quinta-feira, junho 25, 2009

Sobre o Consenso...

Tive o prazer de ler um artigo muito interessante chamado "Conflito e Consenso" da Sara Monteiro, publicado na edição online do “Le Monde Diplomatique”. E digo tive o prazer, porque o artigo fala de algumas das minhas preocupações e da necessidade de procurarmos um novo modelo sócio-economico, que é muitas das vezes esmagada pela necessidade de obter uma espécie de consenso ideológico alargado.

«Não precisávamos de assistir ao fracasso do neoliberalismo para sabermos duas coisas: a primeira, que esse modelo não nos aproxima, nem em termos socioeconómicos, nem ambientais, desse ideal que atravessa os tempos; a segunda, que a construção de alternativas a esse modelo não pode cair no simplismo ilusório de qualquer outro «pensamento único»

Apesar das falhas evidentes do neoliberalismo, que só provou ser capaz de alimentar uma elite com enorme poder económico, com grandes prejuízos ambientais e para a equidade social, não se têm construído verdadeiras alternativas. E porquê? O neoliberalismo parece ter-se tornado o paradigma único e quem tenta procurar soluções opostas, é rapidamente apelidado de radical ou de comunista. E a autora identifica e muito bem, a origem para esta tendência para o pensamento único e para a criação de consensos:

«Num país marcado, e menorizado, por 48 anos de ditadura, continua a ser demasiado generalizada a tendência para encarar todo o conflito como negativo, para o evitar a qualquer custo.». Não será por acaso que se tem ressuscitado o mito do Bloco Central e da necessidade de estabilidade política e de governos maioritários....

É caso para questionar de que nos tem servido o consenso em torno do actual modelo socioeconómico e «a “estabilidade” que permite manter o desastroso rumo do capitalismo de casino (em vez de impor instrumentos públicos capazes de melhorar a vida das populações)?». A resposta é que o consenso tem servido interesses minoritários e têm de facto agravado as condições de vida do cidadão comum.

No artigo surge um bom exemplo da hipocrisia da ideia de consenso:

«Apoia-se a recondução de José Manuel Durão Barroso como presidente da Comissão Europeia porque é português e isso favorece o país. Aceitaríamos que um presidente de qualquer outra nacionalidade favorecesse o seu país? É esse o projecto europeu que defendemos? Não importam as políticas concretas, neoliberais e belicistas, que o presidente da Comissão pôs em prática?»

Há mais exemplos interessantes, mas não queria tornar o post demasiado extenso, nomeadamente o enorme consenso em torno do sigilo bancário, quando os crimes de corrupção e o desvio de avultadas somas para offshores, tem prejudicado a sociedade no seu todo.

Na parte final do artigo, surge a que é também a minha grande dúvida, até quando vão ser mantidos todos estes consensos impostos?

«Sabemos que a resistência das pessoas à violência quotidiana introduzida nas suas vidas tem limites. Não sabemos quais são esses limites. Sabemos que por vezes são “pequenas coisas” que se tornam insuportáveis. Ser um trabalhador precário, excluído do subsídio de desemprego, e ouvir repetidamente afirmar, a propósito dos clientes do Banco Privado Português (BPP), que quem tem 300 mil euros de poupanças nem sequer é rico.»

Até quando o cidadão comum vai aguentar este acumular de pequenas coisas, que estão a adquirir um peso insuportável?

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