terça-feira, julho 05, 2011

Então vamos além do acordo com a Troika e ainda assim a nossa dívida é “junk”?

Será que li bem? Então não era suficiente ter um novo governo, cumpridor e credível, discípulo zeloso das políticas de austeridade e do neo-liberalismo, que vai para além do duramente exigido pelo FMI? Não acalmamos os mercados? Lixo? O que é feito das analises competentes das agencias de rating? Podemos conceber dois tipos de resposta:
  1. O único critério de agências como a Moody’s resume-se ao lucro que podem obter com os elevados juros da dívida de um país e nesse sentido qualquer medida terá sempre como consequência a descida do rating. Factos que apoiam esta ideia: Vamos de PEC em PEC, como bons alunos de austeridade e o resultado foi sempre descida do rating. Para além disso agências como esta, durante a crise imobiliária de 2008, classificaram com AAA empresas que faliram no dia seguinte...
  2. As agencias de rating fazem de facto análise económica competente e desinteressada, chegando à conclusão que as politicas de austeridade vão mergulhar o país numa profunda recessão, que o impedirá de pagar a dívida. E o corte no subsídio de Natal e outras medidas além-da-troika só vão apressar o processo. Factos que apoiam esta ideia: a classificação de lixo surge poucos dias depois do anuncio das novas medidas

E já agora, poupem-nos à ridícula declaração de que a Moody’s desconhecia o corte no subsídio de Natal e outras medidas além-da-troika, estamos na Era das novas tecnologias e as noticias não demoram meses a chegar aos EUA... E não estamos a falar de peritos competentíssimos e bem informados? É que o relatório diz isto: « Economic growth may turn out to be weaker than expected, which would compromise the government's deficit reduction targets. Moreover, the anticipated fiscal consolidation and bank deleveraging would further exacerbate this.»

3 comentários:

Anónimo disse...

Hopes, sinto-me tentado a concordar com quase tudo o que tens escrito aqui, mas... e alternativas? Continuo sem as encontrar, pelo menos viáveis...

Hopes disse...

Caro amigo gaulês,

O que não é viável é a austeridade selvagem e o ultra-liberalismo do nosso governo e da comissão europeia. As alternativas viáveis passam por um entendimento de todos os países a nível da UE, uma renegociação conjunta da dívida, a criação de uma agência de rating e dos eurobonds. E passam sobretudo por politicas de crescimento económico e coesão social. Queres alternativas melhor fundamentadas? Envia-me o teu mail e eu mando-te alguns textos de Paul Krugman e Joseph Stiglitz.

Anónimo disse...

Eu conheço as ideias do Stiglitz (que de resto muito aprecio) e do Krugman (de quem desconfio).
O que eu quero dizer é que as alternativas passam precisamente por uma atitude colectiva por parte de todos os países da UE em defesa dessa mesma UE. Os eurobonds são uma expressão dessa unidade.
O que quero dizer é que isso tinha de já ter acontecido. A UE deveria ter manifestado a sua unidade inequívoca quando dos primeiros problemas com a Grécia. Mas não o fez. E aí, nesse primeiro dia, caiu o primeiro de muitos dominós cuja queda em sequência, neste momento, acabarão inequivocamente por liquidar o euro e a UE como a conhecemos.
O que quero dizer, cara Hopes, é que essas ideias são muito bonitas, e eu concordo com elas. Mas já tinham de ter sido postas em prática há muito, muito tempo. Não o foram, e agora é tarde demais.
Por isso, o meu desencanto é por não encontrar resposta à pergunta "o que fazemos agora?".
Resta-nos assistir à débâcle desta moeda única e desta União Europeia, e tentar dos seus escombros erigir uma nova UE, onde possam existir esse entendimento e essa solidariedade.
(se calhar será uma UPIGS, União Mediterrânica com todos os países segregados economicamente pelos países auto-denominados "superiormente civilizados", que farão a sua União supostamente mais civilizada que a nossa)