Proezas austeritárias sobre a vida e a morte
São muitas as proezas austeritárias deste governo, mas na área da saúde são especialmente gravosas porque influenciam a vida e a morte. Depois de ouvirmos o ministro da saúde anunciar a redução do orçamento para transplantação de órgãos, comprometendo a continuidade desta pratica que literalmente salva vidas, ficamos perplexos. Não só pela desumanidade, mas pelo absurdo porque um transplante a longo prazo poupa dinheiro ao SNS. Mas de facto não nos consta que o ministro tenha formação em saúde. Já ouvimos testemunhos ou já presenciamos o atendimento hospitalar sob o signo da austeridade, não se fazem exames fundamentais porque isso tem custos, não se descobre a doença, não se cura, as pessoas ficam mais doentes ou em ultima instancia morrem.
Perante isto, não se esperam boas noticias. Hoje ficamos a saber que as pílulas e as vacinas contra o cancro do colo do útero, hepatite B e contra a estirpe do tipo B do vírus da gripe vão deixar de ser comparticipadas pelo Estado. Saberá o Sr. Paulo Macedo que o cancro do colo do útero é a segunda causa de morte entre mulheres dos 15 aos 44 anos na Europa e que todos os anos morrem em Portugal cerca de 300 mulheres com este tipo de cancro? Estamos a falar da vida e da morte.
Saberá o Sr. Ministro o papel fundamental da pílula na vida da mulher, não anti-conceptivo, mas como regulador do ciclo menstrual, do equilíbrio hormonal, podendo facilitar uma transição não problemática para a menopausa? Saberá alguma coisa da luta das mulheres pela sua emancipação, pelos seus direitos? Isto é um corte cego ou um preconceito ideológico? Pretende-se fomentar a abstinência sexual ou aumentar o aborto, já que estimular a natalidade é complicado se não há dinheiro para sustentar bebés...
Mais uma vez andamos entre a completa insensibilidade social, a desumanidade e o preconceito. Mas como sempre falta a propaganda. Neste caso... os centros de saúde continuam a distribuir gratuitamente estes fármacos. Claro que os dois milhões de portugueses sem medico de família e sem acesso a essas consultas sabem disso perfeitamente. Também sabem disso, os que tendo acesso e consulta, ouvem a resposta «não há». E sabem melhor ainda os que perdem dias ou tardes que lhes podem custar o trabalho, horas em filas, para conseguir consulta daí a 3 meses...
Ainda alguém duvida da estratégia de eliminação que eu falei no post anterior?
4 comentários:
É o preconceito Opus Dei na saúde. Creio que a eliminação das comparticipações na pilula e na vacina do papiloma humano são resultado de um preconceito puramente religioso.
E preparem-se que as cabeças do "não" à IVG já fervilham de ideias...
Desde que descobri que, pelo menos no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos (não sei nos outros hospitais), os estrangeiros não legalmente residentes em Portugal - inclui imigrantes ilegais, mas também turistas - têm de pagar os tratamentos POR INTEIRO, soube que o SNS está perdido para sempre.
Para quem não tem noção do que significa pagar, por exemplo, uma cirurgia e consequente internamento, há um senhor francês que está a pagar a prestações uma conta de 20.000 euros. Sim, leram bem: VINTE MIL euros pelo tratamento de um Sistema de Saúde supostamente universal (?) e tendencialmente gratuito (???).
Solução: emigrar. Falo muito a sério.
Para viver num país não civilizado, mais vale um onde se tenha esperança que as coisas melhorem e se possa contribuir para isso (ex: Haiti, Moçambique, Guatemala).
Sim, são preconceitos ideológicos preocupantes de pessoas perigosas... Nunca a democracia esteve tão ameaçada. Mas também não é solução emigrar e este problema não é exclusivamente português. Não quero desistir deste país, os cidadãos vão saber recuperar a democracia e espero que comecem já a 15 de Outubro.
Não tem só a ver com democracia, tem a ver com o modelo e as escolhas económicas que se fazem. Mesmo havendo ou sendo recuperada a democracia, essas escolhas têm impacto no futuro do país. Com ou sem democracia, os interesses económicos são reis - em Portugal acontece como em todos os países.
O que quero dizer com isto: Podemos rejeitar os que levam o país por esse caminho, mas muitas das coisas feitas agora tornam-se irreversíveis.
Para além disso, emigrar não tem de ser para sempre. É desistir do país, mas também esperar ardentemente que ele possa ser melhor para poder a ele voltar. É sentir que não se tem nenhum poder para mudar o rumo das coisas, nem sequer para que no futuro possa voltar a haver esse poder, esperando com todas as forças que esse sentimento esteja errado e que no futuro possa haver essa tal democracia recuperada...
Acima de tudo, desencanto. Mas não desistência.
(se fores ao meu blog, verás que mudei de pouso - sim, again... - de volta ao blogger, espero que de vez)
Enviar um comentário