quarta-feira, junho 03, 2009

O que significa afinal abster-se?

No post anterior, critiquei os partidos e a forma como se tornaram instrumentos de ascensão política ou profissional, criando uma estranha promiscuidade entre a política e o enriquecimento pessoal. Sendo assim podemos questionar se devemos legitimar esta estrutura partidária pelo voto. Será que não votar é combater o caciquismo?

O que é que se combate com a abstenção? Se a abstenção exprime apenas uma não intenção, que pode ser confundida com desinteresse ou alheamento. Ninguém vai determinar quais os objectivos de quem não vota. Se verificarmos os elevados números da abstenção nas últimas eleições, analisando a reacção dos partidos, deduzimos que nenhum comportamento foi alterado. Não diminuiu o caciquismo, os compromissos eleitorais continuaram a não ser desrespeitados, nada no sistema eleitoral ou no funcionamento do Estado foi alterado. E chegamos a ter abstenções de 60%!

Lembrei-me que já tinha falado de abstenção, mantenho a mesma opinião:


Não será preferível combater o caciquismo, votando num partido que não movimente promiscuidades e jogos de influência? Existem pequenos partidos que reúnem essas características, aí vota-se num determinado projecto, mesmo que não nos identifiquemos totalmente com ele. Não será melhor que um não voto? No fundo os partidos de poder, são os que têm mantido a promiscuidade que referi no post anterior, logo votar fora dessa esfera deve ser mais eficaz do que um silêncio que não transmite uma intenção concreta.


6 comentários:

Pedro Fontela disse...

Hopes,

Como já deves calcular estou em desacordo total com a tua postura :) Para começar se o objectivo é destruir certos vícios que se foram apropriando do sistema político então isso requer uma mudança algo radical face à situação actual e não se pode esperar isso sem pagar alguns preços ou incorrer em certos riscos, não se pode ao mesmo tempo querer mudar as coisas e manter o nosso nível de conforto, a rotina do quotidiano e demais privilégios de uma situação estável.

Se existem desacordos totais e não apenas pontuais sobre o sistema político não há melhor escolha para o cidadão do que a marginalização de toda a actividade política de forma a retirar qualquer legitimidade às instituições (se o contrário fosse verdade, como afirmas, os partidos não estariam desesperados por motivar as pessoas a votarem nas suas máquinas decrépitas). A não participação é uma recusa total do sistema em todas as suas vertentes. É o reconhecimento de que mais mudanças estéticas são inúteis. Qualquer concordância pontual que possa ser encontrada com este ou aquele partido é afogada pela necessidade de mudança e defesa de pontos de interesse nacional (que este sistema político abandonou desde o primeiro dia).
Digo mais ainda, qualquer participação no actual sistema consiste numa escolha de candidatos viciados a quem nunca ninguém reconheceu qualquer mérito (nem nunca deram provas independentes de o possuir), nessas condições do ponto de vista do sistema todas as opções que o cidadão tome são positivas já que contribuem para a sua manutenção e para a fachada de diversidade que supostamente existe. Até a “opção” dos pequenos partidos é enganadora já que emergem deste estado de coisas e estão à partida condenados a repetir padrões de comportamento ao qual todas as estruturas os vão condicionando, ou em alternativa acabam fragmentados com grandes pedaços a serem canibalizados por outras forças políticas com maior poder de atracção (por recompensa).

Em termos pessoais prefiro mil vezes um sistema justo e que funcione bem onde eu apenas tenha um poder político extremamente reduzido enquanto cidadão do que um que me pede um voto supostamente decisivo de ano a ano mas é este pântano moral e estratégico que vemos. Tendo dito isto tudo penso que é fácil ver porque na minha opinião o voto tal como está definido e nestas condições políticas além de ser inútil é um erro.

Anónimo disse...

Hopes: não votar é combater o caciquismo.

Quanto mais não seja, porque é o acto de votar que gera - na maior parte do país - caciques.

E atenção ao seguinte: a abstenção não exprime só uma não intenção, desinteresse ou alheamento.

Há, e cada vez mais, pessoas a não irem votar apenas e só porque não acreditam de todo que pelo facto de irem votar isso signifique que estão interessadas ou a verem qualquer futuro neste sistema.

Há um "problema" que se coloca ao nível da legitimidade, dos responsáveis políticos quando as abstenções são altas.

Falta-lhes legitimidade e o acto de decisão que tem de ter é "manchado" por isso. Isso é muito importante no que diz respeito à credibilidade dos sistemas políticos e aos políticos.

Quando um sistema político não consegue convencer naturalmente os seus cidadãos a irem votar preferindo estes absterem-se não são os cidadãos que estão mal, mas o sistema político que deve ser mudado, para ser "democrático" e verdadeiro.

O nosso continua a sua marcha para ser "não democrático" e irrelevante do ponto de vista do respeito dos cidadãos.

O que por sua vez, só aumenta o descrédito e aumenta mais e mais a abstenção.

sabine disse...

Concordo com as razões evocadas pela Hopes. Vou votar até me cansar. Neste momento ainda vou experimentar o voto de protesto.

Pedro Fontela e Dissidente:
Compreendo as vossas posições mas neste momento não me sinto inclinada a concordar com elas. :)

Anónimo disse...

mas alguem vai mudar alguma coisa porque há enormes niveis de abstenção?

voces acreditam mesmo nisso?

os politicos adoram a abstenção

mantem o estado das coisas

alias, melhor ainda:

elege os mediocres e perpretua a sua continuidade no poder...

a interpretação que o sistem politico faz (e quer fazer) da abstenção não é que é uma forma de manisfestação, mas sim desinteresse dos eleitores relativamente ao estado do país e à politica (mesmo que não seja e as pessoas se interessem muito mas estejam desiludidas).

o sistema politico esfrega as mãos com isto.

adora...

alimenta-se da abstenção

ou acreditam mesmo que os politicos deixam de dormir porque há niveis elevados de abstenção? eles até fazem tudo direitinho, tudo muito democraticamente, por escritunio, as pessoas é que não querem saber...

Ninguém os pode condenar... maravilha!

Não percebi isto: Defendem vocês que abstenção serve para mudar alguma coisa? ou serve para manter tudo ma mesma?

E se serve para mudar, depois da abstenção, quem, para além do movimentos politicos, vai promover essa mudança?

E se são estes últimos, como o podem fazer se não votam neles?

Anónimo disse...

Não consigo entender como é que se pode defender uma mudança radical do sistema partidário com a abstenção.

Não vou acrescentar muito mais do que já foi dito...mas não me abstenho de reforçar o que o "Anónimo" disse. Como é que se pode actuar fora do sistema quando se deixam manter no poder os principais responsáveis pela situação actual?

A defesa da abstenção não me parece nenhum acto politico consequente...como aliás a do voto branco...não existindo nenhum partido que prometa aos cidadão não ocupar as cadeiras no parlamento...essa talvez fosse melhor maneira de demonstrar o nosso cansaço e desprezo pelos nossos representantes eleitos.

Bom fds a todos e já agora pensem bem em quem verdadeiramente estão a apoiar!

Anónimo disse...

agora é que vi que não assinei

o anónimo era eu

Macambuzia