quarta-feira, dezembro 07, 2011

Irlanda ou Islândia? Austeridade ou crescimento?

Um dos argumentos mais utilizados para defender a inevitabilidade da austeridade, tem sido o sucesso da Irlanda. Mas qual sucesso? Com quatro anos de austeridade, menos 20% do PIB, eis o que se passa na Irlanda:

«O Governo da Irlanda, o segundo país do euro a solicitar um programa de assistência financeira, está a implementar mais cortes orçamentais com o objectivo de convencer os investidores de que será capaz de regressar aos mercados em 2013. O país caminha para o quarto ano de medidas de austeridade, que equivalem já a 20% do PIB. (...) O anterior Governo irlandês começou a implementar medidas de austeridade em 2008. Desde então, o rendimento médio de uma família irlandesa baixou 423 euros por mês. A economia encolheu 15% e a taxa de desemprego disparou para 14,5%, contra os 4,8% verificados em 2007.Apesar das medidas de austeridade na Irlanda terem sido implementadas com sucesso e o país estar a ser elogiado pelas entidades que o estão a financiar, os juros da dívida pública irlandesa têm subido nas últimas semanas, voltando a aproximar-se dos 10% na maturidade a 10 anos.» 
Grande caminho este da austeridade… nem os mercados acreditam nele, pois os bons alunos irlandeses continuam a ter juros de 10% (recordo que o nível aceitavel seria abaixo dos 7%). Mais uma nota, a Irlanda está a tentar regressar aos mercados em 2013, com muita pouca probabilidade. Quatro anos depois e não conseguem voltar aos mercados, no entanto o nosso semi-deus da finança, Vítor Gaspar, acha que Portugal volta aos mercados em 2013. Pois claro que volta… E que tal, pararem de mentir descaradamente e deixar de apontar a Irlanda como bom exemplo?
Para quem diz que não há alternativa à austeridade, basta olhar para o verdadeiro bom exemplo da Islândia:
Não interessa referir o sucesso islandês, nem dar ideias aos cidadãos de criar assembleias constituintes e serem eles os decisores políticos. Os portugueses não têm a consciência cívica dos islandeses, mas também lhes é escondido que existem alternativas e que vale a pena tomar a democracia nas mãos. Entretanto caminhamos alegremente para o desastre, a austeridade terá um efeito tsunami no nosso país do qual dificilmente vamos recuperar. Jorge Bateira explica bem a situação neste artigo:

«O fundo da crise está resumido na frase de um analista financeiro: “A esperança inspiradora do apoio inicial da Alemanha à experiência do euro, a de que os restantes estados-membros convergiriam para os seus padrões de eficiência e competitividade, sempre foi pouco convincente mas agora é considerada completamente irrealista.”  Qualquer que seja a próxima manobra da UE para enfrentar o fim do euro, subsiste a questão crucial: como é que os países que sistematicamente acumularam défices na sua relação com o exterior, e por isso têm hoje uma elevada dívida privada, vão retomar o crescimento sem gerar novos desequilíbrios?

A resposta dos crentes na religião neoliberal é que a UE deve impor uma terapia de choque aos países endividados. Através da criação de um enorme desemprego, reduziremos o nosso nível de vida para que as exportações possam competir com as dos países de baixos salários. Com um maior peso das exportações na economia, competindo através dos custos, e com a privatização de bens públicos, garantem--nos que o país crescerá. Percebe-se que não falem de desenvolvimento. (…) Portugal bem precisa de uma nova esquerda, com ambição de governar o país. Uma esquerda que enquadre a questão da competitividade da sua economia numa estratégia de desenvolvimento guiada pelo interesse nacional. É em função dessa estratégia que deve ser equacionada a relação do país com a Europa e com o resto do mundo. Caso contrário, tornar-nos-emos para sempre uma província europeia pobre, desertificada, com orçamento feito em Bruxelas (leia-se Berlim).»


Da Europa só podemos esperar soluções que aceleram a queda no abismo, o euro não resistirá e nós seremos os escravos miseráveis da Alemanha, sem dinheiro e sem poder de decisão. Fiquemos pacificamente a aguardar o trágico desfecho, seguir o exemplo dos islandeses é que não…

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