segunda-feira, outubro 12, 2009

As peculiaridades do poder local

As autárquicas são uma oportunidade para o país urbano olhar para o país rural. A realidade da grande Lisboa é muito diferente do resto do país e a forma como as pessoas votam também. Todos ficamos muito indignados quando autarcas acusados de corrupção e actos ilícitos, são ainda assim eleitos. E perguntamos onde é que está o sentido ético dos eleitores, que parecem tolerar a corrupção desde que seja em proveito do local em que vivem. Porque é que as pessoas votam nos autarcas que lhes oferecem electrodomésticos e bilhetes para o Toni Carreira? Ou nos presidentes de junta que lhes oferecem excursões ou lhes prometem médicos?

A resposta fácil seria a falta de informação e a baixa escolaridade, mas a situação parece-me mais complexa que isso. As carências das comunidades locais ao nível do emprego, das infra-estruturas conduzem a uma grande dependência e vulnerabilidade em relação aos governantes locais. Quantas pessoas nos meios rurais dependem do emprego que lhe garante o presidente da câmara ou algum dos membros do partido de poder a nível local? Quantas pessoas dependem dos munícipes para obter uma licença de construção? E o que dizer da rede de estradas e saneamento, quando as infra-estruturas são escassas e as alternativas não existem? Esta dependência tem muito a haver com a forma como o poder está organizado e com o escandaloso centralismo das políticas governativas nacionais, que acabam por deixar as populações altamente vulneráveis às políticas locais. Propicia-se uma rede de troca de favores e de caciquismo que beneficia mais quem chega ao poder do que as próprias populações.

As pessoas acabam criar uma resistência à mudança, preferem confiar em quem fez obra, mesmo escassa e de carácter duvidoso do quem chega com novas politicas. É preciso transmitir às populações que é possível um trabalho em prol da comunidade, sem que algumas pessoas beneficiem com isso e sem que se crie um jogo viciado de troca de favores. Por outro lado, o poder central teria que ter um papel de supervisão, para garantir que determinados abusos não se cometam e para que não se criem diferenças abissais de qualidade de vida entre a zona da grande Lisboa e Porto e o resto do país. Realidades de grande pobreza e carência serão sempre favoráveis ao caciquismo.

1 comentário:

Unknown disse...

"A falta de informação e a baixa escolaridade" não me parece ser a razão principal por exemplo em Oeiras, onde o cacique local, já condenado em tribunal mas reeleito, alardeia que é a localidade com maior número de licenciados e melhor qualidade de vida.

Pelo contrário, a obra feita e a dependência do poder local não serviu para reeleger Fátima Felgueiras.

Acho que cada caso deve ser analisado independentemente.
ASENSIO