segunda-feira, dezembro 11, 2006

Humanidade, convicções e impunidade

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Chama-se “Children of Men” (“Os Filhos do homem”) de Alfonso Cuarón e mostra a debilidade da condição humana e das nossas convicções. A humanidade em 2027 debate-se com o problema da infertilidade e possível extinção, caindo num estado de total anarquia. É impressionante ver que as pessoas passeiam as suas vidinhas pacatas indiferentes às jaulas onde estão seres humanos como eles, só porque são emigrantes ilegais... e o grupo de activistas que luta contra esta situação, também acaba por abdicar das suas convicções.

Este filme explora a fraqueza da condição humana e a desculpabilização dos actos que hostilizam e excluem uma maioria, para que alguns eleitos mantenham os seus privilégios. A condição humana surge-nos em toda a sua complexidade. Todo o tipo de actos hediondos vão sendo cometidos e admitidos.

O filme é um excelente pretexto para discutir até que ponto o ser humano, abdica de toda a ética em situações extremas. A impunidade que vemos hoje em dia na nossa sociedade, assume em 2027 ainda maior protagonismo. Se hoje a nossa sociedade globalizada admite que se ganhem 342 milhões de euros com o tráfico de seres humanos, ou que 2% da população detenham 50% da riqueza mundial... será assim tão descabido que no futuro, milhares de emigrantes permaneçam enjaulados, perante a passividade daqueles que têm o privilegio de uma vida confortável?

E nós, o que faríamos? Escolhíamos uma vidinha confortável? Será que nos juntávamos ao grupo terrorista que reage à situação dos emigrantes, mas que compromete os seus próprios ideais, quando os fins justificam os meios? É muito cómodo e ingénuo, pensar que faríamos o que está certo... Parece-me que ninguém pode dizer com segurança, até que ponto se mantém fiel às suas convicções em situações limite. É uma questão que coloco a mim própria muitas vezes e sobre a qual só consigo especular.


«He who fights with monsters might take care lest he thereby become a monster. And if you gaze for long into an abyss, the abyss gazes also into you.»


Friedrich Nietzsche

2 comentários:

Anónimo disse...

Inês,

Agrada-me a tua "galáxia" e agora que conheço a morada vou passando com gosto.

Entre o refeitório e a blogosfera vamos continuar a alimentar as conversas de esperança (ou não tanto) para que "isto" ande realmente mais direito:-)!

É de facto muito cómodo e ingénuo, como dizes, pensar que o ser humano faria o que está correcto numa situação de crise. Mas as ditas "situações limite" são infelizmente a coluna vertebral de uma coisa chamada egoísmo humano.

Bjs,
Margarida.

Anónimo disse...

Concordo inteiramente contigo, hopes, e também eu não sei o que faria naquela situação, ou noutra qualquer... Gostei sobretudo da citação do Nietzsche. O homem, apesar de normalmente tão mal citado, tão incompreendido e mal-amado, às vezes até dizia umas coisas acertadas.