quarta-feira, agosto 09, 2006

Breves momentos

O brilho nas pedras do passeio. Pontos de luz tremem sobre a água fina que a noite, a chuva, deixou sobre as pedras. Eu caminho sobre a organização das pedras do passeio. Diante de mim, um manto de pontos de luz que se acendem e que se apagam. A sua vida é breve. A minha vida é breve. São pontos de luz que abrem caminhos para que avance. As minhas botas pousam entre esses pontos de luz a nascerem, a viverem durante um instante e a morrerem para sempre. Mil pontos de luz a morrerem em instantesdiferentes, em sítios diferentes, ignorando-se e fazendo parte da mesma ordem. Pelos muros do jardim, escorre uma camada fina de água, pele cristalina de cálice, água límpida como veneno. A repousar no topo do muro, a escorrer como uma avalanche suspensa, há plantas, folhas, ramos de árvores: braços verdes que pararam no momento em que se lançavam para agarrar alguém que, como eu, caminhava no passeio.

José Luís Peixoto, Lunar in "Antídoto" p.55.

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