Reflexão sobre o individualismo
Vale a pena analisar até que ponto, devemos repensar as convicções que têm fundamentado a orientação politica das nossas democracias. O que temos assistido desde o aparecimento do capitalismo, é a convicção de que o mercado e a escolha individual são os instrumentos mais eficazes de expressão da liberdade individual. Esta ideia foi levada ao expoente máximo com o neo-liberalismo actual e a ideia que a liberdade individual se baseia nas relações sociais, na solidariedade, na partilha e num socialismo ético, parece ter sido colocada de parte. Do conceito de individualismo, que é inevitável e aceitável passamos a uma sociedade baseada num individualismo egoísta, que tende a ignorar a responsabilidade social de cada um e a noção de bem-comum.
O resultado do individualismo egoísta é uma sociedade injusta e com desigualdades gritantes, em que se cria um mal-estar latente. As pessoas são pressionadas a produzir, a aumentar o lucro em prejuízo das suas vidas pessoais e na maioria das vezes, esse esforço nem se traduz na garantia de padrões mínimos de sobrevivência. O lucro que supostamente se produz não significa melhoria da qualidade de vida da sociedade no seu todo, mas apenas de uma elite ligada aos grandes grupos económicos ou ao poder político. Esta orientação para o lucro e não para o bem-comum, que deriva do individualismo egoísta mais cedo ou mais tarde, provocará uma desagregação social de consequências imprevisíveis.
Mais cedo ou mais tarde, o individualismo egoísta terá de dar lugar a um individualismo responsável e novas formas de conciliar individualidade e sociedade terão de emergir. Conceitos como socialismo ou comunismo terão de ser repensados e ajustados ao sec. XXI, sem que percam a sua essência original, que passa pela ideia de que a liberdade individual se baseia nas relações sociais, na solidariedade, na partilha, na justiça e na coesão social. Insistir numa lógica de mercado, de orientação para o lucro e de egocentrismo mascarada de esquerda ou de socialismo moderno, não é a solução e só nos levará à ruptura. E a ruptura acontecerá quando o cidadão comum perceber que a sua liberdade individual e o seu trabalho já não lhe garantem a sobrevivência, e basta olhar em volta para perceber que essa realidade, já esteve mais longe de suceder…
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