sábado, junho 18, 2011

O Cardeal divino economista

Não tenho tido qualquer vontade de escrever sobre um país em avançado estado de negação. Um novo governo vai resolver os problemas todos. Génios todos eles. As medidas selvagens de austeridade impostas pela Troika, executadas com competência, vão conduzir-nos ao melhor dos mundos. Recusam-se a ouvir até prémios Nobel da economia, que passo a citar mais uma vez:

«Os líderes europeus ofereceram empréstimos de emergência aos países em crise, mas apenas em troca de compromissos com programas de austeridade selvagens, feitos sobretudo de cortes da despesa. A objecção de que estes programas põem em causa os seus próprios objectivos - não só impõem efeitos negativos drásticos à economia, mas ao agravar a recessão reduzem a receita fiscal - foi ignorada. A austeridade acabaria por estimular a economia, dizia-se, porque aumentaria a confiança.(...) No entanto, como já disse, a fada da confiança até agora ainda não apareceu. A crise económica nos países europeus com problemas de endividamento agravou-se, como seria de esperar, e a confiança, em vez de aumentar, está em queda livre. Tornou-se evidente que a Grécia, a Irlanda e Portugal não serão capazes de pagar as suas dívidas na totalidade, embora Espanha talvez se aguente.»

Paul Krugman


Joseph Stiglitz

E porquê a citação? A citação vem a propósito das declarações do Cardeal Patriarca, que aconselha os portugueses à passividade perante as duras medidas que aí vêm. Esse ilustre economista de inspiração divina, vem certificar uma politica que conduz ao desastre. Faz muito bem colocar-se ao lado do sistema que o alimenta, mas por favor poupe-nos à hipocrisia de que defende os pobres e oprimidos. Se os defendesse, leria Krugman e Stiglitz e saberia o erro que está a ser cometido com o acordo com a troika e incitaria os portugueses a insurgirem-se contra essas politicas. Assim somos levados a pensar que a Igreja tem muito a ganhar com a pobreza e a miséria...

3 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, também a mim não me apetece nada escrever sobre este país - não só pelo estado de negação dos que "chamaram" a troika, mas também dos que se opõem e prefeririam que Ela, a Hidra, não tivesse vindo. Ambos negam a realidade em que vivemos, ambos não vêm as consequências do que defendem. E, algures no meio, estou eu, recém regressado à lide dos blogs, que olho para essas consequências mas que não faço a mínima ideia de como nos libertarmos da gravidade infinita do buraco negro em que nos metemos.

Hopes disse...

Olha quem voltou... seja bem regressado! E que bela altura para voltar a blogar... Existem alternativas sim, só não querem que acredites nelas... Para encontrar alternativas, podes começar por aqui: http://doismaisdoisigualacinco.blogspot.com/2010/11/manifesto-dos-economistas-aterrorizados.html

Anónimo disse...

Obrigado pelos links. Escrevi o comentário anterior no meu primeiro dia pós-regresso, quando contemplei do ponto de vista blogosférico a nossa actualidade económico-política e me deu uma espécie de bloqueio de escritor e uma tristeza imensa...
Mas passado esse primeiro momento de fraqueza, já tenho energia suficiente para procurar as minhas alternativas.
Sim, estou de acordo, elas existem mas não querem que acreditemos nelas.
Os "sit-ins" do Movimento 15-M foram uma lufada de ar fresco nesse sentido, infelizmente sem qualquer repercussão deste lado da fronteira (organizar um "sit-in"/desobediência civil à portuguesa? anyone?).
Resta-nos esperar por melhores dias e, de alguma forma, contribuir para isso. Mas neste momento sinto-me mais negro,cáustico e pessimisto-realista que o nosso colega destas lides dissidente x...