Afinal os governos não governam o mundo ou afinal para que serve a austeridade?
Deliberadamente evitei pronunciar-me sobre a situação deficitária da Madeira. Não porque não seja escandalosa, uma afronta à própria democracia, mas porque toda a gente sabe há muito quem é Alberto João Jardim e do que é capaz. Nunca vi nenhum governo fazer nada e sobretudo Cavaco Silva, Presidente e Primeiro-Ministro durante 10 anos, fez zero e é portanto cúmplice e co-responsável pelo buraco nas contas. Sendo que tudo indica, que a população elegerá o mesmo senhor, que continuará a abrir buracos financeiros, sem que nada lhe aconteça... haverá sempre cidadãos zelosos e cada vez mais pobres para tapar buracos.
Interessa-me mais destacar que o governo finalmente admite que o pior está para vir, a recessão será muito mais grave que o previsto e será necessário um segundo pacote de ajuda do FMI. Espantosa clarividência! O que os prémios Nobel da economia dizem há anos e a esquerda tem repetido, finalmente é admitido, ou seja, as politicas de austeridade, os dolorosos sacrifícios, o estatuto de bom aluno do governo português, que vai além das medidas da Troika, são perfeitamente inúteis. Aliás veja-se o que acontece na Grécia. No entanto, mantém-se o mesmo rumo. Caminha-se alegremente para o desastre. Até os especuladores perdem a vergonha e admitem-no com todas as letras:
«Os governos não governam no mundo. Quem governa é a Goldman Sachs.» Não se governa para os cidadãos, por isso se compreende as politicas de austeridade, o esmagamento dos direitos. Uma coisa parece certa, ou os cidadãos resgatam o governo ou continuaremos de austeridade em austeridades até ao colapso. Daí a importância das pessoas olharem para as manifestações que se seguem, como a única arma que têm na mão. É preciso resgatar o governo das mãos do poder económico. Nunca perdemos tanto, é urgente reagir.
2 comentários:
A propósito do buraco da Madeira, tenho evitado tambem pronunciar-me ou até procurar muitas notícias sobre o assunto: para além de não ter nada de útil ou novo a acrescentar, tudo o que tem sido dito já é dito há muito, muito tempo. É até certo ponto misterioso para mim por que em tanto tempo ninguém, o sr. Silva, o sr. Guterres, o sr. Barroso, o sr. Sócrates, mesmo agora de forma matizada o sr. Coelho, por que nenhum governo nunca ousou fazer nada acerca da forma vergonhosa e despudorada com que o sr. Jardim sempre tem feito joguete dos governos do "Contnante".
Quanto à crise, escrevi outro dia um post sobre a dívida, os defaults mais que certos - da Grécia e nosso - e sobre a minha mudança de opinião, depois de muito ler sobre o assunto, de muito ter ponderado sobre o meu dilema existencial (como talvez te recordes por alguns comentários aqui) e das muitas notícias que a ritmo torrencial se sucedem (muito embora a maior parte não seja propriamente "notícias", dado não serem novas mas sim a confirmação de coisas que eu - espero que também outras almas igualmente clarividentes - já sabia), depois de tudo isto, dizia, penso que nos devíamos recusar, pura e simplesmente, a pagar mais um cêntimo que seja da dívida: o fim será exactamente o mesmo e, pelo caminho, evita-se novas medidas de austeridade que só penalizam ainda mais a economia e as pessoas de que essa economia é feita, e que pouco têm ainda que possa ser "espremido" - no caso grego, já não têm mesmo absolutamente nada.
(espero que não tenha parecido demasiado pretensioso: apesar de ter tendência a romancear demasiado os comentários, sou um mero escrevedor de bitaites blogosféricos, com convicções que mesmo por vezes mudando são sempre fortes: quando sinto que não tenho todas as peças do puzzle, simplesmente não tenho opinião; quando as tenho, opino fortemente - claro que posso mudar de opinião, e tenho a humildade de reconhecer que antes estava errado, quando me apercebo de novas peças do dito puzzle que antes não existiam ou que eu não via...)
(mais uma vez, desculpa pelo comentário romanceado; uma vez que é dirigido em larga medida a ti, sente-te livre de não o publicar ou editar)
Caro amigo gaulês,
És livre de comentar, romancear ou dramatizar o que quiseres. Assim como tens a liberdade de mudar de opinião em função da informação ou das evidências que te vão chegando, julgo que é a atitude mais correcta. O que torna tudo isto complicado é que nos chega muita desinformação, sobretudo dos poderosos lobbies financeiros que têm muito a ganhar com a crise das dívidas soberanas e que são apologistas cegos de uma certa ideologia neo-liberal obcecada pelo controlo do défice e pela austeridade.
Mas se olharmos para o resultado das políticas de austeridade, que só trazem recessão, diminuição de receitas e como tal aumento do endividamento, percebemos como a esta lógica não só é injusta, como inútil. Recusar a austeridade, recusar pagar uma dívida que resulta da especulação financeira (ou pelo menos renegociar, separando o que é efectivamente devido do que são juros abusivos) e repensar a política monetária comum, parece-me o caminho mais acertado. Se quisermos evidências, basta olhar para a Grécia e no que deu a receita austeritária do FMI...
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