quarta-feira, dezembro 31, 2008

Olhar para 2008

Comecei este blog em 2006 e desde aí no final de cada ano, faço o exercício de rever o ano que passou. Sei que não é original, mas é interessante. Como a memória é falível, reli os meus posts dos anos anteriores. Impressiona a forma como as inquietações se repetem, sempre perturbadoras. Mostram o ridículo dos nossos desejos de bom ano novo. Mas porque não fazê-lo à mesma? Mais ridículos não ficamos... Bom ano novo de 2009!!!

Aqui fica o ano de 2008, revisto pela minha memória subjectiva e selectiva:

A música
“Golden Era” – Rita Redshoes
A nível internacional as minhas bandas não fizeram nada de novo, passei o ano a ouvir música de anos anteriores, fica o menos mau:
“Viva la vida or death and all his friends” – Coldplay


O livro
Li uns livrinhos bestiais que já devia ter lido há imenso tempo, mas vale mais tarde que nunca:
“1984” – George Orwell
"Admirável Mundo Novo" - Aldous Huxley


O poema
“Há palavras que nos beijam” - Alexandre O'Neill
“Muros” – Amalia Bautista

O filme
“Blindness” – Fernando Meirelles
"Burn after reading" - Irmãos Coen
"Zeitgeist adendum"

A série
Nada de novo, continua a ser “House MD”
“The daily show with Jon Stewart”
"Contemporâneos"

Preocupante…
Ossétia do Sul, Zimbabwe, Médio Oriente... perante a passividade da ONU
A tremenda crise financeira não fez cair o capitalismo neoliberal
A escandalosa protecção à banca
Derivas securitárias que vão custando direitos e liberdades por todo o mundo
A possibilidade de Obama não ser o Heroi que todos esperam...


Por cá, não menos preocupante…
Um governo socialista de direita, arrogante e de capaz da mais odiosa propoganda
Fraudes e corrupção
Escandaloso monopólio das gasolineiras e o efeito sobre os preços dos combustiveis
Agrava-se o fosso entre ricos e pobres
Os mesmos de sempre pagam a crise enquanto a banca e as grandes empresas têm lucros e protecções extraordinários
Desemprego, precaridade e o novo Código do Trabalho

O olhar triste daqueles que deixaram de acreditar que o próximo ano será melhor, que vejo desde 2006 e infelizmente volto a ver este ano...

terça-feira, dezembro 30, 2008

As palavras que perdi ontem...

Detesto quando isto acontece. Ontem pensei num texto muito razoavelzinho para postar no blog. Acontece que não tinha onde escrever. Hoje que tenho o écran vazio à minha frente, não me sai nada de espirituoso. Podia tentar lembrar-me das palavras, mas já não saem da mesma forma. Não ia adiantar. Mais vale articular um discurso inflamado contra as incursões israelitas na faixa de Gaza. Os bombardeamentos a supostos ninhos de terroristas ceifam a vida de centenas de civis inocentes, mas esse é sempre um dano colateral justificado. É um argumento que se torna aborrecido, já para não julgar a ética e a moral de quem o profere. E atenção que o meu discurso inflamado aplica-se também ao Hamas, aos turcos e ao terrorista que se explodiu junto a uma escola no Paquistão.

O meu texto de ontem não era sobre a guerra. Era sobre estar acorrentado a uma realidade que não se quer viver. O que até tem muito a ver com o que estou a escrever agora. Quem havia de querer esta realidade? Bombas como prendas de Natal, subtilmente para ninguém ver, para ninguém se indignar. Sim indignar-se! Que mais pode um acorrentado fazer, senão indignar-se.

No meu texto de ontem falava de uma fuga para um mundo, onde ninguém me consegue acorrentar, onde eu sou livre de gritar o que quero. Soava bem melhor ontem. Uma fuga para puder ser quem eu sou. Ia fazer o que eu sei fazer bem e não o que me obrigam a fazer. Se calhar também ia mudar o mundo, mas adormeci antes dessa parte. Lembrei-me porque tinha essas correntes, tinha de sobreviver, tinha de comer e de pagar uma casa. Não fosse alguém pensar que desacorrentar-me era uma opção.

A fuga era real, lembro-me agora. A fuga era esta. Este écran vazio. O meu blog. O meu mundo virtual. Isso não me tiram, aqui não me podem acorrentar. Aqui vejo quem eu sou e o que sou capaz de fazer. Vi o valor que as correntes não me deixam ver. Vi-me a mim, já me tinha esquecido quem eu era. Ontem sorri e sentia-me bem. Sim, aqui não me podem acorrentar e sim aqui posso mudar o mundo. Pena é que essas palavras se tenham perdido para sempre... Escrevo outras, escrevo sempre...

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Oskar Lafontaine sobre a Esquerda II: A crise financeira

«Hoje, as forças motoras do capitalismo já não são os empreendedores, mas os investidores financeiros. É o capital financeiro que governa o mundo e que instaura globalmente uma economia de jogos de casino. A crise dos mercados financeiros era portanto previsível e esperada pelos peritos. No entanto, os governos não fizeram nada para impedir esta crise. Nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, as elites políticas julgaram útil a especulação desenfreada. E o continente europeu inclinou-se frente a este juízo. Mesmo durante as fases em que a maioria dos governos europeus estava formada por partidos afiliados à Internacional Socialista, nenhuma medida foi tomada. A perda da dimensão crítica no que concerne ao capitalismo afundou lamentavelmente toda a política oportunista dos partidos socialistas e sociais-democratas. Se fosse necessário uma prova de fracasso, a crise actual dos mercados financeiros é essa prova.

Se fosse necessário uma prova, que nós, a esquerda crítica, não somos regressivos, que não procuramos no passado os remédios contra os males de hoje, tal como nos condenam constantemente os liberais e os conservadores, se fosse necessário uma prova, esta crise é essa prova. Desde o início dos anos 90 e a consequente mundialização, a esquerda, e eu inclusive, não temos tido descanso em reclamar a regulação dos mercados financeiros internacionais. Mas a opinião pública neoliberal troçou das nossas opiniões pelos vistos consideradas retrógradas. Disseram-nos que a lógica da mundialização não era compatível com a regulação, pregaram que não se devia nem por nada travar o comércio livre e o livre fluxo transnacional dos capitais, que toda regulação era uma solução caduca, regressiva. E agora, o que fazem os neoliberais na América do Norte e na Inglaterra? O que fazem os conservadores na Alemanha e em França? Ora bem, pretendem regulamentar. Aqueles que nos acusaram de regressão política, quando pedíamos a nacionalização de alguns sectores bancários para evitar a crise, que fazem agora? Ora bem, fazem de conta que nacionalizam os bancos em nome do futuro.

Agora socializa-se as perdas e faz-se pagar os grupos mais vulneráveis da sociedade pela falha do sistema. Agora, organizam-se pomposas cimeiras internacionais para regular os mercados financeiros. Mas, não nos enganam, pois os elefantes vão dar à luz um ratinho. Vão fechar o casino? Claro que não, desenganem-se! Vão apenas mudar radicalmente as regras do jogo no casino? Claro que não! O que vão fazer é elaborar com grande estrondo verbal um novo código de comportamento para os banqueiros da roleta. Nada vai mesmo mudar.»

terça-feira, dezembro 23, 2008

Feliz NATAL!!!

NATAL NA ALMA


Nem uma estrela
Nem uma estrada
Nem quem se atreva
Nem quem se atarde
a abrir as portas
da sua casa
A esta hora
só emboscadas

Nem uma vela
nem uma trave
A chuva geme
o vento estala
Quem nos acode
E Jesus nasce
a esta hora
mas embuçado


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Nem uma prece
Nem uma praga
Ao menos era
melhor que nada


David Mourão-Ferreira

sábado, dezembro 20, 2008

Oskar Lafontaine sobre a Esquerda

Oskar Lafontaine esteve na origem do "Die Linke", um projecto alemão de refundação da esquerda, que apesar de só ter 2 anos e meios conta com o apoio de 12% dos eleitores alemães. Deixo alguns excertos das suas declarações sobre o problema da esquerda actual e da necessidade de profundas alterações:

«Ao início da minha carreira política, há cerca de 40 anos, as posições dos partidos de esquerda na Europa ainda eram relativamente claras, as suas missões estavam bem definidas. Ainda não havia esta uniformidade centrista que os grandes partidos revelam hoje.

(...) Quer seja na Inglaterra, quer na Alemanha, quer em Espanha, quer em França ou alhures, a distância entre a teoria e a prática política é sintomática para a história do socialismo da Europa do Oeste. Quase sempre e quase por toda a parte, os dirigentes dos partidos socialistas abandonaram os seus princípios - frequentemente contra a vontade da massa dos militantes - em troca de uma pasta governamental.»

Lafontaine propõe ainda um conteúdo programático claro e coerente, insistindo na nacionalização de sectores estratégicos e no reforço dos serviços públicos:

«Contra a ideologia de privatização pregada pelos porta-vozes do neoliberalismo, salvaguardamos a ideia de uma economia pública sob controlo democrático. Preconizamos uma economia mista onde as empresas privadas, a grande maioria, estão lado a lado com as empresas nacionalizadas. Sobretudo as empresas de que dependem as necessidades fundamentais para a existência da sociedade - o sector da energia por exemplo, ou até o sector bancário, na medida em que é indispensável para o funcionamento de toda a economia - devem ser nacionalizadas.

Voltamos a pôr na ordem do dia a questão da autogestão operária e a participação dos empregados no capital da sua empresa, que parece estar hoje esquecida.

Lutamos contra uma política de desmontagem social que dá prioridade aos interesses dos investidores e que faz pouco da injustiça social crescente, da pobreza de muitas crianças, dos salários baixos, dos despedimentos nos serviços públicos, da destruição do ecossistema. Lutamos contra uma política que sacrifica o que nos resta de uma opinião pública deliberativa ao rendimento do capital financeiro. Não aceitamos a privatização dos sistemas de providência social, nem a privatização dos serviços de transportes públicos. Também não aceitamos a privatização do sector da energia e ainda menos a privatização do sector público da educação ou da cultura. A nossa política fiscal quer voltar a dar ao estado os meios para cumprir as suas funções clássicas. »

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Há momentos que vale a pena partilhar

Para quem não teve a sorte de a ouvir ao vivo:



Rita Redshoes, cover de "My body is a Cage" dos Arcade Fire.

terça-feira, dezembro 16, 2008

E viva a Alta Finança!

Já há algum tempo que não amesquinho a alta finança. Com sucessivos escândalos impunha-se mais um post. Pelos vistos, nada como uma crise financeira para os podres do sistema virem ao de cima. Ficamos a saber que existem senhores premiados com 10 mil euros/dia, porque tiveram um enorme sucesso a elaborar fantásticas engenharias financeiras, que envolvem offshores, especulações bolsistas e mais umas coisinhas profundamente ilegais. Coisas que até têm nomes sonantes como Insider Trading... Contentes devem ter ficado os milhares de Tugas, que levam as suas vidinhas a trabalhar arduamente no cumprimento da Lei e nem dez mil euros ganham por ano. Ah... o capitalismo neo-liberal é uma coisa tão bonita!


Quem partilha desta opinião, é aquele senhor americano, o Bernard Madoff, também ele generosamente remunerado e premiado por cometer as mais impressionantes engenharias financeiras, curiosamente ilegais. Antes génio da Finança e agora, pós-crise financeira, vai-se a ver... um caloteiro do caraças. Não fosse a crise, ninguém descobria a falcatrua na ordem de 50 milhões de dólares. Só me pergunto, como é que essa coisa tão bonita que é o capitalismo neoliberal, permitiu que a ilustre elite financeira perdesse assim 50 milhões de dólares... Mas nada temam, o Estado cá está para salvar os vossos traseiros milionários!!

Nota: Felizmente há quem faça melhores piadas e sem usar a expressão "traseiros milionários". Vale a pena ver o génio dos Contemporâneos aqui.


domingo, dezembro 14, 2008

A não perder...

O Programa do Aleixo... ainda bem que há mais humor em português, para além de Gato Fedorento e Contemporâneos. O estilo é diferente, mas não deixa de ter imensa piada. Aqui fica um pequeno exemplo:



Episódio 3 - Entrevista com Fernando Alvim

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Comentários em atraso...

Ainda que com algum atraso, não podia deixar de comentar os números de circo patéticos que foram as entrevistas de Dias Loureiro e de Vítor Constâncio, o segundo com direito "A Grande Entrevista" Especial. São os dois coitadinhos, ingenuozinhos, limitadinhos e não sabiam nada, não viram nada e confiaram muito na honestidade do administrador do BPN.

Dias Loureiro apesar dos negócios suspeitos do BPN que envolvem offshores, investidores árabes traficantes de armas e negócios esquisitos, continua conselheiro de Estado. Até dá jeito ter imunidade nestas alturas. Já Vítor Constâncio, não se apercebeu de nada, porque estes negócios ocultos são por definição ocultos (aprendi uma desculpa nova, para quando asneirar... até soa a boa desculpa) e até acha que os 6 milhões de lucro da Banca no último trimestre, só justificam o apoio do Estado. Gosto desta lógica dedutiva. Mas pelo menos, já se apercebeu que estamos em recessão, podia ser pior, a cegueira não é total...

Outro comentário em atraso, mas que tinha que destacar, são os motivos que o Primeiro-Ministro aponta para a melhoria de vida dos portugueses no próximo ano: A descida do preço dos combustiveis, das taxas de juro e da inflação! Mas por acaso o Governo teve alguma responsabilidade nesses factos? Só melhoramos onde o Senhor Primeiro-Ministro não meteu a mão, francamente... No entanto, é coerente da sua parte tirar proveitos políticos do que não lhe diz respeito! Quanto à vida do portugueses... em recessão técnica... será de uma melhoria espantosa...

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Provocaçãozinha

Ainda a pensar no post anterior, aqui fica uma provocaçãozinha:

"I predict a riot" by The Kaiser Chiefs:


terça-feira, dezembro 09, 2008

Precisamos de lutar pela democracia e pela liberdade, pelo direito à própria vida?

A agitação social que se vive na Grécia, chega-nos através dos Média, como uma mera reacção de indignação à morte de um jovem pela polícia. Tem passado despercebido a actuação do governo grego, a grave crise ecónomica e social, escandalosos crimes de corrupção e um desemprego juvenil que ronda os 22,9%. Só isso explica que um caso específico, ainda que dramático, tenha levado a uma revolta popular, como há 35 anos não se via naquele país.. É bom que se perceba porque este comunicado, fez eco junto das pessoas:

«Não há desculpas. O rapaz de 16 anos figura já ao lado de todos os jovens lutadores - Petroulas, Komninos, Koumis, Sotiropoulou, Kaltezas - que foram privados da vida apenas por amarem a liberdade.

Na Grécia, sob o governo da Nova Democracia, é um crime ser jovem. As balas não são a única armas usada para matar a juventude. Os jovens são assassinados pelo desemprego, pela insegurança, pela invasão do lucro no sistema educativo, pela falta de esperanças e de perspectivas.

A Nova Democracia não pode continuar no governo. Chamamos a juventude - os alunos, os estudantes, os jovens trabalhadores de todas as cidades - a responder maciçamente, pacificamente e de forma militante. Junto com a luta pelo direito ao emprego, junto com a luta pelas universidades estatais, precisamos lutar pela democracia e pela liberdade, pelo direito à própria vida. Quando estes forem conseguidos pela nossa juventude, então a memória do seu colega será plenamente honrada. A palavra de ordem: "Pão, educação, liberdade" ganha de novo actualidade.»

O que eu não percebo é como é que só os gregos se aperceberam do desemprego, da insegurança, da falta de esperança e perpectivas. Este cenário é demasiado familiar ou há quem se esforce, muito mais cá do que na Grécia, para que passe despercebido? Teremos que esperar muito até os portugueses chegarem lá?

De repente, vem-me à cabeça uma frase que ouvi do Bill Maher:

«O verdadeiro eixo do mal é a genialidade do marketing, combinada com a estupidez do nosso povo»

segunda-feira, dezembro 08, 2008

A condição humana numa sala de cinema


Fui ao cinema ver o “Ensaio sobre a cegueira”. Como o cinema está localizado num mega centro-comercial apinhado com uma turba consumista, até ia altamente predisposta a maldizer a condição humana. Apesar de tudo, senti um murro no estômago. A humanidade será assim tão mesquinha, tão pronta a descer tão baixo, mesmo perante as contrariedades e estando em causa a sobrevivência?

Sentia-me tentada a defender a espécie, até olhar em volta. Bastou olhar para aquela sala de cinema. Sem catástrofes, nem em situações limite, os seres humanos à minha volta conseguiram fazer da sala uma pocilga, obrigaram-me a perder 20 minutos do meu tempo a ver publicidade que eu não pedi, nem paguei para ver e ainda ouvi o mesmo telemóvel tocar por várias vezes durante o filme. Dignidade, ética, moral? Nem no dia-a-dia, muito menos em situações limite...

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Negro dentro de mim...

Só a escuridão. A escuridão que se vê quando se fecha os olhos e se vê: a cor negra e os pequenos seres de luz que a habitam. Sem conseguir olhar fixamente para o negro ou para a luz. O negro dentro de mim. As figuras de luz que o quebravam. Um negro tão absoluto, tão profundo e tão infinito que o olhar avançava por ele sem encontrar um lugar onde pudesse deter--se. Abri os olhos. Dentro de mim era vazio. Com o olhar sobre o corpo da minha mãe, via na janela o céu subitamente negro. A noite. A ideia do meu braço a tremer. O céu negro como o meu interior. E o céu, negro, negro, negro, rasgou-se como se todo o céu e toda a sua escuridão fossem um pano negro sobre o mundo. O céu rasgou-se num ruído de rochas a afastarem-se depois de milhões de anos. E o céu gritou um trovão que era a voz do mundo e da escuridão, um trovão que era a voz de todo o sofrimento do mundo. Um grito de terror. O céu e o mundo a dizerem um grito negro que explodia dentro de mim. Todo o sofrimento do mundo explodiu dentro de mim. A chuva começou a cair em gotas grossas sobre a noite. A chuva era feita de gotas grossas e negras que caíam do céu e que lançavam sobre a terra todo o sofrimento e toda a escuridão. Entrava chuva no quarto. (…) Entrava vento que trazia chuva e mais sofrimento e mais escuridão. A noite e a escuridão e o sofrimento eram como se tivesse passado os portões de ferro da morte. O céu gritava trovões, e a morte, repetida, enchia a casa e explodia dentro do meu peito vazio e negro.


José Luís Peixoto, "Uma casa na escuridão", p.173