domingo, março 14, 2010

Whatever works


«Os ensinamentos básicos de Jesus são maravilhosos. Também as intenções originais de Karl Marx. Está bem? Hei, o que é que podia ser mau? Todos deviam partilhar igualmente. Fazer pelos outros. Democracia. Governo pelo povo. Tudo grandes ideias. São todas grandes ideias, mas têm todas uma falha fatal.
– Que é?
– Que é estarem todas baseadas na noção falaciosa de que as pessoas são fundamentalmente decentes. Dêem-lhes a oportunidade de fazerem o bem e elas aproveitá-la-ão. Não são estúpidos, egoístas, gananciosos, covardes e insensatos vermes. Fazem o melhor que podem. Só digo que as pessoas tornam a vida muito pior do que tem que ser... e, acreditem, é um pesadelo sem a ajuda delas. Mas, no conjunto, lamento dizer, somos uma espécie falhada.

(...) Aviso-vos já, está bem? Não sou uma pessoa afável. O charme nunca foi o meu forte. E, só para que saibam, este não é o filme mais agradável do ano. Por isso, se é um daqueles idiotas que precisa de se sentir bem, vá arranjar uma massagem aos pés.
Que raio é que tudo isto significa? Nada. Zero. Nicles.
Nada dá em nada, no entanto, não há falta de idiotas a balbuciar. Eu não. Eu tenho uma visão. Estou a discuti-la. (...) Dos seus amigos, aos seus colegas de trabalho, aos seus jornais, à televisão.. Todos gostam de falar, cheios de desinformação. Moral, ciência, religião, política, desporto, amor. A sua pasta, os seus filhos, saúde. Cristo.
Se tiver que comer nove doses de fruta e legumes por dia para viver, não quero viver. Odeio as malditas frutas e legumes. E o seu omega-3 e o exercício e o cardiograma e a mamografia e a ecografia pélvica... e, oh, meu Deus, a colonescopia! E com tudo isto, ainda chega o dia em que nos metem num caixote e chega a vez da próxima geração de idiotas que também lhe dirão tudo sobre a vida e lhe definirão o que é adequado.

O meu pai suicidou-se porque o jornal da manhã o deprimia. E podem culpá-lo? Com o horror e corrupção e ignorância e pobreza, e genocídio e SIDA e o aquecimento global e terrorismo e os idiotas dos valores familiares e os idiotas das armas! "O horror," disse o Kurtz no final de "Coração de Escuridão". "O horror."O felizardo do Kurtz não recebia o Times lá na selva, senão ele ia ver o que era horror. Mas o que é que fazemos? Lemos sobre um massacre qualquer no Darfur ou sobre um autocarro escolar que explodiu e dizemos "Oh, meu Deus, que horror!"E depois voltamos a página e acabamos de comer os ovos das galinhas caseiras. Porque, o que é que podemos fazer? É esmagador.

Eu próprio já me tentei suicidar. Obviamente, não resultou. Mas porque é que querem, sequer ouvir falar disto tudo? Meu Deus, vocês têm os vossos próprios problemas. Estou certo que estão
todos obcecados com algumas tristes pequenas esperanças e sonhos. As vossas previsivelmente insatisfatórias vidas amorosas. Os vossos negócios falhados. "Oh, se eu tivesse comprado aquela acção!"."Se eu tivesse comprado aquela casa, há anos!". "Se eu tivesse conquistado aquela mulher." Se isto, se aquilo. Sabem que mais? Não me chateiem com os vossos "podias" e "devias".

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