domingo, maio 23, 2010

«O sistema oprime, criando uma aparência de liberdade»



Excerto de uma entrevista a Zeca Afonso em 1984

É fantástica a actualidade destas palavras! A ouvir com atenção...

segunda-feira, maio 17, 2010

Obediência


«A obediência dos povos alimenta a tirania dos governos»

Agostinho da Silva

quinta-feira, maio 13, 2010

Esforço colectivo para quem?

Aí estão elas! As medidas que vão salvar o país! Um esforço colectivo, um sacrifício dividido por todos a pensar na sobrevivência do Euro e da União Europeia. Um esforço que todos devem encarar com alegria, porque não lhes foi retirado o subsídio de Natal. Se calhar até devíamos agradecer a generosidade. O problema é que tudo isto é uma absoluta falsidade. Primeiro não se trata de um esforço colectivo, todos pagam o aumento do IVA, mas os mais pobres e desprotegidos não conseguirão fazer face a esse aumento. O aumento da retenção na fonte no IRS é na mesma percentagem, mas não é igual a necessidade dessa fatia que se corta, a quem ganha o salário mínimo ou a quem ganha 2000 euros. Se as pessoas se derem ao trabalho de fazer as contas, rapidamente vão concluir que estão a perder mais que um salário por ano. Mas a perda de um salário numa só vez, teria um impacto psicológico muito forte, assim as pessoas vão perdendo dinheiro mensalmente de forma menos perceptível. O objectivo é enganar as pessoas, de forma a evitar contestação social. É bom que os cidadãos pensem bem e percebam que estão a ser enganados e se indignem contra a sem vergonha escandalosa que é aumentar o IVA dos bens essenciais. Imaginem o que será para um reforma com 200 euros pagar a sua alimentação com estes aumentos!

Tudo isto é feito contra tudo o que foi prometido e validado em eleições democráticas. O que é que isto diz da democracia? Diz que já estamos a falar de outra coisa, um regime para uma elite e não para a maioria. Sobretudo quando existem medidas alternativas que são rejeitadas, porque afrontam interesses instalados. A banca vai continuar a não pagar o mesmo IRC de qualquer comerciante, as transferências para offshores não são tachadas, os prémios e bónus não foram cancelados, mesmo as mais valias só serão taxadas só pela metade. Também não se toca nas obras públicas e no despesismo público (ajudas de custo, frota automóvel, subsídios de transporte, alojamento etc.). Porque é que não se reduzem salários acima de 2000 euros em 5%, em que vez de se tirar comida aquém não vai suportar o aumento do IVA?

Tudo isto depois da euforia de ontem com os dados do Eurostat que revelavam um crescimento da economia portuguesa, graças ao consumo interno (adivinhem o que vai acontecer ao consumo interno...). Tudo isto quando se estima que a visita do papa custou 78 milhões de euros ao país em 3 dias! E Cavaco Silva ainda diz que devemos pedir ajuda ao Papa para ultrapassar as dificuldades? Teixeira dos Santos diz que os portugueses não são os gregos e não teme contestação social. Retiram-nos parte do rendimento e ainda gozam com a nossa cara? Vamos permitir?

terça-feira, maio 11, 2010

"Pão e Circo" ou será "Papa e Bola"?


O retrato do país nos últimos dias, entre fanatismo futebolístico e fanatismo religioso, revela a incapacidade de todo um povo pensar criticamente. A felicidade surge associada a símbolos, que nenhum efeito prático têm no seu bem-estar, nas suas condições de vida e de trabalho. No entanto, as pessoas são levadas a pensar que um evento que lhes é exterior, tem efectivamente alguma consequência nas suas vidas e sentem-se obrigadas a sentir alegria e a celebrar algo inconsequente. Não percebem que se tratam de manobras de diversão de massas, para que não se apercebam dos direitos que lhes estão a ser retirados e da difícil tarefa de sobrevivência económica que vão enfrentar nos próximos tempos. É uma jogada eficaz de anestesia colectiva, para evitar manifestações de descontentamento ou revolta.

Não é por acaso que o Primeiro-Ministro e o líder da oposição se reúnem hoje, para em breve anunciar a subida do IVA e eventualmente cortes ou mesmo a suspensão do 13º mês, persistindo na exigência de sacrifícios aos mesmos de sempre. Aposto até que o sermão que o Papa irá proferir daqui a pouco, visará a resignação e o espírito de sacrifício dos portugueses, perante a crise (as lições de moral e ética familiar de imposição de estilos de vida lá estarão também). Os mesmos de sempre que se vão calando e vão aceitando, que só saem aos milhares para aclamar um clube de futebol ou um líder religioso, que por eles e pelo seu futuro, fazem rigorosamente nada. Mas pelos seus direitos ou pelos direitos dos seus filhos, que estão seriamente comprometidos não levantam a voz, não criticam, nem se mobilizam. Enquanto existir “pão e circo”, ninguém dirá basta. Será preciso chegar ao ponto, em que o “pão” desaparece da equação, para o povo perceber que não há clube ou religião que garantam os seus direitos e a sua sobrevivência?

terça-feira, maio 04, 2010

Justo?

Parece que estamos tão mal quanto a Grécia. Tal como eu esperava, as agências de rating não se deram por satisfeitas com o PEC e continuam a avaliar negativamente a economia portuguesa. Chegamos ao ponto de uma televisão iniciar uma sondagem, com a pergunta «Dê a sua opinião: estaria disposto a oferecer o seu subsídio de férias para ajudar o País?». Como que a preparar psicologicamente o cidadão para o inevitável, um jornalista demonstra por a+b que cada português deve anualmente cerca de 8 mil euros. Culpabilizando os malandros que não pagam as contas, assegura-se que não há alternativa ao sacrifício. Neste ponto, os portugueses que ganham 200 euros mensais de reforma, devem estar a pensar como devem um valor que nem sequer auferem. Nem é preciso ir tão longe, qualquer cidadão que pague as suas contas com o seu parco salário, também deve estar confuso. Para perceber basta verificar que as contas do jornalista baseiam-se, por estimativa, no salário médio português, 920€. É a média salarial, porque neste país profundamente desigual, há quem ganhe tanto que faça subir este valor. A verdade é que o salário mais comum em Portugal ronda os 500€, mas esse facto teria outro impacto na contabilidade do jornalista e podia passar a imagem errada...

É lamentável que a comunicação social, seja cúmplice numa estratégia de sacrificar os que já de si têm grandes dificuldades, dando como inevitável um esforço que pode ser conseguido de outra forma. Outra forma que nunca é referida e aprofundada nos Média. Porque não se acabam com os prémios (não só os milionários, mas também os dos cargos de gestão intermédia...), restringem despesas públicas (continua a renovar-se a frota automóvel estatal, para já não falar nas grandes obras publicas...)? Aqui ao lado Zapatero eliminou dezenas de altos cargos públicos e institutos estatais, mas não cortou subsídios de desemprego, sacrificando cidadãos já de si, numa situação muito penosa.

Porque é que um bom jornalista, não faz as contas e mostra exemplos concretos? É bom que se perceba quem saí afectado e como, um cidadão que ganhe 600 euros e perca o seu emprego, fica a receber agora 75% desse salário, 450€ e vê-se obrigado a aceitar um emprego que pague mais 45€ desse subsidio... ou seja, de um salário de 600 euros, o melhor que pode esperar é conseguir continuar a pagar as suas contas com o novo salário de 495€. Justo não é? Para o Governo, justo é a banca que faz um milhão por dia, pagar menos imposto que qualquer pequeno empresário, justos são os prémios aos gestores e tudo que podia ser alternativa, mas afecta a elite intocável... aí não se mexe, não seria justo...

domingo, maio 02, 2010

Valores ...



Valores do Séc. XXI por Quino