sábado, dezembro 12, 2009

A desilusão de Obama

Foi lamentável que Obama surja a defender a guerra, numa sessão de atribuição do prémio Nobel da Paz, ao ponto de ter ouvido Luís Delgado elogiar-lhe o discurso. Se a insistência em levar a cabo o Plano de Saúde, contra todo o tipo de lobbies, me levou a tecer-lhe elogios, a inversão do discurso da paz e do diálogo é uma profunda desilusão. Começa logo na manutenção da estratégia de guerra no Afeganistão. Não digo que fosse possível já uma saída das tropas, mas uma estratégia assente, não no envio de mais tropas, mas no apoio às populações com infra-estruturas, a nível da educação, da agricultura, do abastecimento de agua, era certamente possível.

Em relação ao conflito israelo-árabe, nem um esforço mínimo foi feito para obrigar as duas partes a regressar ao diálogo. Mas talvez mais grave, passando até quase despercebido, foi a renovação do “Patriot Act”. Para quem não se lembra, o “Patriot Act” é um pacote legislativo da Administração Bush, que esmaga todas as liberdades, direitos e garantias dos cidadãos, permitindo que sem ordem judicial ou base concreta de suspeita, se possam colocar escutas, aceder a mails, a tráfego de Internet e todo o tipo de dados pessoais. Esta legislação expirava no final do ano, mas vai ser mantida.

Quem não se lembra dos discursos inflamados de Obama a defender a constituição e os direitos dos cidadãos? Ao que parece a realidade é bem diferente, o “Patriot Act” é para continuar, assim como a guerra no Afeganistão. Para quem, como eu, acreditou em Obama, tudo isto é de uma enorme desilusão que nem o Plano de Saúde pode fazer esquecer. Espero que Obama recorde os seus discursos de paz, diálogo e respeito pelos direitos dos cidadãos e reformule a estratégia que agora está a seguir. Mais do mesmo, não… já são demasiados os exemplos.

2 comentários:

Unknown disse...

Ai os obamaravilhados tornam-se obadesiludidos.

Pela minha parte digo claramente que, no seu Nobel discurso, e dias após ter anunciado o envio de mais tropas para o Afeganistão, Obama só poderia fazer esta reflexão. Outro que tentasse fazer, como o do costumeiro apelar ao pacifismo, seria puramente hipócrita.

Quanto ao próprio envio de tropas, a mim não desilude. Vejamos: a guerra pareceu ao mundo justificada no pós-11/9. Foi impossível terminá-la em tempo útil por várias opções erradas, uma das quais o erro de desviar recursos para o Iraque, esse desvario de W.. Consequência óbvia, caberia à seguinte administração lidar com o erro. E erro maior seria sair sem cuidar de um país destruído, E ter esse cuidado, neste momento, passa por enviar mais tropas para o Afeganistão, é um sacrifício que terá que ser feito. Desarrumaram a casa, têm que a arrumar e não fugir às responsabilidades. Quando o país estiver mais estável e sob a alçada de um Governo credível e não corrupto como o do senhor Karzai (outro erro de W.) então o passo seguinte será o retirar tropas e abrir caminho à mudança de estratégia, com ajudas de apoio à população como a educação, a agricultura, água, etc. O caminho é longo e infelizmente para já passa pela acção militar.
ASENSIO

Bruno Ramalho disse...

faço do meu comentário o comentário do C3H8.

também não acho que o Obama tenha muitas soluções pacíficas ao seu alcance.

o mundo não é cor-de-rosa, por isso há que caminhar com cuidado.

não foi ele que começou esta campanha militar, mas também não a pode terminar sem mais nem menos agora que está em curso.