sábado, outubro 31, 2009

Corrupção e elites

«José Penedos, antigo secretário de Estado de Guterres e actual presidente da REN, será constituído arguido quando regressar a Portugal, no âmbito da operação Face Oculta. Fonte ligada ao processo que investiga suspeitas de corrupção e favorecimento da empresa O2 em concursos de empresas participadas do Estado confirmou haver indícios que envolvem José Penedos. Contactado pelo i, o presidente da REN assegura estar "completamente tranquilo" e desconhecer todo o processo. Confrontado com informações de escutas telefónicas em que o empresário Manuel Godinho, ontem detido, oferece 270 mil euros ao filho, Paulo Penedos, para influenciar a renovação do contrato de gestão global de resíduos, José Penedos afasta suspeições.

(...) Já ontem outro antigo ministro de Guterres, Armando Vara - forçado a demitir-se devido ao escândalo da Fundação para a Prevenção e Segurança - foi envolvido no processo "Face Oculta". Pela sua posição de influência junto dos gestores públicos, terá tentado intervir nos concursos. É pelo menos nesse sentido que aponta uma escuta referida nos documentos que ontem acompanharam os mandados de busca. Terão sido oferecidos a Armando Vara dez mil euros para ajudar a O2.»

Este caso é bem exemplificativo do que está errado com o nosso país. A promiscuidade entre a elite politica e a económica, a facilidade com que se compram favores, a inoperância da justiça. Estamos a falar de ganhos ilícitos, de enriquecimento à custa da riqueza que todos produzimos. Perante casos destes, que sabemos que se multiplicam por esse país fora aos milhares, percebemos o quanto do PIB é sacrificado devido à corrupção. Sendo assim é natural que muitos saíam prejudicados, enquanto alguns ganham quantias avultadas e indevidas. A coesão e a justiça social ficam seriamente comprometidas.

O resultado está à vista. É esta a elite que tem cargos de poder, que domina sectores estrategicos da nossa economia e que afectam as nossas vidas. Estão lá por mérito próprio, ou porque souberam comprar favores e manipular interesses? Tudo isto perante a passividade de quem?

quinta-feira, outubro 29, 2009

terça-feira, outubro 27, 2009

Até que ponto?

Este inquérito da DECO comprova o estado de emergência social existente no nosso país, que já tenho referido em posts anteriores. Estamos a falar de pessoas que trabalharam toda uma vida e ainda assim não consegue ganhar o suficiente para a sua própria alimentação. Estas pessoas vivem no mesmo país em que «o número de pensões milionárias, acima dos cinco mil euros, subiu quase 31% desde 2006». Vivem no país em que algumas cabeças iluminadas vêm falar de congelamento de salários, porque há perigo de deflação... Pelos vistos seria preciso uma deflação para 40 mil pessoas não passarem fomes, porque nem com preços baixos conseguem pagar a sua alimentação... Vivem no país em que as mais valias adquiridas em bolsa não são taxadas e um punhado de grandes empresas e instituições bancárias obtêm lucros milionários.

Até que ponto teremos de descer, para que definitivamente se perceba que alguns terão de perder privilégios para outros não passarem fome?

quarta-feira, outubro 21, 2009

Saramago: Religião e espírito crítico

Não que eu goste de temas demasiado batidos e debatidos, mas toda a polémica gerada em torno das declarações de Saramago merece-me um comentário obvio. Ainda não somos capazes de conviver com opiniões radicalmente opostas aquilo que nos é vendido como socialmente aceite ou verdade absoluta. As críticas do autor à religião, à Católica em particular, mas não só, são conhecidas desde “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”. Está no seu direito de não gostar das historietas da Bíblia, são cruéis e desumanas, muitas serão, outras não merecerão esses adjectivos. Seja como for, já era tempo dos Católicos viverem com a diferença e aceitarem que nem toda a gente tem que idolatrar livros sagrados como verdades absolutas. Mas o que seria de esperar de pessoas que acreditam piamente que um Deus que pede à Abraão o sacrifício do seu próprio filho, é misericordioso e omni-tudo? Não me espanta que quem ache o infanticídio aceitável desde que seja uma demonstração de fé e que nunca tenha analisado criticamente todo este tipo episódios bíblicos, venha dizer que a cidadania portuguesa deve ser retirada ao escritor. Concorde-se ou não com as opiniões de Saramago, só tenho a dizer que seriamos certamente um povo melhor, se todos tivéssemos o espírito crítico deste senhor. E só mais uma observação, as reacções às declarações do Saramago só vêem demonstrar como a religião e tudo o que dito e feito em seu nome, gera intolerância, ódio e radicalismo. Se contassem os crimes feitos em nome de Deus, deixavam o Saramago em paz...

terça-feira, outubro 20, 2009

domingo, outubro 18, 2009

Sobre o neoliberalismo


«O neoliberalismo é o paradigma económico e político que define o nosso tempo. Consiste num conjunto de políticas e processos que permitem a um número relativamente pequeno de interesses particulares controlar a maior parte possível da vida social com o objectivo de maximizar seus benefícios individuais. Inicialmente associado a Reagan e Thatcher, o neoliberalismo é a principal tendência da política e da economia globais nas últimas duas décadas, seguida, além da direita, por partidos políticos de centro e por boa parte da esquerda tradicional. Esses partidos e as suas políticas representam os interesses imediatos de investidores extremamente ricos e de menos de mil grandes empresas.

À parte alguns académicos e membros da comunidade de negócios, o termo neoliberalismo é pouquíssimo conhecido e utilizado pelo grande público, especialmente nos Estados Unidos. Nesse país, muito pelo contrário, as iniciativas neoliberais são caracterizadas como políticas de livre mercado que incentivam o empreendimento privado e a escolha do consumidor, premiando a responsabilidade pessoal e a iniciativa empresarial e destruindo o peso morto que constitui um governo incompetente, burocrático e parasita que não é capaz de fazer nada bem feito mesmo quando bem-intencionado, o que raramente é o caso. Uma geração inteira de esforços de relações públicas financiadas pelas empresas conferiu a essas palavras e ideias uma aura quase sagrada. Como resultado, as afirmações que produzem raramente necessitam de defesa e são invocadas para justificar qualquer coisa, da redução de impostos sobre a riqueza e ou o abandono de determinadas regulamentações ambientais ao desmantelamento de programas de educação pública e de segurança social. Na verdade, qualquer actividade que possa interferir sobre o domínio da sociedade pelas grandes empresas é imediatamente considerada suspeita, porque estaria a afectar o funcionamento do livre mercado, tido como o único distribuidor racional, justo democrático de bens e serviços. No máximo da sua eloquência, os apóstolos do neoliberalismo, enquanto actores por conta de uns quantos endinheirados, surgem como defensores dos pobres e do ambiente, e como estando a prestar um enorme serviço à comunidade.»

Prefacio de “Neoliberalismo e ordem global: critica do lucro” – Noam Chomsky, pp. 7-8.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Boas notícias para quem?


Brian Fairrington

Cagle Cartoons

segunda-feira, outubro 12, 2009

As peculiaridades do poder local

As autárquicas são uma oportunidade para o país urbano olhar para o país rural. A realidade da grande Lisboa é muito diferente do resto do país e a forma como as pessoas votam também. Todos ficamos muito indignados quando autarcas acusados de corrupção e actos ilícitos, são ainda assim eleitos. E perguntamos onde é que está o sentido ético dos eleitores, que parecem tolerar a corrupção desde que seja em proveito do local em que vivem. Porque é que as pessoas votam nos autarcas que lhes oferecem electrodomésticos e bilhetes para o Toni Carreira? Ou nos presidentes de junta que lhes oferecem excursões ou lhes prometem médicos?

A resposta fácil seria a falta de informação e a baixa escolaridade, mas a situação parece-me mais complexa que isso. As carências das comunidades locais ao nível do emprego, das infra-estruturas conduzem a uma grande dependência e vulnerabilidade em relação aos governantes locais. Quantas pessoas nos meios rurais dependem do emprego que lhe garante o presidente da câmara ou algum dos membros do partido de poder a nível local? Quantas pessoas dependem dos munícipes para obter uma licença de construção? E o que dizer da rede de estradas e saneamento, quando as infra-estruturas são escassas e as alternativas não existem? Esta dependência tem muito a haver com a forma como o poder está organizado e com o escandaloso centralismo das políticas governativas nacionais, que acabam por deixar as populações altamente vulneráveis às políticas locais. Propicia-se uma rede de troca de favores e de caciquismo que beneficia mais quem chega ao poder do que as próprias populações.

As pessoas acabam criar uma resistência à mudança, preferem confiar em quem fez obra, mesmo escassa e de carácter duvidoso do quem chega com novas politicas. É preciso transmitir às populações que é possível um trabalho em prol da comunidade, sem que algumas pessoas beneficiem com isso e sem que se crie um jogo viciado de troca de favores. Por outro lado, o poder central teria que ter um papel de supervisão, para garantir que determinados abusos não se cometam e para que não se criem diferenças abissais de qualidade de vida entre a zona da grande Lisboa e Porto e o resto do país. Realidades de grande pobreza e carência serão sempre favoráveis ao caciquismo.

sábado, outubro 10, 2009

A história de um soldado por "Moriarty"



"Private Lilly" - Moriarty

Vai valer a pena ver estes senhores ao vivo logo à noite. A intensidade desta música é surpreendente e lembra-me os milhares de jovens soldados que vão para o Iraque e Afeganistão, porque perante a pobreza e o desemprego, o exército era a última oportunidade...

quinta-feira, outubro 08, 2009

Reflexão sobre o individualismo

Vale a pena analisar até que ponto, devemos repensar as convicções que têm fundamentado a orientação politica das nossas democracias. O que temos assistido desde o aparecimento do capitalismo, é a convicção de que o mercado e a escolha individual são os instrumentos mais eficazes de expressão da liberdade individual. Esta ideia foi levada ao expoente máximo com o neo-liberalismo actual e a ideia que a liberdade individual se baseia nas relações sociais, na solidariedade, na partilha e num socialismo ético, parece ter sido colocada de parte. Do conceito de individualismo, que é inevitável e aceitável passamos a uma sociedade baseada num individualismo egoísta, que tende a ignorar a responsabilidade social de cada um e a noção de bem-comum.

O resultado do individualismo egoísta é uma sociedade injusta e com desigualdades gritantes, em que se cria um mal-estar latente. As pessoas são pressionadas a produzir, a aumentar o lucro em prejuízo das suas vidas pessoais e na maioria das vezes, esse esforço nem se traduz na garantia de padrões mínimos de sobrevivência. O lucro que supostamente se produz não significa melhoria da qualidade de vida da sociedade no seu todo, mas apenas de uma elite ligada aos grandes grupos económicos ou ao poder político. Esta orientação para o lucro e não para o bem-comum, que deriva do individualismo egoísta mais cedo ou mais tarde, provocará uma desagregação social de consequências imprevisíveis.

Mais cedo ou mais tarde, o individualismo egoísta terá de dar lugar a um individualismo responsável e novas formas de conciliar individualidade e sociedade terão de emergir. Conceitos como socialismo ou comunismo terão de ser repensados e ajustados ao sec. XXI, sem que percam a sua essência original, que passa pela ideia de que a liberdade individual se baseia nas relações sociais, na solidariedade, na partilha, na justiça e na coesão social. Insistir numa lógica de mercado, de orientação para o lucro e de egocentrismo mascarada de esquerda ou de socialismo moderno, não é a solução e só nos levará à ruptura. E a ruptura acontecerá quando o cidadão comum perceber que a sua liberdade individual e o seu trabalho já não lhe garantem a sobrevivência, e basta olhar em volta para perceber que essa realidade, já esteve mais longe de suceder…

terça-feira, outubro 06, 2009

Especialista residente em pantufada... eheh



Gato Fedorento esmiúça os sufrágios 5/10/2009

domingo, outubro 04, 2009

Escapadinha: Buçaco




Vale mesmo a pena explorar os trilhos da Mata Nacional do Buçaco, é de cortar a respiração!

sexta-feira, outubro 02, 2009

E depois quem defrauda o Estado, são os beneficiários do rendimento mínimo...





Os negócios suspeitos do Sr. Paulo Portas, custaram ao Estado pelo menos 34 milhões de euros que ninguém sabe onde estão. Será que tal como no caso Moderna, voltará a sair desta embrulhada intocável? Depois de levar 61 mil documentos fotocopiados do Ministério, depois da Moderna e depois dos submarinos, como é que as pessoas ainda conseguem acreditar que quem defrauda o Estado são os beneficiários do rendimento mínimo e os imigrantes?