terça-feira, outubro 24, 2006

A “economia casino” e o regresso ao século XIX

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John Monks, secretário-geral da Confederação Europeia de Sindicatos, deu uma excelente entrevista ao jornal “Libération”, em que chama a atenção para a forma como os desequilíbrios criados pela globalização, estão a levar-nos a um retrocesso civilizacional. Regressámos ao século XIX, antes do socialismo e antes do Estado-Providência. Neste jogo existem os ganhadores e os perdedores, como se de uma economia de casino se tratasse:

«On voit les grands gagnants de ce loto: des jeunes, citadins, éduqués, à la tête d'entreprises dans la finance, le management, la communication, les services, le conseil, l'énergie... Ils surfent sur une totale dérégulation des flux financiers, l'ultralibéralisme, la vague d'immigration planétaire. Ils profitent du changement de nature de notre société. Laquelle accepte de voir les inégalités se creuser, au nom de la compétitivité, de la flexibilité et du culte du profit. On voit aussi les grands perdants, les intérimaires, les mal payés, les non-qualifiés : main-d'oeuvre interchangeable face aux délocalisations, aux chantages des multinationales et au recul grandissant du rôle de l'Etat. Les gouvernements laissent faire ou ont peur d'agir.»

Perante esta situação os governos recusam-se a agir, influenciados pelas teorias económicas que afirmam que a Europa só poderá competir com os EUA e a China, delapidando o Estado Social. Basta olhar para as politicas dos governos europeus ditos de centro-esquerda, justificada pela ideia errada de que os países com elevada protecção social, não atraem o investimento:

«Au fond, le Fonds monétaire international, la Banque centrale européenne, même la Commission, tous campent sur le dogme du consensus de Washington, qui veut que le futur du monde, le bonheur, passe par des vagues de libéralisation de l'économie. Et qu'il faut éliminer toutes les barrières qui entravent la voie au libéralisme... Cette philosophie est fausse, nuisible, et on se battra pour démontrer qu'on peut être compétitif avec une réelle dimension sociale

John Monks refere ainda que o sistema se radicalizou e se tornou mais violento, sendo que os direitos sociais conquistados ao longo dos sécs. XIX e XX se encontram ameaçados:

«Les fonds d'investissement passent d'une firme à l'autre, d'un conseil d'administration à l'autre, spéculent, détruisent, engrangent. Ce sont des parieurs sur le court terme, à la limite de la légalité, qui s'engraissent dans notre nouvelle économie-casino(...) L'équilibre est rompu. C'est le retour de l'économie de la fin du XIXe ! Avant l'essor du socialisme. Avant l'arrivée de l'Etat-providence. Avant l'éclosion des syndicats. Et ça, on ne peut pas l'accepter

Claro que é inaceitável, claro que é preocupante…. E eu pergunto, o que está a ser feito ou melhor o que pode ser feito, para que o fim do Estado Providência, não seja uma inevitabilidade?

4 comentários:

AM disse...

Cara Hopes

É esse claramente o problema número um do nosso tempo.

Um problema que á não ser encarado de frente e combatido com energia, vai trazer a miséria e a infelicidade para a geração dos que agora dão os primeiros passos (a geração da minha filha...)

Eu vi, aqui e, principalmente em Espanha, a velocidade com que uma sociedade (não, não é apenas uma economia, estúpidos) passa de atrasada e pobre, a "moderda", dinâmica, pujante...

A mesma velocidade a que a(s) vejo agora recuar.

Somos todos (eu também) muito novos, mas há ainda quem se lembre que, afinal a 2ª guerra foi apenas há uns poucos anos, que sistemas sociais complexos se fundaram, desenvolveram, feneceram e ruiram, que sobre essas ruinas outros sistemas já se fundaram e desenvolvem...

Que hoje nunca é o fim da história...

AM

Hopes disse...

Obrigado pelo comentário, AM. Fico contente que tenha achado o artigo interessante.

Concordo consigo, quando diz que este é o problema número um do nosso tempo.
Nunca se produziu tanta riqueza, nem em outro momento da história, o progresso tecnológico foi tão grande. A lógica seria que o nível de vida da população mundial, melhorasse gradualmente.
Não é isso que acontece, pelo contrário, pedem-nos que abdiquemos de direitos sociais que são fundamentais para uma vida minimamente digna.

Dizem-nos que a estabilidade no emprego é um facto ultrapassado, como se alguém pudesse ser feliz ou ter alguma qualidade de vida, se não sabe se daqui a 2 meses vai ter emprego e dinheiro para sustentar a família...

«Que hoje nunca é o fim da história...» sem dúvida. Vamos ser optimistas e esperar que um novo sistema social, mais justo e solidário se desenvolva...

AM disse...

"Vamos ser optimistas e esperar que um novo sistema social, mais justo e solidário se desenvolva... "

Vamos vamos Hopes...

Se estivermos à espera que um novo sistema social, mais justo e solidário se desenvolva, ou até que alguém o desenvolva, não tarda quem está sem emprego nem dinheiro para sustentar a família somos nós e os outros como nós.

Vamos é tentar averiguar afinal quantos somos, como nos organizamos e o que vamos fazer para defender aquilo em que acreditamos.

Se a internet serve para tanta coisa, também há-de servir para isso.

Veja como encontrou o Pedro, @ Cão, a Sabine, o Max, etc. etc. etc.

Ou fazemos algo por nós (claro que é pelos nossos filhos) ou ficamos à espera que "eles" façam....

AM

Hopes disse...

Caro AM,

Deixe-me refrasear, quando eu disse esperar que «um novo sistema social se desenvolva», não disse que nós somos intervenientes passivos.
Mas uma mudança de sistema passa sempre por uma vontade colectiva, que envolve mais de 6 pessoas... Claro que o facto das 6 pessoas, estarem atentas, trocarem ideias e de alguma forma poderem influenciar outras (através dos blogs e da net) é fundamental, mas para mim não chega...