domingo, outubro 01, 2006

A minha alma está parva!

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Espantosamente há quem defenda que os votos se podem comprar e vender, que a escravatura era um sistema económico aceitável que até beneficiava os negros, que o trabalho infantil é preferível à escolaridade obrigatória. Não acreditam? Aqui fica um excerto da entrevista de Fernanda Câncio a Pedro Arroja, em 1994:

Os políticos servem para gastar dinheiro, resumindo. Portanto os partidos devem-se organizar como empresas, viver de dinheiro privado, e em última análise os votos compram-se e vendem-se. Explique lá isso.

É muito fácil. Julgo que esse será o futuro da democracia. O que é que se passa agora? Os partidos políticos são financiados pelo Estado, portanto por mim, que não gosto de nenhum e tenho de pagar por todos. A ideia começa então por um financiamento privado dos partidos e não é assim tão tola porque entretanto em Itália já pegaram nisso.

Portanto só quem tem dinheiro é que pode ter um partido...
A menos que haja um partido que me queira mesmo que eu não tenha dinheiro. Mas é precisamente a pensar nos pobres que eu punha a questão da transacção do voto. Se uma pessoa tem direito a um voto mas não quer usá-lo, tem de o deitar fora. Noutro sistema, poderá vendê-lo a alguém que queira votar várias vezes. Já viu quantos pobrezinhos ficavam beneficiados?


(…) A ideia é limitar os poderes do Estado, que é para prestar serviços gerais à população, como a defesa. Não é para andar a tratar da vida de toda a gente, a dar saúde, emprego, etc. Isso cada um trata da sua vida.

A questão é que nós não podemos lançar um programa estatal para tratar uns fulanos que estão na rua, às vezes porque gostam de andar na rua.

(…) Agora não se esqueça que os negros americanos não estão na sua própria terra.

O homem que ganhou o prémio Nobel, este ano, Robert Fogel, provou que se o sistema da escravatura era politicamente inaceitável, em termos económicos, para os negros, era um sistema muito eficaz. Mais: que o trabalhador negro da época, escravo, vivia melhor que o trabalhador médio branco. (…) Sabe o que é? Vá a África e veja porque é que eles não trabalham. Gostam muito de sexo.


A saúde pública acabava. As pessoas sem dinheiro como é que faziam?


Há sempre associações de solidariedade... E se não se conta com o Estado para estas coisas, cada um de nós é muito mais prudente. Passar-se-ia a ter poupanças de lado para gastos de saúde, para a reforma, para a hipóteses de desemprego...

Trabalho infantil: diz que às vezes mais vale isso que a escola.

Com o sistema escolar vigente perdeu-se o ensinamento de comportamentos essenciais: obedecer à hierarquia, habituarmo-nos a cumprir compromissos... Agora o que quer que o menino faça chega ao final do ano e passa. Tem de chegar ao nono ano...

Acabava com a escolaridade obrigatória, portanto.

Claro. Eles tornam-se uns pequenos selvagens nessa idade crítica, que é dos seis aos quinze. Depois é muito difícil mudá-los...

Não deve existir legislação contra o trabalho infantil?

Não. Se a criança vai ou não trabalhar, é com os pais.

Não deve haver regras extra-família que definam os limites das relações entre pais e filhos? Como prevenir abusos, como precaver regimes de semi-escravatura?

É como nos casos de abuso físico: a criança vai parar ao hospital, enfim. A polícia participa.

11 comentários:

Anónimo disse...

meu deus... e ainda fazem entrevistas a pessoas assim... Já agora, e sendo a entrevista de 1994, porquê o destaque agora?

Hopes disse...

António:
No Armadilhas, o Pedro e o AM fizeram referência ao novo elemento do blog Blasfémias. Alguém referiu depois na caixa de comentários que tinha lido uma entrevista dele e eu tive curiosidade e fui ler. Fiquei demasiado incomodada para ignorar. Além disso, sei que há pessoas que vêm a este blog que não conhecem este discurso de direita extremista e é importante que saibam que ele exista.
O Pedro acha que eu fiz mal, eu acho que não (podes ver os argumentos dele e os meus, na caixa de comentarios do post anterior). E já agora, a tua opinião qual é?

Anónimo disse...

Já li os comentários (quando tinha ido a esse post ainda não estavam lá, por isso é que não sabia do que falavam...). Devo confessar, como nota preambular, que estas histórias de Arrojas e outros que tais me passam ao lado... sou, digamos assim, casto em termos de blogs desse género, não vou lá, alguns nem sei que existem, e muito menos sei quem lá escreve... não ignoro que existem "ligações perigosas" dessas pessoas, mas não sei quais são nem tenho paciência para descobrir. Limito-me a tão-só, de vez em quando, numa caixa de comentários (como esta e a do post anterior), vou descobrindo umas coisas...

Em relação ao que perguntas, eu inicialmente até concordava com o Pedro - foi esse o intuito da minha pergunta no comentário inicial - mas depois de ler a tua explicação até concordo contigo... Neste blog, faz sentido falar destas coisas, porque como tu dizes é um blog perfeitamente marginal (e eu acho que as tais 7 pessoas constituem uma "quota de mercado" perfeitamente negligenciável para blasfémias e quejandos. Para além disso, se alguém é leitor regular do teu blog, ou do meu ou mesmo do armadilhas, dificilmente é "arregimentável" por essa gente (a mim, por exemplo, como te diss antes passa-me completamente ao lado) - e isso só torna mais pertinente que saibam do que se trata. Por isso, parabéns, conseguiste convencer-me :)

PS - o comentário da idade é para ser um elogio... ;)

""#$ disse...

António: ele disse muito mais coisas durante os final/inicio dos anos 90 do que simplesmente essa entrevista.

O destaque foi a Fernanda cancio/namorada do sr Sócrates e jornalista que o fez agora ao republicar a entrevista que ela própria fez ao arroja em 95. isto para abalar e abafar o facto de o arroja passar a ser "colaborador" regular do Blasfémias.

quanto ao blasfémias se não lês regularmente pelo menos de vez em quando deverias passar´lá.
Aprende-se muito sobre o outro lado.

quanto ao facto de constituírem uma quota d mercado perfeitamente negligenciáveis para blasfemias , deixa -me que te diga que estás perfeitamente enganado.
Eles precisam como de pão para a boca de 6 ou 7 pessoas.
Embora não o digam alto e bom som, mas precisam.

Já+ fizeram posts a falar sobre as diferenças de utilizar o sitemeter ou o bravenet para contar visitas.
há perto de 1 ano tinham uma enorme disputa com um blog chamado Barnabé, ligado ao BE (também para aumentarem as visitas).

Neste momento procuram uma "contraparte, um inimigo visível com quem se pegar.
No fundo são anões miseráveis em termos de tamanho que pegaram em regras de conquista de mercados- regras económicas- e aplicaram-nas para trazerem audiências e publico ao blog e assim converter pessoas no meio daquele discurso de baralhação e anti estado.

a questão está pois para la do "arregimentavel" ou não.
que ali está é uma tentativa clara de hegemonia por parte de uns anões sociais e políticos que ,na blogosfera, parecem gigantes.
Esta lógica, este padrão deve ser quebrado.
Pela parte que nos toca ,a mim e ao cão, será quebrada.
Mesmo que sejam só só 15 pessoas a irem até ao armadilha.

Sempre que puder desgasto as ideias deles o melhor que souber.
Aquela gente é muito perigosa e a blogosfera é um jogo de soma nula, como tu conheces bem isso de economia António.

As 15 pessoas que vão ao armadilha ou as 5 ou 6 que vem até aqui ou até ao alter-mundo fazem parte "de mercado" (não gosto de expressão, mas...é o que se pode arranjar).
É preferivel, para mim por exemplo, que as 6 pessoa que venham ao "hopes",venham ao hOPES, do que , não sendo arregimentáveis ao blasfémias, passem a ir ao Tugir, ou ao canhoto, blogs do PS.
Por exemplo.
Prefiro, ponhamos as coisas assim um "mercado atomizado".
Até porque o "canhoto ou o Tugir", fazem, se lhes for dada a oportunidade, o mesmo , a mesma táctica .embora de sinal contrário que o blasfémias faz ,em termos de recrutamento de pessoas(tentativa).

isto pode ,a ambos parecer muito abstracto, mas não é.

Estão ambos numa nova dimensão:a vossa opinião conta e é lida. isso faz de vocês, quer gostem ou não, actores micro políticos.
Vocês ocupam espaço.
Como a natureza tem horror ao vazio , voes preenchem esse espaço para impedir que a natureza possa ter horror ao vazio.

E hopes, tu podias divulgar à vontade o arroja. o que eu quis dizer é que não deverias linkar o blasfémias e o arroja naquele contexto de há dois ou 3 dias.
Pode-se atacar o homem(e deves-se),mas com inteligência e frieza e não com reacções do coração.

Isso é o que eles querem.
Sixarem outros e receberem publicidade por isso.

E antónio:as pessoas como nós, não arregimentáveis, estão a ficar em minoria.
Precisamente pelo facto de o discurso "blsfémias" que é uam demagogia total estar a passar.

Hopes disse...

Ó Pedro, eu não linkei o blasfémias, só linkei a entrevista que está no gloria facil... E os motivos, já os enumerei na outra caixa e não vou repetir.

Não andes é a dizer que eu linkei o blasfémias. Eu já nem vou ao Blasfémias, porque aquilo é sempre o mesmo tipo de paleio e já estava mais que enjoada.

""#$ disse...

Hopes:eu sei.

Claudia disse...

Hopes...

Por estas e por outras é que eu me desliguei da politica, todos têm interesses, os únicos que não têm são os aspirantes porque depois... depois muita coisa muda.

Ser de direita ou de esquerda, vês realmente muita diferença? Se sou a favor do trabalho infantil, não não sou mas porque é diferente a criança que trabalha porque os pais precisam dos jovens actores que fazem horas e horas na televisão? Ou os que passam modelos? Lançam discos.. etc.

Por mim vou continuar no meu low profile, vejo blogs que me interessam, sobre assuntos que me descontraiem, vejo o teu e chega-me porque blasfémias e cpa lda... não obrigada. O teu sei que é sincero, que são os teus ideias, os outros... desculpem mas na maioria os interesses já lá chegaram.

Blogs no meu ponto de vista devem ser amadores... não profissionais.

Bjs!

Anónimo disse...

pedro:
"Estão ambos numa nova dimensão:a vossa opinião conta e é lida. isso faz de vocês, quer gostem ou não, actores micro políticos."
Sou um actor micro político. Ena. :)

"E antónio:as pessoas como nós, não arregimentáveis, estão a ficar em minoria"

Exactamente. Por isso mesmo é que não podia estar mais de acordo contigo quanto à importância de um "mercado" atomizado. aliás, mais atomizado que o Altermundo é impossível ;)

Claudia disse...

No meu tempo de "Introdução à Politica" dizia-se que "Liberdade em excesso não é democracia... é anarquia" e é o que mais se vê por aí, disfarçada de liberdade de expressão sem respeitar onde termina o nosso direito e onde começamos a atropelar o direito dos outros.

Hopes disse...

Pois é, só existe democracia e liberdade, se existir respeito pelo outro. Ora respeito é coisa que não existe no discurso deste senhor, que se diz de direita e que se alimenta da própria democracia. Lamentável...

Unknown disse...

Em relação à Hopes ter comentado algo dando publicidade ao Blasfémias ou ao Arroja:

É de mim ou os blogues começam (começam? estou ingénuo hoje) a sofrer das maleitas dos partidos políticos? Agora (agora? de novo, ingénuo) há intrigas de bastidores, blogues que não se deviam dar entre si, propósitos blogueiros pouco transparentes, alianças estratégicas, muitas das vezes contra-natura e reprimendas das cúpulas superiores?

Ok eu já sabia que isso se passava nos blogues de "maior audiência" agora entre os blogues pessoais é nova.

Quanto ao post em si: Este discurso não é desconhecido mas relembrar não faz mal nenhum. Para sabermos que género de pessoas pululam por aqueles lados. É por isso mesmo que hei-de, sempre que me apetecer, voltar ao blasfémias. E irritar-me com eles e mostrar (no meu blogue se for o caso) o quanto discordo das ideias blasfemas.
ASENSIO