quinta-feira, outubro 21, 2010

Hipocrisia

Continua a saber-se aos bocadinhos os detalhes da austeridade, agora ficamos a saber que a taxa contributiva dos trabalhadores a recibo verde e com contratos a prazo vai aumentar. Numa coisa realmente o governo é coerente, o ataque aos pobres e desprotegidos é uma constante. Já não basta a precariedade, a inexistência de subsídios de natal, férias ou de doença, a angústia de não saber por quanto tempo terá trabalho e a injustiça de se estar em situação de “falso recibo verde”, acresce um aumento da carga de impostos. Mais uma vez, não se tem em conta a taxa de esforço destes trabalhadores, nem as condições desfavoráveis que já os afectam.

Ao mesmo tempo o governo anuncia quanto vai gastar com o BPN, nada mais, nada menos que 400 milhões, e já não falo no quanto vai gastar em assessoria e em propaganda. É bom que se saiba em nome de quê, se fazem sacrifícios. Em nome do salvamento dos bancos irresponsáveis, é óbvia a injustiça, mas pior é a ironia de estarmos a pagar as mentiras e a propaganda, que nos vão impingir depois, para aceitarmos de ânimo leve os sacrifícios que nos são exigidos. Que é uma injustiça, um assalto até, já percebemos, mas precisava de se revestir de hipocrisia e mesquinhez?

Por falar em hipocrisia, os ministros das finanças da austeridade reúnem-se na UE com o compromisso de eliminar o desemprego em 2020. Parece anedótico que as mesmas pessoas que actualmente estão a impor medidas, que vão atirar milhares para o desemprego, assumam tal compromisso. Se o emprego é fundamental, se calhar assumir esse compromisso já hoje não era má ideia. Reparo ainda nas vozes orgulhosas com o projecto de Edite Estrela, votado no Parlamento Europeu, que aumenta o subsídio de maternidade e paternidade. Nada contra claro, mas digam-me lá se os desempregados beneficiam dessa benesse? E as mulheres que são despedidas ainda grávidas ou melhor que classe média agora pobre, vai pensar em ter filhos sem ter como os sustentar. É pedir muito que se defenda o Estado social, começando pelos direitos mais elementares que estão seriamente em risco? Podem deixar-se de hipocrisia, se faz favor!

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