Dia Mundial da Luta contra a Sida
World AIDS Campaign PSA
A propósito de SIDA, este testemunho tocante e dramático, publicado hoje no DN:
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«Não sabe de quando data a infecção. Só sabe que quando há cinco anos mais os tais quatro meses estava de férias no Alentejo come-çou com febres altas que não passavam. Foi ao hospital, fizeram-lhe análises e mandaram-na tomar aspirina e consultar o médico de família. Resolveu antes "ir para a terra", a ver se a mudança de ares funcionava. "Encontrei lá um doutor amigo e ele examinou-me, apalpou-me debaixo dos braços e nas virilhas e escreveu uma carta à minha médica de família. Disse-me: 'Espero que não seja o que eu estou a pensar'."
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Era. "A médica disse que era preciso fazer análises a tudo e perguntou-me se não me importava de fazer as do HIV também. E acusou. Depois disse-me que ficou um fim-de-semana inteiro às voltas sem saber como me dizer. Quando finalmente me deu a notícia fiquei em choque. Até que ela disse: 'Está a olhar para mim e não diz nada?' Aí desatei num pranto."A seguir, mandou chamar o marido. "Só lhe disse: estragaste a tua vida e a da tua mulher. E ele: 'O que é que eu fiz? É impossível."
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O rosto de Ana segura-se na dureza para não derrapar. "Vê bem com quem andaste", respondi-lhe. Sabe que ele nunca me pediu perdão? Nunca directamente. Até negou, nos primeiros dias. Depois já não dizia que sim nem que não. Não aceita conversação sobre isso." Suspira. O seu grande anseio, confessa, é que o marido fosse franco com ela." Mas não consegue olhar para mim cara a cara.
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(...) "Ele foi infiel muitas vezes e eu sabia. Temos uma intuição, não é? Naqueles dias em que ele nem me deixava dar-lhe um beijo, rejeitava-me, percebia logo que se passava alguma coisa. E no início, depois de ter o meu primeiro filho, ele saiu de casa durante um mês. Tive um esgotamento nervoso, fiquei toda partida por dentro. Uma vizinha viu-me naquele estado e disse-me: 'Quando ele voltar, nunca lhe pergunte por onde ele andou. Dói muito, mas tem de ser'.
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"Tinha de ser? "Nunca pensei que fosse possível fazê-lo mudar, confrontá-lo. Entreguei-me menina a ele, com 19 anos. Nunca tive outro homem. Nem sei se queria ter tido, o amor por ele é muito grande." Ainda? "Ainda." E ele, ama-a? "A mim não me diz, nunca. Mas diz a outras pessoas que é a coisa que mais adora." Suspira, faz silêncio. "Às vezes acho que não, que está comigo porque precisa de mim."
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Um longo caminho a percorrer na luta contra a SIDA e um longo caminho a percorrer pelas mulheres na luta pelos seus direitos e pela sua dignidade...
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