sexta-feira, novembro 10, 2006

As subtilezas da verdade

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A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com o mesmo perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta.

Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos.

Era dividida em metades diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar.
Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


Excerto de "O corpo" de Carlos Drummond de Andrade.

2 comentários:

Claudia disse...

Muito muito bom!!!
(plaf plaf plaf) <- eu a bater palmas...

Gostei imenso.

Hopes disse...

Clap, clap, clap - queres tu dizer...
Muito obrigado!! Repara como as subtilezas da verdade se aplicam tão bem a algumas pessoas nossas conhecidas... ;)