sexta-feira, março 25, 2011

O festim da crise política

O que se me apraz dizer sobre a crise política, esse festim para os mercados patrocinado pelo PS e PSD? José Sócrates não devia ter-se comprometido com um PEC 4 sem dar conhecimento à Assembleia e ao Presidente da República, mas sabemos já que verdade e cooperação não são atributos que o caracterizem. Por outro lado, o governo está totalmente refém dos mercados e da Sr.ª Merkel e não tem praticamente poder de decisão (não esquecer que isto se deve ao rumo politico que PS e PSD têm vindo a seguir há longos anos). Não havia de facto, grande margem de manobra. O PSD sabe disso, tanto sabe que se comprometeu com os outros PECs e quem já apoiou esta estratégia, não deve saltar do barco a meio da viagem. Isto é tão mais grave, quanto o PSD sabe perfeitamente que uma crise política é um festim para os mercados, que vão descer o rating e fazer subir a divida publica, numa altura em que o país, dentro de 2 meses não terá dinheiro para assegurar salários. Mas o PSD não quer saber, ao PSD só interessa o poder e não o prejuízo que provoca ao país. O PSD quer que venha o FMI, que lhe poupará o trabalho de desmantelar o Estado Social e despedir funcionários públicos. Perante isto, José Sócrates e o famigerado PEC 4 são um pedaço de céu. Se vamos a eleições antecipadas, é entre o impossível e o péssimo que os eleitores ficam. Para quê pedir uma escolha destas? Se tivéssemos um Presidente da Republica activo e preocupado, poupava-nos a isto, aceitava a demissão de Sócrates e pedia ao PS para apresentar um novo governo. O PS não consegue arranjar um líder com mais consciência social, menos arrogância, maior apetência para a verdade e para o diálogo? No entanto, tudo aponta para eleições antecipadas (estas já não ficam caras ao país, como a 2ª volta das presidenciais?), sendo o mais preocupante desse cenário, o desconhecimento total dos eleitores das verdadeiras intenções do PSD. Não sabem a elite económica e perigosa que puxa os cordelinhos da marioneta Passos Coelho, não sabem o que significa a vinda do FMI, não percebem que vão ficar sem SNS, sem escola pública e sem apoio social. Este PSD não tem nada de social-democrata é outra coisa e é bom que as pessoas se informem e percebam isto, antes de votarem.

Onde ficam os restantes partidos no meio disto tudo? O CDS-PP partilha a ambição de poder do PSD e está convencidíssimo que será necessário para uma maioria, daí o interesse no acto eleitoral. À esquerda, os partidos que se recusam a ser poder, têm sempre afirmado que existem alternativas e que são absolutamente contra este PEC. O PCP acha que o governo podia continuar e que não iríamos a eleições, posição que me parece mais responsável que o desejo avassalador do BE nas eleições antecipadas. Um partido de esquerda responsável não pode desejar eleições que vão colocar no poder um partido de direita neo-liberal. Será o BE ingénuo ao ponto de pensar que o PSD não ganha as eleições? Ou pensará que obtém mais votos, depois da jogada politica da moção de censura, que mostrou aos eleitores que os queriam diferentes, que fazem tanta politiquice como os grandes partidos e ainda abrem a porta ao Passos Coelho? Têm toda a razão em apontar políticas alternativas, concordo absolutamente, mas sejamos pragmáticos, a realidade actual é que o governo está sem margem de manobra (a politica da UE não admite alternativas) e a direita mais neo-liberal de sempre pode chegar ao poder. É isso que querem?

Nota: A imagem é um cartoon de Quino.

segunda-feira, março 21, 2011

Dia Mundial da Poesia



António Ramos Rosa, "Passagem"

sexta-feira, março 18, 2011

E agora?

300 mil pessoas saem à rua e a única reacção do Primeiro-Ministro é manifestar compreensão, tendo em conta que na véspera anunciou o chamado PEC 4. No mínimo, podia ter anunciado medidas para transformar os falsos recibos verdes em contratos de trabalho. Qualquer coisa que desse alguma esperança às gerações que se uniram numa expressão comum de indignação. Qualquer recompensa pela maturidade cívica que as pessoas demonstraram, sempre ordeiras e pacatas. Nenhuma... a recompensa foi o anúncio de mais medidas de austeridade desigualmente distribuídas. É aceitável que se congelem pensões de 200 euros e se facilite os despejos, enquanto se desce o IVA do golfe de 23% para 6%? Não será isto empurrar cidadãos pacíficos para soluções populistas de extrema-direita, agravando a indignação e colocando em risco a própria democracia? Não se pode negar que a manifestação de 12 de Março foi de profundo descontentamento com a classe politica, com a corrupção e a governação em função de grandes interesses económicos. E o governo reage confirmando esta ideia.

Só nos resta esperar que os cidadãos resistam ao discurso anti-democrático, tenham em mente que o discurso da direita é o das privatizações, do fim de serviços públicos essenciais e do “despedimento por razão atendível” e que saibam ver onde está a verdadeira alternativa. Resta esperar que saibam capitalizar o descontentamento em novas iniciativas de protesto, a favor de uma democracia pura, da seriedade politica e da afirmação dos direitos ao trabalho, à igualdade e à felicidade. O importante é não desmobilizar até a mudança acontecer, precários, trabalhadores, sindicatos, filhos, pais e avós podem unir-se na exigência de uma politica alternativa. Sendo assim não me parece incompatível que quem saiu à rua no dia 12, volte a fazê-lo amanhã e no dia 25 de Abril!

sexta-feira, março 11, 2011

12 de Março e o direito a expressar aspirações legítimas

Muito se tem falado da manifestação de amanhã, das intenções ou movimentações políticas que possam estar na sua origem. Acenam-se fantasmas de extremismos de esquerda e de direita, de anarquistas a fascistas. Ignora-se o fundamental, que é tão simples quanto isto, é impossível sobreviver com baixos salários, sem direitos ou garantias sociais ou laborais e sem qualquer perspectiva de melhoria deste quadro dramático. Pelo contrário, o que se tem verificado é um agravamento e uma deterioração das condições de vida e de trabalho. O mais chocante é que se sabe dos lucros obtidos pela Banca e pelas grandes empresas, como a EDP, a GALP, PT, Jerónimo Martins e etc, sabe-se da corrupção e do tráfico de influencias, da promiscuidade entre estas elites, entre políticos, gestores públicos e grandes empresários. A crise, as dificuldades económicas não passam por eles e toda a gente percebe que isso não só não é justo, como é profundamente imoral e errado.

Portugal é o segundo país da Europa com maior percentagem de trabalhadores contratados a prazo, segundo os dados mais recentes do European Company Survey. Estima-se que 2 milhões de pessoas estejam numa situação laboral precária, 600 mil desempregados, quantos mal remunerados, quantos sem rendimento ou com reformas miseráveis? Mais que uma geração, são várias gerações afectadas, as que não se auto-sustentam vão sobrecarregar outras que as ajudam a subsistir... Esta realidade pode continuar, perante o nosso silêncio e a nossa inacção? Uma realidade diferente é possível e há falta de estratégia mais eficaz, é na rua que as pessoas se fazem ouvir. E porque não amanhã? Sem aproveitamento político, porque o direito à felicidade e à qualidade de vida, está acima de qualquer politiquice e é uma aspiração legítima do ser humano!

terça-feira, março 08, 2011

Are We Equals?


Não sei se é impressão minha ou o feminismo passou de moda. Como se as mulheres tivessem de repente conquistado salários e direitos iguais, como se não fossem sobrecarregadas com o fardo das tarefas domésticas e a educação dos filhos, como se não fossem cada vez mais sacos de pancada em relações destrutivas, que em números assustadores, aumentam anualmente. Quantas mulheres perdem a sua identidade e a sua dignidade para acumular o impossível papel de excelente profissional, boa mãe, esposa dedicada? Quantas se deixam assediar e humilhar para ser o que a sociedade e os homens esperam delas? Estou a exagerar? A ser feminista fora de moda? Os factos falam por si:


Mulheres despedidas duplicam em dois anos


Desigualdades persistem no centésimo dia internacional da mulher


Mulheres são "mais sacrificadas" com a crise e o desemprego


43 mulheres foram mortas em Portugal em 2010, vítimas de violência doméstica: 250 mortes em 7 anos


Relação de Coimbra confirma que dar duas bofetadas na ex-mulher não é violência doméstica


Um quarto dos namoros adolescentes são violentos

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