Por ser 25 de Abril...

Porque é que até as pessoas mais idealistas, em posição de poder, seja no sector privado seja no público, se perceberem que podem tirar benefício próprio da função que têm, apropriam-se do que podem. Abdicam de qualquer ideal ético ou moral e delapidam o bem público, sem se preocupar com as consequências que daí advêm para todos. Assim surgem as desigualdades escandalosas de salários milionários, prémios de produtividade, chorudas reformas para uns e para outros nem um emprego, ou um salário que garanta condições mínimas de dignidade. Sendo que isto, num país que não é rico estrangula as possibilidades dos que não estão em posição de poder. Neste momento, a maioria da população tem apenas liberdade para lutar por níveis mínimos de sobrevivência, a mobilidade social ou económica está-lhes vedada. As portas que Abril abriu estão há muito fechadas para essa extensa maioria.
Estou a lembrar-me de uma reportagem que passou na SIC uns dias atrás, sobre a liberdade. Entrevistavam-se estrangeiros que vivem em Portugal, para saber o que pensavam desse conceito visto pelos portugueses. Chamou-me a atenção uma senhora inglesa que disse que em Portugal, não existe essa mobilidade social, que referi há pouco. Um outro entrevistado, falou na nossa persistência em confundir competência com chico-espertismo. É esse chico-espertismo que leva a ética e a noção de bem comum, seja substituída pelo enriquecimento individual a qualquer custo.
Os ideais de Abril só poderão imperar, quando o sistema económico e social sofrer uma espécie de moralização, que tem que começar pelas pessoas em cargos de poder. É uma transformação das mentalidades que só terá lugar, quando determinados abusos de posição dominante forem impedidos e com uma forte aposta na educação e na cultura cívica. Está nas mãos do poder político moralizar o sistema e transformar mentalidades. Se os cidadãos perceberem que essa vontade política existe, também se habituarão a pensar no bem comum, como parte fundamental do seu bem individual e talvez aí o nosso profundo problema de mentalidade colectiva seja atenuado.
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