Então, e o desemprego entre os jovens licenciados?
O que tem o governo feito para solucionar o problema do desemprego entre os licenciados? Dir-me-ão o mesmo que tem feito para diminuir o desemprego em geral, nada. Mas analisemos medidas concretas, primeiro foram os célebres cursos de formação para activos qualificados. Os licenciados eram encaminhados para cursos de formação que terminados, levavam a esmagadora maioria de novo para o desemprego. Qualificar mais quem supostamente já é qualificado, quando as empresas portuguesas não querem empregar pessoal qualificado. Foi portanto um sucesso, de medida.
Depois veio o Programa de Estágios Profissionais para a Administração Pública, financiado por fundos comunitários, pelo POAP. Assim se retiraram 3 mil licenciados das estatísticas do IEFP, que passaram a descontar para o IRS, mas não a descontar para a segurança social. À semelhança do que aconteceu, com os cursos de formação, terminado o estágio, os licenciados voltam ao desemprego. Mas desta vez, com a agravante de não terem direito a subsídio de desemprego, ou seja, desta vez são um encargo bem mais leve para o Estado. Muito conveniente, muito socialista…
Como a medida foi afinal proveitosa, não para resolver o problema do desemprego entre os licenciados, mas para o orçamento do Estado, surge o mesmo programa aplicado à Administração Local. À semelhança do PEPAP, o PEPAL está a retirar centenas de licenciados das listas do IEFP. Claro que está devidamente legislado que os PEPAP não podem beneficiar deste novo programa, apesar de estarem novamente desempregados. O programa está agora a ser implementado, mas atrevo-me, pela lógica, a prever que daqui a um ano estes jovens licenciados estarão novamente desempregados.
"L'Avenir", Cartoon de Plantu
Não existe nenhuma política activa e uma estratégia de fundo para combater o desemprego entre os licenciados. O problema arrasta-se no tempo. Milhares de vidas em suspenso. Milhares a questionar o seu lugar, o seu futuro. Muitos em situações de depressão, com a auto-estima abalada, omitem a condição de licenciados. Os que não ficam no desemprego, obrigam-se a aceitar empregos desqualificados, afastados da sua área de licenciatura. O melhor que Portugal tem a oferecer aos seus licenciados é um trabalho num Call-Center…
8 comentários:
Eu sou um dos felizardos beneficiado com um desses estágios PEPAP e revejo-me quase na íntegra no que escreveste.
Sou licenciado em Economia há 6 anos, nunca trabalhei na minha área. Desses 6 anos, trabalhei no total 4, o resto do tempo estive desempregado - longos períodos "between jobs".
O dito estágio PEPAP termina dentro de um mês e, apesar de desde o início de Janeiro estar novamente a enviar em força CVs e a responder a anúncios, já sei que me espera o desemprego, possivelmente por largos meses.
Até tenho sorte, até hoje nunca estive mais de 9 meses seguidos desempregados... Mas, excluindo o primeiro emprego, num call-centre - onde mais? - também nunca estive mais de 6 meses empregado... Bom, este estágio PEPAP é de 1 ano, já viste que sorte?
E sim, custa-me a admitir, mas o melhor emprego que já tive até foi no call-centre, o trabalho era uma m****, a empresa de RH através da qual estava no call-centre era má para além de qualquer descrição, mas pelo menos fiz amigos, muitos colegas licenciados em situação semelhante à minha... Depois já trabalhei como consultor (nome chique para vendedor de banha da cobra) de um banco de créditos de consumo, como caixa num banco (onde para além dos depósitos, levantamentos, etc., também se espera que vendamos banha da cobra: seguros, planos especiais, etc.), e o actual estágio, teoricamente de "gestão de projectos", mas na prática o local onde estou é dos que dá mau nome à função pública, pelo que gosto de lhe chamar "estágio de ócio", tal é o volume de trabalho que me dão - e até já implorei que me dessem que fazer... ao fim de uns tempos desisti, e limito-me a ficar em frente ao PC, a surfar na net - não me queixo, é graças ao PEPAP que montei o meu blog e lhe dou a devida atenção.
Carreira?!? O que é isso?
António,
Eu hesitei em abordar este tema, porque algumas pessoas parecem duvidar que a situação seja como eu a estou a descrever, ver por exemplo este post: http://avezdopeao.blogspot.com/2007/03/
o-problema-sub-qualificao-no-sobre.html"
Infelizmente o teu caso, comprova a triste realidade do desemprego entre licenciados em Portugal. Ainda por cima, a tua área nem cabe na lista negra da educação, letras, sociologias e afins. O problema é muito mais abrangente do que nos querem fazer crer, e não tem solução há vista.
Já conheço casos de jovens com graves depressões, nem tanto por não encontrarem um emprego na sua área, mas por não encontrarem emprego de todo. E eu pergunto-me estas pessoas não são qualificadas o suficiente para o nosso mercado de trabalho? No mínimo sabem interpretar e redigir um texto, ninguém faz uma licenciatura sem ter conhecimentos informáticos na optica do utilizador, não têm competências interrelacionais de adaptação/vontade de aprender (e a restante cantilena dos técnicos de recursos humanos)? Isto num país em que o analfabetismo funcional predomina?
Ah... Mas já me esquecia, das sábias palavras do Manuel Pinho, o que se quer é mão de obra barata para impressionar chineses e não só! Então o nosso mercado de trabalho é perfeito! Todo este cenário, perfeito...
Só uma última nota em relação ao PEPAP, sei de casos como o teu em que de facto as chefias são tão competentes que nem sabem atribuir tarefas... Mas existem outros tantos, em que as pessoas trabalharam arduamente ao lado de pessoas sem qualificações e que nada faziam. Portanto, não me parece que cole o argumento que não há necessidade de mão-de-obra qualificada na Administração Pública... mas a AP só por si dá um post, fica para a próxima...
Por tudo isso é que eu faço isto!
Concordo com tudo o que escreveram até agora!Também me revejo em tudo o que escrevem!
Quando entrei para o ensino superior optei pela área de Comunicação e consegui entrar num instituto politécnico público. Hoje tenho duas licenciaturas na área da Comunicação (Social e Empresarial). Os gestores e técnicos de recursos humanos afirmam que é uma área saturada.É certo! Mas as televisões, os jornais e as rádios, não ganham milhares de contos em publicidade? Não entendo!Juro que não entendo!!!
Infelizmente, não é só nas licenciaturas de humanidades que existem licenciados desempregados. Agora esta situação chega a todas as áreas de formação académica, indo desde a gestão, passando pelas engenharias, chegando às ciências da saúde, como é o caso de enfermagem e radiologia.
Até ao momento não consegui arranjar emprego! Na área de formação académica é complicado, mas mesmo assim vou tentando, como todos os outros.
Estou inscrito em quase todas as empresas de Trabalho Temporário, mas não me chamam para nada porque tenho habilitações a mais! Esta é a verdade que está escondida!
Já fiz uma acção de formação para desempregados na área de Gestão de Recursos Humanos em 2005, que em nada contribuiu para obter emprego. Foi uma perda de tempo! Ah...e serviu para o Governo brincar com as estatísticas do desemprego, já que a minha inscrição ficou em stand by, não contando como desempregado à procura de emprego. É assim que se brinca com as estatísticas neste país!
Numa tentativa de nos animar ainda mais o Governo criou um novo programa, o PEPAL. Por acaso tenho concorrido às vagas que têm aparecido, mas nunca fiquei colocado.
Realizei estágio curricular na Câmara Municipal de Lisboa, no Departamento de Comunicação e essa experiência é sempre colocada de parte, posta de lado pelos júris que fazem as entrevistas. Isto porque, segundo me contaram em Lisboa, as vagas já estavam todas preenchidas, mas foram obrigados a abrir concurso público. Nas câmaras esta situação nota-se bastante. Nos outros organismos públicos não tenho conhecimento. Talvez, não seja assim tão vincada!
Considero que a Função Pública está decadente e que precisa de ser renovada. Afinal, Portugal tem mão de obra qualificada em todas as áreas de formação que é posta de lado pelos sucessivos governos de esquerda e de direita.
Neste momento não sei se o meu futuro passa pela comunicação. Confesso que já não sei muito bem para onde enviar o meu curriculum vitae.
Vasco,
Obrigado pelo seu testemunho, infelizmente só confirma o que tenho vindo a denunciar... O importante é não desistir e continuar a lutar pelo direito ao emprego. Espero que encontre o seu, Vasco, sinceramente!
«Afinal, Portugal tem mão de obra qualificada em todas as áreas de formação que é posta de lado pelos sucessivos governos de esquerda e de direita.»
Não tivemos nenhum governo que tomasse medidas de esquerda, no que diz respeito ao combate ao desemprego, como por exemplo incentivos fiscais às empresas que contratem licenciados.
Também nada foi feito para racionalizar os recursos humanos na administração pública. Chegou-se ao ridiculo dos estagiários ensinarem funcionarios do quadro, muitos quase no topo das carreiras, a desempenhar determinadas tarefas... E depois quem fica e quem é mandado embora?
Há que lutar contra esta situação, nem que seja pela denúncia destes casos numa caixa de comentários de um blog...
Boa sorte, Vasco!
Sim, a tarefa de procura de emprego não tem sido fácil.
Por acaso,na passada Terça-Feira estive em Lisboa numa entrevista para trabalhar no PortAventura, em Barcelona. Como sou de Coimbra tive que me levantar muito cedo, mas fui tentar a minha sorte, como as 200 pessoas que lá estavam. Até da Madeira e dos Açores vieram candidados! Apenas ficaram 50. A entrevista correu bem, mas não fiquei. O facto de ter já realizado 3 cursos de espanhol (A1, A2 e B1) não teve qualquer interesse. Já que, houve pessoas que ficaram que nada sabiam. Lá está...talvez tenha havido cunhas para alguns...ñ sei...mas que é estranho...lá isso é!Palavras para quê!!!
Enfim...
Outro Assunto Interesante é o Programa Novas Oportunidades.
Não entendo porque razão o actual Governo está tão preocupado com as estatísticas dos trabalhadores que não completaram os seus estudos. Estou a referir-me ao Programa Novas Oportunidades.
Isto porque neste momento há um número elevado de jovens licenciados no desemprego e ninguém mostra o mesmo empenho. Enfim, mas as estatísticas são mais importantes. Há que formar estas pessoas que adquiriram competências ao longo da sua profissional à toa, para a estatística...para estarmos ao nível dos restantes estados membros da União Europeia. Aí Novas Oportunidades...E que tal aplicarem o mesmo para o Emprego!
Vasco,
Mais uma vez, obrigado por partilhar a sua experiência. Para além da dificuldade em obter um emprego, ainda temos que lidar com os jogos de influência e com concursos viciados. Aliás, esse tema já foi discutido neste blog, se quiser pode ver aqui: http://my-hopesanddreams.blogspot.com/
2006/11/seleco-natural-das-espcies.html
Quanto ao programa "Novas Oportunidades", é mais uma tentativa desesperada de camuflar as fracas habilitações literárias dos portugueses. Não se trata de dotar essas pessoas de novos conhecimentos e qualificações, como seria necessário, mas apenas conceder-lhes o 9º ou o 12º ano em poucos meses... Não seria preferível apostar em cursos de formação mais exigentes? Não porque isso é mais caro, não temos de ser qualificados, só temos de parecer qualificados.
De facto, com os números do desemprego de licenciados não parece existir preocupação. Apesar de Portugal ainda estar muito abaixo da média europeia, em termos de população licenciada, nada está a ser feito para valorizar quem tem uma licenciatura, incentivando a contratação de licenciados.
Olá...
Cá estou eu de novo...
Desde o meu último post, já tive diversos empregos. Todos os trabalhos foram precários.
Trabalhei numa loja, num hipermercado, num sindicato, até chegar a minha área de formação profissional.
De Setembro de 2007 a Maio de 2008, trabalhei num jornal online a recibos verdes. Em meados de Abril, o meu trabalho começa a ser desvalorizado, em detrimento de estágios não remunerados.
Rapidamente, mudaram o meu horário e o salário!!! Por isso é que querem funcionários a recibos verdes. Desta forma, podem despedir quando querem!
Sinto-me revoltado com esta situação, porque trabalhei durante oito meses e não tenho direito a subsídio de desemprego. Ninguém imagina a revolta que eu sinto.
Mas, se não aceitasse trabalhar a recibos verdes não teria sido aceite.
Abraço.
Vasco
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