quinta-feira, junho 21, 2007

Tão revolucionários que eles são…

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O movimento Compromisso Portugal lançou ontem o livro “Revolucionários”, com as propostas apresentadas na sua convenção o ano passado, para mudar o modelo sócio-económico. Recordo que estes senhores são "reputados empresários e gestores" e propõem o fim do Estado providência, passando as situações de de invalidez, desemprego, doença e outras situações semelhantes a serem abrangidas por subsistemas privados, baseados em seguros individuais a serem pagos conjuntamente por patrões e trabalhadores. Defendem ainda a redução de 150 mil a 200 mil funcionários públicos, o congelamento de salários e de progressões na carreira, uma maior flexibilização da legislação laboral e outras medidas mais específicas, como a presença de um gestor em cada tribunal.


Em entrevista ao Jornal 2, António Carrapatoso, esclareceu que o conceito igualitário se encontra obsoleto, e que o Estado se deve preocupar apenas em promover o acesso à educação, e existindo essa oportunidade o mérito garantirá o sucesso. Não tendo o Estado que gastar parte do orçamento, em subsídios sociais tão mal aplicados. Os burrinhos preguiçosos que não têm mérito, não têm direito a ajuda social, é dinheiro mal gasto, depreendo eu.


Este conceito de associar mérito/sucesso financeiro/bem-estar social, dá-me sinceramente vontade de rir. Numa sociedade de oportunidades desiguais, em que quem nasce com carências sócio-económicas está excluído à partida, por muito mérito que tenha. Não me falem de sucesso de quem tem mais mérito, numa sociedade de jogos de influência que beneficia, não o mais competente, mas o conformista, bajulador melhor relacionado. Quem me pode garantir que uma sociedade que discrimina raça, género e orientação sexual, premeia o mérito individual?


E o mais interessante é que a cultura do mérito, que torna obsoleta a ideia igualitária e o Estado Social, é vendida pelo Compromisso Portugal, como uma ideia revolucionária. Revolucionário seria termos um modelo social capaz de promover a inclusão, minorando as desigualdades, olhando para todos, alcançando uma prosperidade económica que pode e deve servir a todos. A injustiça social nunca poderá ser, na minha opinião, algo de aceitável ou de natural. No dia em que o progresso social, não passe pela fraternidade e a solidariedade, estaremos numa sociedade desumanizada, que se limita a premiar o mais forte. Parece-me que é já essa a realidade que temos, há muito tempo e de revolucionária não tem nada…

2 comentários:

Anónimo disse...

Tens toda a razão, mas deixa-me apenas acrescentar: qual Estado Providência?

Para mim o Estado Providência nunca chegou a existir no verdadeiro sentido, as regras nunca foram jogadas desde o inicio. E acho sempre piada quando oiço esses grandes iluminados dizer que "o estado providência falhou". Se falhou foi porque foi boicotado desde o ínicio e porque houve interesses bem claros para que fosse boicotado. Sendo que para mim, a solução seria tentar aperfeiçoa-lo, identificando os erros e corrigi-los e não acabar com ele.

Enfim...a distorção dos factos para se levar avante determinados propósitos sempre me impressionou...

Hopes disse...

MJ,

Que bom "rever-te"! Concordo inteiramente com o teu comentário. O Estado providência sempre foi boicotado. Esse boicote vem também desta cultura do mérito e da inevitabilidade da injustiça social. É esta cultura que temos vindo a conhecer, e agora tentam vendê-la como se fosse uma ideia nova e revolucionária.

Pena é, que estes senhores, não olhem para os países, onde o Estado Social funciona com eficácia e que têm os maiores índices de qualidade de vida... Esses factos, já não interessa apontar...