Ainda há alguém a construir?
Que eu não fui há um momento,
sabes já? E tu dizes não saber.
Então sinto que se não andar a correr,
posso nunca ter passado totalmente.
Sim, mais do que sonho de um sonho sou.
Só o que a limites consolidados aspirou,
é como um dia e como um som que esvoaça;
pelas tuas mãos inominado passa,
para a múltipla liberdade encontrar,
e elas com tristeza o vêm a abandonar.
E o escuro apenas para ti ficou,
e, crescendo para a luz vazia,
uma história do mundo se erguia
de uma pedra que cada vez mais cegou.
Ainda há alguém a construir?
As massas de novo às massas dão voltas,
as pedras estão como soltas
E nenhuma foi por ti talhada...
Rainer Maria Rilke
In O Livro de Horas, p. 161
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