quinta-feira, agosto 30, 2007

Medo

Quem dorme à noite comigo?

É meu segredo, é meu segredo!

Mas se insistirem lhes digo.

O medo mora comigo,

Mas só o medo, mas só o medo!


E cedo, porque me embala

Num vaivém de solidão,

É com silêncio que fala,

Com voz de móvel que estala

E nos perturba a razão.

(...)


Reinaldo Ferreira

terça-feira, agosto 28, 2007

Diz que não era grande aluno a história...

.
Cartoon de John Sherffius

"Copley News Service"


segunda-feira, agosto 27, 2007

Nelson Évora

«O atleta português Nélson Évora sagrou-se hoje campeão do mundo no triplo salto, nos Campeonatos do Mundo de Osaca, no Japão.Com um salto de 17,74 metros no terceiro ensaio, Évora, 23 anos, ultrapassou o brasileiro Jadel Gregorio (17,59 metros) e o norte-americano Walter Davis (17,33 metros), antigo detentor do título.»


Há 10 anos que Portugal não ganhava uma medalha de ouro, em campeonatos do mundo de atletismo. Já era tempo do país do futebol, mostrar um bocadinho de gratidão aos atletas de outras modalidades. Mais apoio financeiro e logístico também era bonito... Até porque as glórias do futebol, com os apoios milionários que têm, não trazem medalhas de ouro, nem campeonatos do mundo...

domingo, agosto 26, 2007

A citação: Robin dos Bosques ao contrário

«... não só ou nem tanto, por ser líder do partido socialista, mas por uma questão moral, de decência, José sócrates deve dizer ao país o que vai fazer para diminuir de forma significativa, a escandalosa desigualdade social e para acabar com uma situação que se pode dizer caricaturalmente, ser de Robin dos Bosques ao contrário. Isto é: na qual se tira (para não dizer se “rouba”) aos que mais precisam, para se dar aos que mais têm. Situação na qual muitas vezes os mais ricos, os que negoceiam com o próprio dinheiro ou jogam na Bolsa, são os que pagam menos impostos: quer por as taxas para eles serem menores, quer por se servirem dos nefandos off-shores, quer por terem ao seu serviço, pagos a peso de ouro, os especialistas em aproveitar certos “buracos”, incluindo de leis que eles próprios fizeram ou ajudaram a fazer.»


José Carlos de Vasconcelos, “Desigualdade e decência” in Revista Visão de 23/08/2007.


sábado, agosto 25, 2007

Falar de transgénicos ou de eco-terrorismo?

Mesmo no meu alheamento de férias, consegui ouvir falar de Eco-Terrorismo, Movimento Verde Eufémia e milho transgénico. Pelo que vejo muita tinta correu sobre o assunto. Não sobre o que é isso de alimentos transgénicos e que perigos apresentam para o ambiente e para a saúde. Mas sim da forma como os verde-eufémios agiram e o método utilizado descredibilizaram a causa anti-transgénicos, dando aso a discursos de «ai a extrema-esquerda rastafaria turculenta que destrói a propriedade privada e que ainda por cima é do bloco esquerda».


Até o Presidente da República, que acha que perante o incumprimento da lei o cidadão deve queixar-se aos tribunais, condenou veementemente esta acção. É que agora não estamos a falar de Alberto João Jardim e da IVG, mas sim de arruaceiros destruidores da propriedade privada. Não vá a moda pegar e começarmos a ouvir falar de edu-terrorismo, quando alguma escola fechar e os pais resolverem partir mesas e cadeiras, ou saúde-terrorismo quando fechar alguma urgência ou maternidade. Suponho que os ataques à democracia e ao estado de direito, tenham uma gravidade diferente de acordo com quem os pratica.


São lamentáveis os métodos usados pelos verde-eufémios, mas daí a falar de eco-terrorismo... Eco-parvoíce parece-me mais apropriado (como bem observou Ricardo Araújo Pereira na Visão). Mas não deixa de ser parvoíce, reduzir esta questão a radicalismos de extrema-esquerda e perder a oportunidade de debater seriamente a questão dos alimentos transgénicos. Não deixo de me perguntar se aqueles que estão tão preocupados com a extrema-esquerda, gostariam de ter no seu prato um alimento geneticamente modificado...


Parece-me interessante a leitura de alguns artigos do site da Greenpeace, que alertam contra os riscos dos transgénicos no que diz respeito à perda de biodiversidade, ao aumento da resistência aos antibióticos e das alergias. Lendo os artigos que estão aqui e aqui, encontro motivos de preocupação. Talvez seja só de mim, mas o ambiente e a nossa saúde não serão mais importantes, que um movimento de meia-duzia de arruaceiros radicais, sem qualquer expressão?

sexta-feira, agosto 24, 2007

De volta...

.

Enquanto me vou reencontrando preguiçosamente com a realidade, fiquem com as imagens que me ficaram na retina. A costa alentejana não invadida por resorts e complexos empreendimentos turísticos... E que assim se mantenha por muito tempo!!






terça-feira, agosto 14, 2007

Cansativa Silly Season

.

O mês de Agosto trouxe-nos de novo a novela mccann numa espiral de especulação e mediatismo, que é levada ao exgero. A criança está morta porque há uma mancha de sangue, é a lógica ao que parece. Os pais já não são os bonzinhos, coitadinhos… são agora os assssinos. Até uma pedo-psiquiatra nos explica como uma morte acidental ficaria bloqueada no inconsciente dos pais. Depois são as guerras entre jornalistas ingleses e portugueses. As polícias competentes e as incompetentes, as que têm os melhores cães… Em que é que tudo isto ajuda a investigação e a pequena Maddie, é o que menos importa.


Claro que temos sempre o prazer de ser entretidos com a assembleia-geral do BCP. Lá levamos de novo, com o Senhor Comendador Joe Berardo e a sua petulância e os seus atestados de incompetência. A ministra da educação faz estragos com o concurso para porfessor titular. Um bebé prematuro que nasce em plena auto-estrada, não nos deixa esquecer Correia de Campos. A ministra da cultura também dá um ar da sua graça e resolve demitir a directora do Museu de Arte Antiga, que parece ter o terrível defeito de não concordar com o actual modelo de gestão dos museus nacionais.


Felizmente que durante uma semana, ficarei afastada dos telejornais. Quando voltar nada terá mudado. Continuarão a vender-nos o crescimento económico de 1,7%. Continuaremos a divergir dos restantes países da União Europeia. E o fosso entre ricos e pobres continuará a aumentar. Não sentirei a falta da actualidade. Os meus leitores não sentirão a falta do blog.


Apesar disso, o blog continua dentro de 10 dias!

domingo, agosto 12, 2007

Centenário do nascimento de Miguel Torga

.

Viagem


Aparelhei o barco da ilusão

E reforcei a fé de marinheiro.

Era longe o meu sonho, e traiçoeiro

O mar...

(Só nos é concedida

Esta vida

Que temos;

E é nela que é preciso

Procurar

O velho paraíso

Que perdemos).


Prestes, larguei a vela

E disse adeus ao cais, à paz tolhida.

Desmedida,

A revolta imensidão

Transforma dia a dia a embarcação

Numa errante e alada sepultura...

Mas corto as ondas sem desanimar.

Em qualquer aventura,

O que importa é partir, não é chegar.


Miguel Torga

quinta-feira, agosto 09, 2007

Mas que sei eu


Mas que sei eu das folhas no outono

ao vento vorazmente arremessadas

quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas 
que pressinto no meu fundo abandono




Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta 
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha
 
Ruy Belo
Todos os Poemas

segunda-feira, agosto 06, 2007

Uma formação intelectual sólida vale por si

.

«O pressuposto é o de que a única função do ensino superior é a de servir de canal de inserção no mercado de trabalho. Uma frequência universitária que não culmine directamente no acesso a uma posição profissional ajustada às aspirações estatutárias e remuneratórias que supostamente transporta consigo, constitui, mais do que uma perda de tempo, uma traição para com aqueles que aí investiram o seu «esforço» (muitas vezes ilustrado através do sugestivo termo «queimar as pestanas») e o dinheiro dos progenitores. Este pressuposto encontra-se bem presente aqui e ali; no modo com que se abusa da inominável expressão «canudo» para se classificar um diploma de formação universitária ou de outras como «tirar um canudo para nada», quando o referido atestado não assegura o acesso a um conjunto de empregos conformes.


«Para nada» – a expressão diz tudo. Sem tradução num valor claro no mercado de trabalho, uma formação superior seria como que uma vacuidade que lança também no vazio a pessoa que a possui. Isto, como se uma formação intelectual sólida, obtida no quadro de saberes constituídos ao longo de séculos, não constituísse um valor em si mesmo, com óbvias consequências na mobilidade cognitiva e consciência crítica dos indivíduos e, por essa via, no dinamismo intelectual e cívico de uma sociedade inteira. (…)»


Estamos agora preocupados com os reflexos do desemprego dos licenciados na imagem social do ensino superior. A sociedade não pode pensar que um canudo não vale nada. A sociedade não pode deixar de compreender, que uma formação intelectual sólida vale por si. Vale por si, mas não tem de valer um emprego. Pena é que a mobilidade cognitiva e a consciência critica não paguem as contas e a alimentação. Sem negar o valor da formação intelectual, porque é as universidades não abrangem também uma vertente práctica, que a enquadre com o mercado de trabalho?


Mas a questão fundamental, está na valorização social da “formação intelectual sólida” e da “mobilidade cognitiva e consciência crítica dos indivíduos”. Por isso eu pergunto porque é esses factores não são percebidos pelos empregadores? E até que ponto as universidades e o próprio Estado, se têm esforçado em valorizar a formação intelectual?

quinta-feira, agosto 02, 2007

Starry Night

."Starry Night"

Van Gogh