sexta-feira, abril 29, 2011

Mais sociedade para quem?

«O que é que é preferivel penalizar o consumo, que até tem na sua origem sobretudo produtos importados, ou penalizar as empresas tornando-as menos competitivas? (...) temos que fazer escolhas: ou poupo ou consumo, ou vou ao cinema ou compro as pipocas, não fico a comer pipocas e não vejo o filme» João Duque



Estas são as pessoas atrás de Pedro Passos Coelho. Não sabem das outras pessoas que não poupam, porque o que ganham não chega para pagar a comida. Não sabem das outras pessoas que já poupam, para ter o suficiente para garantir a sobrevivência familiar. Metáfora com cinema? E aqueles que já deixaram de ir ao cinema, porque precisam do dinheiro para bens essenciais. Desta vez foi João Duque, há uns meses foi Camilo Lourenço, a dizer que as pessoas têm de deixar de ir jantar fora todos os dias e ir só uma vez por semana... Falam do alto dos seus salários chorudos e da sua vida confortável de burguesia urbana. Completamente alheios e insensíveis à luta diária, de quem trabalhando ou recebendo a justa reforma, não ganha o suficiente para a sua sobrevivência.

É um insulto aos mais desprotegidos, é uma ameaça à coesão social, um ataque aos mais pobres e de uma desumanidade impressionante. Ninguém tenha dúvidas que os elementos deste grupo "Mais sociedade", estão a revelar o programa político do PSD e serão os ministros de Passos Coelho, caso vença as eleições. Perguntem-se se são estes os senhores que querem a dirigir o país? As escolhas deles não são de certeza as do cidadão comum, afectado pelos baixos salários, desemprego e pela recessão! Numa coisa concordo com João Duque, há que fazer escolhas e as correctas não são as dele...

segunda-feira, abril 25, 2011

Porque é que tão poucos se importam?

Há 37 anos, portugueses lutaram, conquistaram a liberdade, deram-nos um ideal, um conjunto de valores de igualdade, fraternidade, paz, acesso ao emprego, à protecção social, à saúde, à habitação. Foi uma luta árdua que não se fez na praia, nem por conformistas que têm sempre qualquer coisa mais importante para fazer e certamente não foi feita, por quem acha que não vale a pena lutar por um mundo melhor. Infelizmente esses valores foram subvertidos por partidos políticos que esqueceram a noção de bem público e hoje sobra-nos tão pouco. Nem emprego, nem saúde, nem igualdade, com o FMI aí para acabar com o pouco que sobrou. Estão os portugueses de hoje, cientes de que os direitos não são adquiridos? Estão dispostos a abandonar a sua passividade e conformismo, para os exigir de volta? Vão calar perante a perda do direito ao subsídio de ferias e de natal, a redução de salário, o fim da comparticipação dos medicamentos e de um serviço nacional de saúde? O que vão fazer quando já não existirem transportes públicos, escola publica, subsidio de desemprego e doença? Vão calar ou ficar a lamentar o que já tiveram e que foram incapazes de manter, por egoísmo e conformismo?

A sensação que tive hoje ao recordar Abril e os seus valores, enquanto descia a Avenida, foi que são poucos os portugueses dispostos a não calar, a abdicar do seu tempo, a fazer um pequeno esforço... É triste perceber, que tantos mereçam tão pouco o esforço de alguns. Seja o esforço de suportar o sol abrasador na cabeça e a dor nas pernas, seja o esforço de informar, de alertar e de escrever contra as injustiças. Nada disto é por um, é por todos, por um país, pelas crianças, pelo futuro. Porque é que tão poucos se importam?

segunda-feira, abril 18, 2011

Mau demais...

Porque é que há dez dias, que não escrevo? Porque tem sido tudo tão mau, que me deixa estarrecida. Pegar em quê, falar do quê, se já não há pingo de sensatez em coisa alguma. A crítica seria positiva se comparada a um edifício, se pudesse manter os alicerces e reconstruir o resto. Mas nada disto é possível, com esta classe politica incompetente, esta banca traidora, estes economistas desumanos e esta comunicação social imberbe que os alimenta a todos. É um edifício que já só pode ser demolido, de preferência com uma daquelas demolições com dinamite em que só se vê uma nuvem de pó. Isto é um desfile de mentirosos, vendidos e lambe-botas sem remédio possível. Cabe na cabeça de alguém, que com o FMI a querer levar o país à bancarrota, a afiar a guilhotina que sentenciará de morte não só os mais pobres e desprotegidos, mas toda uma classe média, PS e PSD façam das mais tristes figuras da nossa vida democrática? Congressos apoteóticos, que mais parecem comícios fascistas ou assembleias da IURD (ia jurar que o António Vitorino estaria possesso por algum espírito demoníaco)? Abrir os partidos a oportunistas, arautos da cidadania que se vendem aos mesmos que traem os ideais, que antes defenderam? Revelar que se derrubou um governo, por não existir uma reunião que existiu de facto, estendendo a passadeira vermelha ao FMI? Descobrir que o partido da oposição consegue mentir mais que o seu adversário político? E depois querem que exista uma união nacional de toda esta gente imbecil? Devem entender-se? Não percebem que esse entendimento sempre existiu e o resultado está à vista, nenhum destes grupos fez mais nada, que não servir-se do bem público em proveito próprio. Um entendimento fantástico, para levar o país à degradação moral e politica, já não bastava a económica e a financeira…

Há uns tempos atrás, eu não usaria este tom insultuoso, seria construtiva na crítica, apontaria alternativas… e já falei de tantas alternativas, mas com esta elite que nos representa não há esforço construtivo que resulte. Porque não falam estas pessoas da necessidade de uma auditoria às contas, para se saber quem deve exactamente o quê? A divida é pública ou é sobretudo privada e se é privada, não foi a Banca a responsável? Porque se aceitam imposições externas, se a dívida podia ser reestruturada? É preciso que venham outras ideologias e outras propostas. São necessários políticos que defendam os cidadãos, o estado social, vendo o bem público como um fim em si mesmo. É preciso que as pessoas venham antes do lucro, antes da banca, antes da ditadura dos mercados.

quinta-feira, abril 07, 2011

FMI: distinguir os factos da propaganda

O nosso pior pesadelo está aí e se alguém tem dúvidas, o futuro dirá se estou ou não a exagerar. Mais do que nunca é preciso distinguir os factos da propaganda. É preciso perceber que o recurso ao FMI não é uma ajuda, na conotação positiva da palavra. Todo o dinheiro cedido será devolvido com juros elevados e com a consequência dramática da destruição dos padrões de vida essenciais à sobrevivência económica do cidadão comum, e dos serviços públicos e de apoio social fundamentais. A nossa economia será atirada para uma recessão profunda da qual dificilmente sairá. Se olharmos para as medidas forçadas à Grécia e à Irlanda, percebemos o que é facto. Propaganda é associar o FMI ao único recurso, à salvação nacional. O que tem passado na comunicação social a soldo da elite económica que nos governa é vergonhoso, banqueiros e economistas a quem só interessa que venha o dinheiro para receberem os empréstimos a juros escandalosos, que fizeram ao próprio país sem dó nem piedade. Não basta a Banca nunca ter pago os impostos devidos, ter sido sucessivamente excluída de qualquer sacrifício, ter beneficiado de milhões de euros de resgate, tem agora a ousadia de negar apoio ao país e obrigá-lo a cair nas mãos do FMI? Ninguém tenha dúvidas que se trata de uma traição à Pátria, é gente que vende a alma por dinheiro e pior hipoteca a sobrevivência dos mais pobres e desprotegidos dos seus concidadãos.

Se alguém ainda tinha dúvidas que é o poder económico que nos governa, por esta altura estará esclarecido. PS e PSD são os responsáveis por esta situação, foram as suas políticas que colocaram o Estado nesta posição de submissão. É preciso que as pessoas tenham consciência de que os únicos partidos que sempre se propuseram a afrontar o poder económico são o PCP e o BE. Há que distinguir os factos da propaganda. É bom que se perceba que isto já não é democracia, mas sim ditadura do poder económico. Os portugueses vão perceber da pior maneira que há uma nova ditadura a derrubar.