Opus Dei na saúde. Creio que a eliminação das comparticipações na pilula e na vacina do papiloma humano são resultado de um preconceito puramente religioso.

E preparem-se que as cabeças do "não" à IVG já fervilham de ideias...

Anónimo disse...

Desde que descobri que, pelo menos no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos (não sei nos outros hospitais), os estrangeiros não legalmente residentes em Portugal - inclui imigrantes ilegais, mas também turistas - têm de pagar os tratamentos POR INTEIRO, soube que o SNS está perdido para sempre.
Para quem não tem noção do que significa pagar, por exemplo, uma cirurgia e consequente internamento, há um senhor francês que está a pagar a prestações uma conta de 20.000 euros. Sim, leram bem: VINTE MIL euros pelo tratamento de um Sistema de Saúde supostamente universal (?) e tendencialmente gratuito (???).
Solução: emigrar. Falo muito a sério.
Para viver num país não civilizado, mais vale um onde se tenha esperança que as coisas melhorem e se possa contribuir para isso (ex: Haiti, Moçambique, Guatemala).

Hopes disse...

Sim, são preconceitos ideológicos preocupantes de pessoas perigosas... Nunca a democracia esteve tão ameaçada. Mas também não é solução emigrar e este problema não é exclusivamente português. Não quero desistir deste país, os cidadãos vão saber recuperar a democracia e espero que comecem já a 15 de Outubro.

Anónimo disse...

Não tem só a ver com democracia, tem a ver com o modelo e as escolhas económicas que se fazem. Mesmo havendo ou sendo recuperada a democracia, essas escolhas têm impacto no futuro do país. Com ou sem democracia, os interesses económicos são reis - em Portugal acontece como em todos os países.
O que quero dizer com isto: Podemos rejeitar os que levam o país por esse caminho, mas muitas das coisas feitas agora tornam-se irreversíveis.
Para além disso, emigrar não tem de ser para sempre. É desistir do país, mas também esperar ardentemente que ele possa ser melhor para poder a ele voltar. É sentir que não se tem nenhum poder para mudar o rumo das coisas, nem sequer para que no futuro possa voltar a haver esse poder, esperando com todas as forças que esse sentimento esteja errado e que no futuro possa haver essa tal democracia recuperada...
Acima de tudo, desencanto. Mas não desistência.

(se fores ao meu blog, verás que mudei de pouso - sim, again... - de volta ao blogger, espero que de vez)