O fim dos políticos: a democracia vendida aos “tecnocratas”
Nos últimos anos, temos verificado que a democracia já não faz jus ao nome,
“poder do povo” é coisa de outros tempos. O que tem acontecido é que os
políticos têm vendido a ideologia e os próprios programas políticos ao poder económico.
Anos e anos de políticas contra os cidadãos e para favorecer uma elite económica,
não poderiam ficar sem consequência. A elite acumulou poder ao ponto de já não
precisar dos políticos, o poder económico tomou a democracia. Os cidadãos,
afectados por uma eficaz campanha de desinformação (protagonizada pela cúmplice
comunicação social) durante algum tempo apanharam as migalhas que sobraram e
portanto calaram e consentiram. Agora tudo se faz às claras, já não são
necessários referendos, nem eleições. Veja-se o caso da Grécia, Papandreou foi
forçado a recuar na ideia de fazer um referendo e posteriormente obrigado a
demitir-se, foi substituído por um economista em quem os mercados confiam. Veja-se
a Itália, Berlusconi é forçado à demissão e é substituído por um tecnocrata, e
aqui a palavra é dita às claras, o povo nem é chamado a escolher o seu
governante. É curioso que nem casos de corrupção escandalosos, utilização da
imunidade politica como fuga à justiça, abuso de poder, escândalos sexuais
inclusivamente com menores, discursos racistas, sexistas e altamente
discriminatórios (e outras condutas altamente anti-democráticos) fizeram cair
Berlusconi, mas bastou a necessidade de agradar aos mercados para o afastar.
Em
Espanha e no nosso país, foi a interferência dos mercados e a dureza dos
pacotes de austeridade que levou à queda dos governos de Zapatero e Sócrates. Assim
se explica que o governo de Passos Coelho, tenha o seu tecnocrata, Vítor
Gaspar, ao serviço dos mercados e da ideologia que os sustenta. Por isso temos
um orçamento de Estado criminoso, de uma insensibilidade social atroz que para
além de atirar milhares de pessoas para a miséria, elimina o Estado social e os
serviços públicos como os conhecemos. Mais grave que isso, compromete qualquer
possibilidade de recuperação no futuro, porque arruína qualquer hipótese de
crescimento económico e dá de bandeja os poucos meios de controlo da economia
de que o Estado ainda dispõe. Conclui o processo de venda da democracia que
temos vindo a assistir. Acabou o tempo dos políticos e iniciou-se a era dos
tecnocratas. A alta finança ditará a lei daqui em diante, sobreviverá o cidadão
que tenha muito dinheiro para comprar os bens e serviços essenciais, os
restantes serão subjugados a troco de um prato de comida. Exagero? Antes fosse…
a única esperança que resta, é que os cidadãos tomem consciência do que está a
acontecer e resgatem a democracia, devolvendo-a à pureza dos seus princípios,
elegendo representantes que a alta finança não consiga comprar. Será um
processo duro, senão mesmo impossível e julgo que não será iniciado enquanto os
cidadãos se contentarem com as míseras migalhas que o poder económico deixa. O
que me faz pensar que algo poderá mudar, é que depois deste orçamento, não
haverá migalhas para ninguém…
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