terça-feira, dezembro 30, 2008

As palavras que perdi ontem...

Detesto quando isto acontece. Ontem pensei num texto muito razoavelzinho para postar no blog. Acontece que não tinha onde escrever. Hoje que tenho o écran vazio à minha frente, não me sai nada de espirituoso. Podia tentar lembrar-me das palavras, mas já não saem da mesma forma. Não ia adiantar. Mais vale articular um discurso inflamado contra as incursões israelitas na faixa de Gaza. Os bombardeamentos a supostos ninhos de terroristas ceifam a vida de centenas de civis inocentes, mas esse é sempre um dano colateral justificado. É um argumento que se torna aborrecido, já para não julgar a ética e a moral de quem o profere. E atenção que o meu discurso inflamado aplica-se também ao Hamas, aos turcos e ao terrorista que se explodiu junto a uma escola no Paquistão.

O meu texto de ontem não era sobre a guerra. Era sobre estar acorrentado a uma realidade que não se quer viver. O que até tem muito a ver com o que estou a escrever agora. Quem havia de querer esta realidade? Bombas como prendas de Natal, subtilmente para ninguém ver, para ninguém se indignar. Sim indignar-se! Que mais pode um acorrentado fazer, senão indignar-se.

No meu texto de ontem falava de uma fuga para um mundo, onde ninguém me consegue acorrentar, onde eu sou livre de gritar o que quero. Soava bem melhor ontem. Uma fuga para puder ser quem eu sou. Ia fazer o que eu sei fazer bem e não o que me obrigam a fazer. Se calhar também ia mudar o mundo, mas adormeci antes dessa parte. Lembrei-me porque tinha essas correntes, tinha de sobreviver, tinha de comer e de pagar uma casa. Não fosse alguém pensar que desacorrentar-me era uma opção.

A fuga era real, lembro-me agora. A fuga era esta. Este écran vazio. O meu blog. O meu mundo virtual. Isso não me tiram, aqui não me podem acorrentar. Aqui vejo quem eu sou e o que sou capaz de fazer. Vi o valor que as correntes não me deixam ver. Vi-me a mim, já me tinha esquecido quem eu era. Ontem sorri e sentia-me bem. Sim, aqui não me podem acorrentar e sim aqui posso mudar o mundo. Pena é que essas palavras se tenham perdido para sempre... Escrevo outras, escrevo sempre...

1 comentário:

Bruno Ramalho disse...

escreveste outras, e escreveste muito bem :D