sábado, julho 21, 2007

Objectivo: Gilbraltar

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Não é uma situação nova, é apenas mais uma situação esquecida. Só nos vem à memória, quando algum telejornal noticia um naufrágio trágico de um frágil barco de imigrantes. Esquecemos que em Marrocos existe um “campo de retenção informal”, onde 300 a 400 pessoas sobrevivem graças ao auxílio de associações locais e dos Médicos Sem Fronteiras, em condições desumanas, sujeitas a repressões policiais e às máfias locais. Chegam da Nigéria, Camarões, Senegal, Mali, Costa do Marfim e Republica Democrática do Congo e alguns sobreviventes de Darfur. São jovens e a maioria tem um nível de educação que ultrapassa o ensino secundário e uma profissão, só queriam uma vida melhor.


A partir de 2002, a precária situação dos imigrantes agrava-se. Conduzidos pelo então primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar, diversos países do Velho Continente ameaçaram bloquear os auxílios financeiros aos países africanos de “saída” e de “trânsito” que não os ajudassem a combater os clandestinos. O célebre “cordão sanitário” em torno da União Europeia, leva estes países a reter os migrantes, com repressões violentas, pisoteando os direitos humanos mais elementares.


As perigosas travessias realizam-se agora a partir da Mauritânia, do Senegal ou de Dakar. São viagens mais longas e arriscadas, prevê-se que um em cada seis imigrantes, morra afogado na travessia. Daí a persistência da rota marroquina e com ela as repressões brutais, a extorsão, os sequestros, a expulsão violenta para o deserto, após uma viagem de 12 horas. Largados no deserto, sem nada… Ninguém é poupado: nem as mulheres grávidas, nem as crianças, nem os refugiados ou os que pedem asilo.


Leio o testemunho de Alphonse. Há três anos que está no campo de retenção de Marrocos à espera de uma oportunidade:

“Tiram-te tudo — telemóvel, dinheiro. Colocam-te num camião que segue até o Sul durante 12 horas. Depois atiram-te assim, no meio do deserto. É a humilhação da pele negra” (…) “Aqui, vivemos no terror. Não durmo. Espero sempre uma repressão da polícia. Roubam-nos tudo, esmurram-nos, colocam 800 de nós num mesmo quarto, onde não conseguimos respirar. Tudo o que peço é o direito a ter direitos”.


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