Assim começa um interessante artigo sobre as consequências do decréscimo dos salários no Reino Unido e o seu impacto na crise económica global. Muito se tem falado da crise financeira, dos créditos, das dívidas, da especulação e muito pouco no papel dos salários, que têm estado em declínio desde os anos 60. Este gráfico compara a percentagem do PIB gasta em salários desde os anos 60 no Reino Unido e é evidente o declínio, em 2005 só 53% do PIB se traduz em salários. O autor explica a tendência pelo aumento do poder negocial dos empregadores, que se deve à erosão dos direitos laborais, ao aumento da procura de emprego e à distribuição global do trabalho. Nota-se até um aumento da produtividade superior à proporção salarial.
O mais preocupante é que o declínio salarial é mais evidente para os trabalhadores que menos ganham, das classes média e baixa. Só as classes mais altas conseguiram um nível salarial idêntico ao índice de prosperidade da economia. Para além de uma sociedade mais desigual, mais endividada e baseada em baixos salários, a consequência é a diminuição do poder de compra que perante custos de vida elevados, leva ao crescimento do endividamento das famílias. Em 1980, 45% do rendimento das famílias era emprestado, em 2007 esse valor triplica para 157% do rendimento!
A par do declínio salarial das classes media e baixa, temos um direcionamento dos lucros obtidos para o pagamento de salários de topo e bónus na área financeira, em detrimento do investimento industrial, que traria largos benefícios a longo prazo. Em vez de financiar a industria e o consumo, o investimento fluiu para produtos financeiros duvidosos e o resultado é o que está à vista. «Little of this financial merry-go-round strengthened Britain’s economic base or helped create sustainable businesses and jobs. Most of it simply encouraged financial speculation aimed at building even larger personal fortunes.»
O congelamento e declínio salarial originou a actual crise económica e comprometeu os níveis de procura necessários a uma recuperação sustentada da economia. Os desequilíbrios e o endividamento só geram instabilidade económica. Já era tempo dos decisores políticos perceberem que enquanto os salários não voltarem a constituir 60% do PIB, a solução para a crise não estará à vista.