segunda-feira, janeiro 31, 2011

Pela liberdade ou pela justiça social?



Muito se tem falado da Tunísia e do Egipto, dos levantamentos populares em nome da democracia. O que está em causa são uns terríveis ditadores, cuja opressão se tornou insuportável para as populações. Mas estes levantamentos, mais que a liberdade exigem justiça social. Se a liberdade fosse a única coisa em causa, já teríamos assistido a estas movimentações há anos atrás. Sem querer desvalorizar a defesa da liberdade, que é fundamental, chamo a atenção que se exige mais. Será coincidência que os Média não falem no desemprego, no aumento do custo de vida, nos jovens licenciados sem perspectivas e num contexto de completa crise social, que foi o rastilho de pólvora para os levantamentos populares? Claro que não, podiam as pessoas começar a fazer comparações... afinal de contas, em Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda, não há desemprego, pobreza e jovens licenciados sem perspectivas...

O melhor é mesmo que cá se pense, que lá longe existem uns povos a pedir democracia e a lutar contra os ditadores maus. Nada disto tem a ver connosco! Os nossos problemas não têm nada a ver. Nós não precisamos tanto de justiça social, de igualdade de oportunidades, de emprego e direito à felicidade como precisamos de democracia e de liberdade... Espero sinceramente que tunisinos e egípcios vençam esta batalha e que a sua luta pela justiça social e por uma democracia fraterna, venha a ser também a nossa.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Mais Cavaco não!

Em véspera de eleições presidenciais, não posso deixar de justificar o meu redondo não a mais cinco anos de Cavaco Silva. Só um candidato levado ao colo pela comunicação e por elites muito influentes deste país, consegue escapar impune ao escândalo das mais valias com a venda da SLN, a permuta sem escritura da vivenda de luxo na Aldeia da Coelha propriedade da SLN. Tudo isto acompanhado de uma total ausência de explicações. E o que dizer da persistente defesa dos mercados e deste plano de austeridade? E a posição perante o estado social, que se resume à caridadezinha privada? E no conservadorismo demonstrado quando tratou temas como o casamento gay e a mudança de sexo, no completo desrespeito pela liberdade individual? Do caso das escutas, já ninguém se lembra porque foi sacrificado um homem da sua confiança? E o que dizer da conversa mesquinha e machista da reforma de 800 euros da esposa, vindo de alguém que acumula reformas, num país onde há reformas de 200 euros?

Se ainda assim encontra justificação para votar Cavaco Silva, aconselho a leitura dos posts destes excertos:

«Insistiu na mesma lógica de subalternização aos mercados e à Alemanha e França, que nos trouxe ao atoleiro em que estamos. Seria pior? Como se os juros da divida não parassem de subir… Pode dizer que a imprensa é suave e ninguém se indigna... E o que dizer, da insistência em remeter para o site da Presidência? Ele não tem que informar, nem explicar aos eleitores, eles que vão ler e informar-se, não é para isso que servem os debates? Mas para quê esclarecer que as falcatruas do BPN, foram da responsabilidade dos seus protegidos políticos e que graças a isso, Cavaco Silva obteve lucros de 100%? Então um economista, um homem de finanças não acha estranho as margens de lucro que teve, não suspeitou de nenhuma ilegalidade? Atreve-se a comparar as suas poupanças às da generalidade dos portugueses?»


Repito: Votem em quem quiserem, mas no conservador, subserviente, falso moralista que enriqueceu à custa das ilegalidades do BPN, arrogante e defensor da caridadezinha, não!

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Sobre o “Inside Job – A verdade da crise”

Finalmente consegui ir ver o “Inside Job – A verdade da crise”. Vale mesmo a pena ver, não só pelas revelações das promiscuidades entre os banqueiros/políticos/economistas, que isso já não é novidade, mas sobretudo pelas entrevistas aos protagonistas da crise e verificar as respostas e justificações que dão. É assustador verificar que ficamos na dúvida, se as pessoas são desonestas e sabem que o são e não se importam, ou se pior ainda, não percebem que estão a fazer algo desonesto porque já estão formatados para pensar friamente na obtenção do lucro, sem qualquer espécie de noção ética. Dou um exemplo. Num dos excertos das comissões de inquérito no senado, um senador pergunta a um dirigente da Goldman Sachs, baseado num mail de um colaborador seu, referindo-se uma determinada empresa como sendo uma “merda”, porque é que ele vendia aquela empresa aos clientes/investidores como lucrativa. Interrogava-se se ele não achava que isso era fraude. A resposta foi que a preocupação com cliente era apenas na perspectiva do dinheiro que lhe daria a lucrar e não com a verdade. O único problema ali foi que o colaborador não devia ter escrito essa informação num e-mail.

É impressionante como não só não se vê qualquer sentido de ética, como também não existe a mais elementar noção de bem ou mal… Ao contrario deste dirigente, um tipo que rouba uma carteira, sabe que está a fazer mal, o que mostra como estas pessoas são extremamente perigosas. E o mais espantoso, é que nenhuma acusação formal foi feita, nenhum processo judicial está em curso. Aliás quando o Estado injectou os primeiros milhares de dólares, para tentar resgatar a AIG, a contrapartida era que esta não agisse judicialmente contra a Goldman Sachs por fraude.

Mas voltando aos protagonistas da crise, tenho que destacar Frederic Mishkin. Professor de economia da escola neoliberal pura e dura, que como os seus colegas, enriqueceu e ganhou prestigio a vender artigos, estudos ou serviços de consultadoria financeira a países/empresas pró-desregulação, até chegar à Reserva Federal. Este senhor escreveu uma obra bastante séria sobre a economia da Islândia, financiada pelo próprio governo islandês, a elogiar a estabilidade do sistema financeiro, isto já com indícios que aquilo ia rebentar. E quando o jornalista pergunta em que se baseou ele, gaguejou «nas informações a q tive acesso», percebe-se na expressão dele, que não tinha como fundamentar nada, aquilo teve tanto de investigação científica como a astrologia. E a melhor é que o estudo chamava-se "Financial Stability in Iceland" e convenientemente no CV actual do Professor, o livro chama-se "Financial Instability in Iceland"… por isto recebeu 124 mil dólares.

São pessoas como Mishkin que estão no governo a bloquear medidas de regulação do sistema financeiro, que fazem lobby junto do Senado, que estão na Goldman Sachs, em bancos de investimento como o Merril Lynch e nas famosas agencias de rating, Moody's, a Standard & Poor's e a Fitch. Foram estas agências que classificaram de AAA instituições de crédito e empresas que apresentaram falência dias depois, as mesmas que hoje especulam com a nossa divida. E apesar das evidências de falta de credibilidade, continuam a fazer o que sempre fizeram sem qualquer supervisão, processo judicial, numa total impunidade… Os contribuintes pagaram e vão continuar a pagar a pesada factura da recessão, do desemprego, da perda de poder de compra e de qualidade de vida. “Inside Job – A verdade da crise” mostra claramente como isso aconteceu e quem são os culpados.

sábado, janeiro 01, 2011

2010: o meu balanço

Andei pelo meu blog, a ver o que eu sentia nos últimos dias de Dezembro dos anos que passaram. É incrível como as preocupações se repetem e todos os anos lamento «O olhar triste daqueles que deixaram de acreditar que o próximo ano será melhor». Aqui fica o ano de 2010, revisto pela minha memória subjectiva e selectiva:

A música
“The suburbs” – Arcade Fire
“A Day In The Day Of The Days” - Noiserv
“High Violet” – The National
“Lights&Darks” – Rita Redshoes

O poema
“Mistério do mundo” – Fernando Pessoa
“Invictus” – William Ernest Henley

O filme
“Shutter Island”
“Inception”
“New York I love you”

A série
Nada de novo, como “Lost” acabou, continua a ser “House MD”, “Fringe”, “Dexter” e “The daily show with Jon Stewart”

Preocupante…

Os odiosos planos de austeridade a pretexto da crise financeira provocam uma verdadeira catástrofe social e o aumento da pobreza
A escandalosa protecção à banca e ao sistema financeiro
A acção dramática do FMI na Irlanda
O aumento de catástrofes naturais causadoras de muitas mortes e prejuízos (sismos no Haiti, Chile e China, cheias no Paquistão…) que só levam a pensar que a ganância do homem e a destruição do meio ambiente, terá um preço cada vez mais elevado
O que acontece quando se denunciam os podres da democracia – caso Wikileaks e prisão de Julian Assange

Por cá, não menos preocupante…

Batem-se recordes dramáticos: 600 mil desempregados, 20% da população é pobre, 40% ganha menos que 600 euros mensais
Os planos de austeridade do governo socialista de direita, empenhado em arruinar os mais desprotegidos, doentes, desempregados
Sistematicamente é excluída dos sacrifícios uma elite que controla a banca e o sistema económico em geral, cuja promiscuidade com o poder politico é evidente
Lançam-se as fundações de uma recessão em 2011, que lançarão milhares na pobreza e no desemprego, numa injustiça social sem precedentes
O olhar triste daqueles que deixaram de acreditar que o próximo ano será melhor, que vejo desde 2006 e infelizmente volto a ver este ano... (sim, infelizmente repeti-me)