As subtilezas da verdade
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A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com o mesmo perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar.
Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Excerto de "O corpo" de Carlos Drummond de Andrade.
2 comentários:
Muito muito bom!!!
(plaf plaf plaf) <- eu a bater palmas...
Gostei imenso.
Clap, clap, clap - queres tu dizer...
Muito obrigado!! Repara como as subtilezas da verdade se aplicam tão bem a algumas pessoas nossas conhecidas... ;)
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