terça-feira, maio 11, 2010

"Pão e Circo" ou será "Papa e Bola"?


O retrato do país nos últimos dias, entre fanatismo futebolístico e fanatismo religioso, revela a incapacidade de todo um povo pensar criticamente. A felicidade surge associada a símbolos, que nenhum efeito prático têm no seu bem-estar, nas suas condições de vida e de trabalho. No entanto, as pessoas são levadas a pensar que um evento que lhes é exterior, tem efectivamente alguma consequência nas suas vidas e sentem-se obrigadas a sentir alegria e a celebrar algo inconsequente. Não percebem que se tratam de manobras de diversão de massas, para que não se apercebam dos direitos que lhes estão a ser retirados e da difícil tarefa de sobrevivência económica que vão enfrentar nos próximos tempos. É uma jogada eficaz de anestesia colectiva, para evitar manifestações de descontentamento ou revolta.

Não é por acaso que o Primeiro-Ministro e o líder da oposição se reúnem hoje, para em breve anunciar a subida do IVA e eventualmente cortes ou mesmo a suspensão do 13º mês, persistindo na exigência de sacrifícios aos mesmos de sempre. Aposto até que o sermão que o Papa irá proferir daqui a pouco, visará a resignação e o espírito de sacrifício dos portugueses, perante a crise (as lições de moral e ética familiar de imposição de estilos de vida lá estarão também). Os mesmos de sempre que se vão calando e vão aceitando, que só saem aos milhares para aclamar um clube de futebol ou um líder religioso, que por eles e pelo seu futuro, fazem rigorosamente nada. Mas pelos seus direitos ou pelos direitos dos seus filhos, que estão seriamente comprometidos não levantam a voz, não criticam, nem se mobilizam. Enquanto existir “pão e circo”, ninguém dirá basta. Será preciso chegar ao ponto, em que o “pão” desaparece da equação, para o povo perceber que não há clube ou religião que garantam os seus direitos e a sua sobrevivência?

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