segunda-feira, agosto 06, 2007

Uma formação intelectual sólida vale por si

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«O pressuposto é o de que a única função do ensino superior é a de servir de canal de inserção no mercado de trabalho. Uma frequência universitária que não culmine directamente no acesso a uma posição profissional ajustada às aspirações estatutárias e remuneratórias que supostamente transporta consigo, constitui, mais do que uma perda de tempo, uma traição para com aqueles que aí investiram o seu «esforço» (muitas vezes ilustrado através do sugestivo termo «queimar as pestanas») e o dinheiro dos progenitores. Este pressuposto encontra-se bem presente aqui e ali; no modo com que se abusa da inominável expressão «canudo» para se classificar um diploma de formação universitária ou de outras como «tirar um canudo para nada», quando o referido atestado não assegura o acesso a um conjunto de empregos conformes.


«Para nada» – a expressão diz tudo. Sem tradução num valor claro no mercado de trabalho, uma formação superior seria como que uma vacuidade que lança também no vazio a pessoa que a possui. Isto, como se uma formação intelectual sólida, obtida no quadro de saberes constituídos ao longo de séculos, não constituísse um valor em si mesmo, com óbvias consequências na mobilidade cognitiva e consciência crítica dos indivíduos e, por essa via, no dinamismo intelectual e cívico de uma sociedade inteira. (…)»


Estamos agora preocupados com os reflexos do desemprego dos licenciados na imagem social do ensino superior. A sociedade não pode pensar que um canudo não vale nada. A sociedade não pode deixar de compreender, que uma formação intelectual sólida vale por si. Vale por si, mas não tem de valer um emprego. Pena é que a mobilidade cognitiva e a consciência critica não paguem as contas e a alimentação. Sem negar o valor da formação intelectual, porque é as universidades não abrangem também uma vertente práctica, que a enquadre com o mercado de trabalho?


Mas a questão fundamental, está na valorização social da “formação intelectual sólida” e da “mobilidade cognitiva e consciência crítica dos indivíduos”. Por isso eu pergunto porque é esses factores não são percebidos pelos empregadores? E até que ponto as universidades e o próprio Estado, se têm esforçado em valorizar a formação intelectual?

4 comentários:

""#$ disse...

O teu post apenas reflecte a tua confusão pessoal.
Devias antes fazer o esforço de pensar "à contrário".
Ou seja entenderes que as coisas foram desenhadas assim, precisamente para darem este resultado.
Foi um "trabalho" encomendado a um Sr chamado Roberto Carneiro lá pelos idos de 1987.
Ele fez esse trabalho com dedicação, apoiando-se na pressão de toda uma população que queria filhos no ensino superior.

Agora isto explodiu.

Hopes disse...

Pedro,

Acho que devias ser mais explícito quando falas em confusão pessoal. Que parte do que eu disse, é que não concordas e porquê? É que assim dá ideia que basta não pensar como tu, para ter algum tipo de confusão pessoal.

Eu não me preocupei muito com as raízes do problema de facto. Estou mais preocupada com as soluções. O nosso problema, na minha opinião, não é termos licenciados a mais, ainda estamos longe da média europeia, é a percepção que os empregadores têm do valor da licenciatura.

Achas que é errado a população aspirar a ter os filhos no ensino superior? Parece-me legitimo. Não me agradaria nada que só uma elite restrita tivesse acesso ao ensino superior.

Hopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
""#$ disse...

Hopes:

Enganou-se as pessoas( assume para ti própria isso coo sendo uma evidencia) dizendo-lhes , fazendo-as crer,
instilando -lhes a ideia de que toda a gente iria para o ensino superior, fosse qual fosse o ensino superior ou qual o tipo de ensino superior.

A ideia era apenas fazer alguns, muito poucos ganharem bastante dinheiro com isso.
Ao mesmo tempo, tratar o ensino como uma actividade económica semelhante ao fabrico de salsichas ou pneus.
Onde se procuraria que existisse excesso de mão de obra - muito excesso de mão de obra.

Paralelamente a este fenómeno - que durou não meses mas quase duas décadas, implementou-se uma estratégia de total desindustrialização e desinvestimento no país a todos os níveis.
A conversa dos licenciados a menos é uma treta.
São menos comparados com o quê?
Com os europeus?

Mas essa não é a comparação a fazer.
Esse tem sido o argumento totalmente falso e enganador que tem vindo a ser enfiado na cabeça das pessoas para continuar a justificar que existam cursos do ensino superior por tudo quanto é sitio.

Cursos pagos e bem pagos, claro para continuar a sustentar um sistema que pura e simplesmente está feito e desenhado para não funcionar e está feito e desenhado para gerar mais do mesmo.
Se a nós , pais chamado Portugal nos foi destinado o papel de sermos um pa´si de comércio, turismo e serviços,, logicamente, não são precisos bons licenciados.

Mas sim, licenciados que julgam que são bons - uma coisa totalmente diferente.
Ou seja está-se a "produzir pessoas medianamente qualificadas ou menos, num sistema de ensino decrépito e imbecil, onde tudo é fácil e toda a gente passa à vontade de ano, para gerar um conjunto de manientos e arrogantes convencidos que são uma grande coisa, e no fim das contas chegam ao mercado de trabalho e pura e simplesmente ......não há mercado de trabalho.

É uma subversão extremamente cruel que é feita á generalidade da população que é a de induzir as pessoas a nunca perceberem bem exactamente qual é o seu real valor e quais são as suas reais capacidades.

isto é uma estratégia e é uma estratégia que foi bem montada e que é difícil para não dizer impossível de desmontar.

Porque é que tu achas que se aderiu ao processo de Bolonha?
Cursos de 3 anos?
Agora sai tudo do final dos cursos de 3 anos convencido que é "doutor", mas o sumo, os bacharelatos que dão acesso ao que verdadeiramente interessa, estão a cima disso.

Assim gera-se na população toda a ideia de que somos todos muito bons.

Soluções, dizes tu?
Não há.

É preciso isto bater no fundo e voltar a bater no fundo e partir mais ainda para, algumas pessoas eventualmente , talvez, provavelmente, vejam alguma coisa.

Talvez.

Quanto aos empregadores querem é imbecis a trabalhar para eles 12 horas por dia e de preferência com a 4º classe.
Todos.
Acaso não quisessem não diziam publicamente o que dizem.

A essa gente foi DADO o controlo real do país.Pela esquerda. Por toda a esquerda.
Isto já não é de agora.

Dou-te um exemplo disto tudo: se leste o meu segundo post do BTUGA, repara no seguinte.
Passaram-me lá umas 400 pessoas diferentes daquela área quase todos a estudar no ensino superior - pressupõe-se que articulem alguma coisa de jeito - e existiram 3 ou 4 comentários de pessoas.
Mas quase nenhuma, para não dizer nenhuma sobre a substancia do texto.

Ou seja:nem sequer percebem ou tem capacidade para entender algo que diz respeito à área de estudo deles - da maior parte deles.

Isto mostra bem a completa falta de formação à sério das pessoas neste país, se nem conseguem, num simples texto num blog fazer algo mais do apenas le-lo isto se a maior parte conseguiu ler aquilo até ao fim, coisa que sinceramente duvido.

Não te agradaria nada que apenas uma parte restrita da população estivesse no ensino superior?
Mas isso já acontece.
Começou a partir do inicio dos ans 90 e fechou-se o circulo lá por volta de 1995.
A partir daí só tem acesso ao que interessa os oficialmente designados para tal.

É duro leres isto?
HÁ pois é.

Mas é isso que já acontece. Não te confundas a ti própria, não tenhas ilusões.
Percebe o que se está passar e porquê.
E depois faz o que estiver ao teu alcance para subverter isso.
Porque tu fazes parte das pessoas a prejudicar ou que já estão a ser prejudicados.

O que está em marcha é uma traição. Tu fazes parte dos traídos.
Eu sei, porque eu também faço parte do traídos mesmo sendo um pouco mais velho do que tu.
Mas eu estava lá na época quando as coisas foram mudadas.
Vi o inicio.

E quanto à população; ela pode aspirar a ter os filhos onde quiser.
Convinha era que abrisse os olhos e percebesse que está a ser traída com esta história, precisamente porque o que interessa é existirem iliterados e analfabetos mas com curso superior.

Hoje meti um post: é inadmissível que alguém com um curso de jornalismo faça algo como aquilo.

No entanto o que vês?
Constantemente idiotas em empregos destes.
ISTO NÃO É POR ACASO.
Quer-se as coisas assim.