sábado, abril 25, 2009

Por ser 25 de Abril...

Por ser 25 de Abril, vou fazer uma reflexão e não um lamento. Já todos temos a noção que a liberdade e o regime democrático não trouxe as mesmas liberdades, direitos e garantias para todos. Já percebemos que por mais que trabalhem ou por mais mérito que tenham, vastas camadas da população estão irremediavelmente excluídas de posições de poder, político ou económico. Vale a pena pensar porque isto acontece. Não será um problema profundo de mentalidade colectiva? Até que ponto temos noção do que é realmente o bem comum e percebemos o conceito de cidadania?

Porque é que até as pessoas mais idealistas, em posição de poder, seja no sector privado seja no público, se perceberem que podem tirar benefício próprio da função que têm, apropriam-se do que podem. Abdicam de qualquer ideal ético ou moral e delapidam o bem público, sem se preocupar com as consequências que daí advêm para todos. Assim surgem as desigualdades escandalosas de salários milionários, prémios de produtividade, chorudas reformas para uns e para outros nem um emprego, ou um salário que garanta condições mínimas de dignidade. Sendo que isto, num país que não é rico estrangula as possibilidades dos que não estão em posição de poder. Neste momento, a maioria da população tem apenas liberdade para lutar por níveis mínimos de sobrevivência, a mobilidade social ou económica está-lhes vedada. As portas que Abril abriu estão há muito fechadas para essa extensa maioria.

Estou a lembrar-me de uma reportagem que passou na SIC uns dias atrás, sobre a liberdade. Entrevistavam-se estrangeiros que vivem em Portugal, para saber o que pensavam desse conceito visto pelos portugueses. Chamou-me a atenção uma senhora inglesa que disse que em Portugal, não existe essa mobilidade social, que referi há pouco. Um outro entrevistado, falou na nossa persistência em confundir competência com chico-espertismo. É esse chico-espertismo que leva a ética e a noção de bem comum, seja substituída pelo enriquecimento individual a qualquer custo.

Os ideais de Abril só poderão imperar, quando o sistema económico e social sofrer uma espécie de moralização, que tem que começar pelas pessoas em cargos de poder. É uma transformação das mentalidades que só terá lugar, quando determinados abusos de posição dominante forem impedidos e com uma forte aposta na educação e na cultura cívica. Está nas mãos do poder político moralizar o sistema e transformar mentalidades. Se os cidadãos perceberem que essa vontade política existe, também se habituarão a pensar no bem comum, como parte fundamental do seu bem individual e talvez aí o nosso profundo problema de mentalidade colectiva seja atenuado.

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