terça-feira, junho 09, 2009

Rescaldo das eleições

Há uns meses atrás ninguém diria que o PS perderia as eleições europeias. Ninguém diria que o PCP e o BE juntos conseguiriam 21% dos votos e que a Manuela Ferreira Leite ganharia fosse o que fosse. Talvez se tenha desvalorizado a percepção que os portugueses têm da responsabilidade directa do partido de governo, no agravamento da crise e das profundas desigualdades sociais em que o país mergulhou. Ninguém parece acreditar que o mal-estar seja só uma coisa da recessão global, excepto o próprio PS, que tem de inventar uma desculpa para a derrota não pesar tanto.

Apesar destas eleições demonstrarem uma tendência de mudança de mentalidade, os eleitores portugueses ainda pensam muito em termos de PS e PSD, e só isso explica a vitória improvável do PSD. Isso e Paulo Rangel, que fez a campanha sem a presença da líder, apostando em passar uma imagem de competência e seriedade acima das “roubalheiras” que apontavam ao PSD. Terá capitalizado votos de protesto com essa estratégia. Se bem que 31,69%, convenhamos, não é mobilização eleitoral para qualquer partido que tenha a mínima noção do que é legitimidade democrática para governar (e isto vale também para os 26,58% do PS).

É de salientar que 21% do eleitorado percebeu que votar no PS, não é votar à esquerda e deslocou-se para o BE e CDU. E se pensarmos como os partidos supostamente de esquerda foram castigados, por essa Europa fora, percebemos o enorme "flop" que foi a ideia da “Esquerda - 3ª via” que foi facilmente percebido pelo eleitorado. Esperar-se-ia que estes partidos tirassem as devidas ilações e repensassem estratégias. Mas é mais fácil, agitar o fantasma da ingovernabilidade, da dispersão dos votos, nos radicalismos medonhos. Mais fácil é engolir sapos e associar-se ao arqui-inimigo, num bloco central, do que encetar uma política de esquerda séria e responsável.

Só nos valores elevados da abstenção, ninguém errou. A abstenção nem mereceu grandes reparos dos dois maiores partidos, mesmo que atinja os 62% ainda acrescida de 4,69% de votos em branco A legitimidade democrática ou a falta dela não se revelou preocupante. Adivinhem o que eu disse eu 2007 e que hoje se repetiu, sem que alguma alteração tenha ocorrido:

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