terça-feira, agosto 05, 2008

Cartas a uma ditadura

«Uma centena de cartas, escritas por mulheres portuguesas, em 1958, foram encontradas por acaso num alfarrabista que não as leu por achar que eram cartas de amor. Respondem a uma circular enviada por um misterioso movimento de apoio à ditadura do qual não há referência nos livros de história. A circular a que respondiam nunca chegou a ser encontrada mas, pelas cartas que temos em mãos, percebe-se que era um convite para que as mulheres se mobilizassem em nome da paz, da ordem, e sobretudo em defesa do salvador da pátria: Salazar.

Em todas as cartas, estas mulheres falam da gratidão e da admiração que têm pelo ditador. Mas, como se a necessidade de falar fosse mais forte, por entre chavões e frases feitas, surgem por vezes o medo, a tristeza, o isolamento em que se vivia em Portugal nos anos 50. Uma costureira, muitas professoras primárias, donas de casa, algumas esposas de homens importantes do regime assinam as cartas.

Ao confrontar, hoje, estas mulheres com os fantasmas do passado, e graças a um material de arquivo inédito, Cartas a uma Ditadura é um mergulho perturbador no obscurantismo que dominou Portugal por mais de 50 anos.»





"Cartas a uma ditadura" - um filme de Inês de Medeiros


Vale a pena ver este documentário. Perceber o que se pensava na altura, perdura ainda hoje na cabeça destas mulheres. A moralidade atávica de uma senhora de bem que persuadiu a esposa de um dos empregados do seu marido, a voltar para casa, pois tinha abandonado o lar só porque o marido era alcóolico. Ainda hoje a senhora de bem, recorda com orgulho o que fez por essa família, porque a mulher tem de suportar tudo e não abandona o marido. Foi a Sintra de propósito buscar a esposa depravada. E com que orgulho e sentido de missão...


E essa coisa das democracias? Custou 100 mil contos a uma das senhoras de bem, que perdeu a sua indústria. E as desigualdades e as pessoas que morriam de fome? Não era bem assim... ajudavam-se essas pessoas nuns eventos de caridadezinha. As familias pobrezinhas em fila, as crianças... para receberem dois bolinhos e uma roupinha. E assim se vive ainda hoje de consciência tranquila!

1 comentário:

Anónimo disse...

Também vimos esse documentário cá em casa. Mas nem todas as mulheres são corajosas e nem todos os homens uns cobardes.