quarta-feira, julho 30, 2008

O motivo mais torpe que eu já vi...

Quando uma pessoa pensa que já leu de tudo, surgem notícias destas:



O indivíduo que baleou os vizinhos por acreditar que um deles, pelo facto de ser homossexual, estaria a sodomizar o seu gato foi ontem condenado, no Tribunal São João Novo, Porto, a cinco anos e seis meses de prisão efectiva. José Maria Correia, 53 anos, empregado de mesa, foi condenado por homicídio na forma tentada e detenção de arma proibida.


(...) Provou-se que José Correia acreditava que a pessoa no pátio era José Pedro e estava convicto de que "este era homossexual e que pudesse ter havido contactos de natureza sexual entre o vizinho e o gato". No seguimento dos disparos, Anabela Cruz, professora, foi submetida a intervenção cirúrgica.


O tribunal considerou que o arguido, durante o julgamento, esteve "profundamente desconcertante" e com "comportamento homofóbico". Durante as buscas policiais foram encontradas 38 munições em casa do arguido, conhecido por "Zé Pistoleiro", como contou uma tia da ofendida. O juiz-presidente, João Amaral, considerou que o motivo que desencadeou os factos "é torpe". "Dar um tiro em alguém por ser homossexual e por supostamente ter tido relações sexuais com um gato que ajudou a resgatar, e por isso o animal ter ficado homossexual, é talvez o motivo mais torpe que eu já vi na minha vida", frisou o juiz. Esse motivo é revelador "de uma insensibilidade atroz pela pessoa humana", referiu João Amaral, lembrando o caso do transexual Gisberta, que morreu às mãos de jovens menores e comparando o comportamento destas com o do arguido.


Suponho que a primeira reacção a esta imbecilidade, seja rir à gargalhada do rídiculo da situação. Mas depois há que relembrar o caso Gisberta e o problema da homofobia em Portugal. Há muito a fazer para alterar mentalidades no nosso país.
Enquanto aqui mesmo ao lado, já se avançou no sentido da igualdade de direitos, permitindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo, nós aqui temos tipos que alvejam homossexuais supostamente sodomizadores de gatos e porque a coisa pega-se...

Estamos bonitos, estamos...

terça-feira, julho 29, 2008

À espera...


Dream 029 Tytruck

Foto de Mark Tucker


A propósito de espera, um jornalista perguntou a Nelson Mandela, porque fazia questão de ser sempre pontual. Ele deu esta resposta de um humanismo espantoso:

«O tempo de vida é uma dávida grandiosa, ninguém tem o direito de tirar esse tempo de vida precioso a alguém.»

Lembrem-se disto quando fizerem alguém esperar evitadamente...

domingo, julho 27, 2008

A espectacularidade do Ciclismo

No dia em que termina o Tour, achei interessante falar um bocadinho de ciclismo. Não vou falar do Tour deste ano, porque não pude acompanhar como queria. Vou só explicar como aprendi a gostar de ciclismo, uma modalidade sempre remetida para segundo plano no país do futebol. E aprendi a gostar, porque um excelente comentador chamado Marco Chagas, mais que comentar explica o que é modalidade, os pormenores técnicos e o que motiva determinada equipa ou ciclista. Quem vê futebol não deve compreender o que eu estou a dizer, porque os comentadores de futebol da TV são incapazes de ensinar seja o que for… mas isto é um aparte.




O importante é que fico grata ao Marco Chagas, aprendi imenso sobre a modalidade e sobre o espírito de equipa e de trabalho que se exige aos ciclistas, cujo esforço aprendi a admirar. A imagem do ciclismo tem sido muito abalada por sucessivos escândalos de doping. Existe um controlo muito rigoroso, muito maior do que acontece noutras modalidades, mas não é motivo para fazer das excepções a regra. Eu por mim, não me vou esquecer daqueles homens que fazem uma subida aos Alpes, parecer fácil: Carlos Sastre, Alberto Contador, Lance Armstrong, Marco Pantani e tantos outros…


E se não sabem quem eles são, não sabem o que têm andado a perder….


quinta-feira, julho 24, 2008

Um povo de esperança improvável

O discurso de Obama em Berlim, perante milhares de pessoas, foi considerado histórico e até comparado ao discurso de Kennedy na mesma cidade. Ouvi uns excertos e resolvi ouvir o discurso na íntegra. Foi um discurso envolvente, como não me lembro de ouvir de nenhum político do meu tempo. Ouvi-o com gosto. Pode não ser verdadeiro, pode ser ingenuidade, mas fez-me olhar o futuro com um bocadinho mais de optimismo. Eu que sou de um povo de esperança improvável...




Saltando a parte inicial e a lição de história um pouco pedante, a partir dos 10 minutos o discurso torna-se muito interessante. Vale a pena ouvir pelo menos a parte final, da qual transcrevo as frases que me pareceram mais interessantes:

«Now the world will watch and remember what we do here – what we do with this moment. Will we extend our hand to the people in the forgotten corners of this world who yearn for lives marked by dignity and opportunity; by security and justice? Will we lift the child in Bangladesh from poverty, shelter the refugee in Chad, and banish the scourge of AIDS in our time?

Will we stand for the human rights of the dissident in Burma, the blogger in Iran, or the voter in Zimbabwe? Will we give meaning to the words "never again" in Darfur?


Will we acknowledge that there is no more powerful example than the one each of our nations projects to the world? Will we reject torture and stand for the rule of law? Will we welcome immigrants from different lands, and shun discrimination against those who don't look like us or worship like we do, and keep the promise of equality and opportunity for all of our people? (…)


What has always united us – what has always driven our people; what drew my father to America's shores – is a set of ideals that speak to aspirations shared by all people: that we can live free from fear and free from want; that we can speak our minds and assemble with whomever we choose and worship as we please. (…)

People of Berlin – and people of the world – the scale of our challenge is great. The road ahead will be long. But I come before you to say that we are heirs to a struggle for freedom. We are a people of improbable hope. Let us build on our common history, and seize our common destiny, and once again engage in that noble struggle to bring justice and peace to our world.»


quarta-feira, julho 23, 2008

Será o fim da impunidade?

Na semana passada foi emitido um mandato de captura para Omar al-Bashir, pelo Tribunal Penal Internacional, por crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio. Cinco anos depois de massacres, violações, extermínios, imposição de deslocações forçadas, este senhor é finalmente chamado a responder pelos seus crimes.


Claro que na prática ninguém o irá prender, porque seria necessária a aprovação unânime do Conselho de segurança e os magníficos líderes não querem abrir o precedente que um chefe de Estado em exercício possa ser julgado pelo tribunal penal internacional. Imaginem o corropio de julgamentos... Não queremos tal coisa!



Apesar de tudo, só me posso congratular com esta notícia. O procurador Luís Moreno-Ocampo fez um excelente trabalho, um verdadeiro herói (já que o conceito está na moda, porque não aplicá-lo fora do mundo do futebol?). Espero que Bashir seja um de muitos. Esperança essa que aumenta ao verificar que também Radovan Karadzic , será julgado pelo Tribunal Penal Internacional, esse pelo menos já capturado.
Será o fim da impunidade?

domingo, julho 20, 2008

Vivam os gestores públicos



Parece que em 2005, o SNS gastou indevidamente com os órgãos gestores dos hospitais públicos quase um milhão e 200 mil euros. Os digníssimos membros dos conselhos de adiministração de vários hospitais, acharam por bem apresentar despesas de representação em período de férias, pagar a sua própria assessoria, até as viaturas do Estado eram usadas para uso pessoal, ainda que com moderação...

Isto é escandaloso, é... é uma surpresa, não! Duvido que este tipo de situações se limitem a 2005 e que se resumam ao SNS. Era bom que se investigasse a fundo a actuação dos detentores de altos cargos dirigentes da administração pública, se calhar muito mais irregularidades seriam detectadas. E porque não, pôr termo a regalias que dão aso a este o tipo de abusos? Falo de despesas de representação, aquisição de viaturas e afins... Enquanto estes abusos persistem, sacrificam-se direitos de outros funcionários públicos, da maioria, dos que não têm este tipo de regalias...
Justo? Não me parece!

E já agora, porque é que estes cargos são de nomeação política?

sábado, julho 19, 2008

Um calor que não se pode...

Não sei se já reparam mas está calor, muito mesmo, insuportável mesmo. Provavelmente não me queixaria se a minha casa tivesse ar condicionado. Como a maioria das casas dos portugueses, não tem. Nem tem sequer, como a maioria das casas dos portugueses conforto térmico ou racionalização térmica, ou lá qual seja o termo técnico para dizer que uma casa é estupidamente quente no verão e absurdamente fria no inverno.



E quem é que se preocupa com isso, além dos próprios, ninguém... Aliás eu diria que nem os próprios se preocupam muito com o conforto térmico, estão demasiado ocupados a contar os tostõeszinhos do seu parco salário, para tentar enfrentar a espiral inflacionista. Podem nem saber o que é a espiral inflacionista, mas sabem que o dinheiro não chega para pagar as contas.


Será que já repararam que apesar do IVA ter descido 1%, os preços não desceram? Será que repararam que o barril de petróleo desceu 11 dólares, mas na bomba de gasolina continuam a pagar o mesmo? Será que já reparam há quantos anos não têm um aumento salarial, enquanto a Galp, o BCP, a EDP e afins tiveram milhões de lucro o ano passado? Será que sabem que podem ter de trabalhar 12 horas sucessivas, porque sim? Será que percebem porque é o governo passou à pressa e no ultimo dia antes das ferias parlamentares, o novo regime de contratação em funções publicas?


Acho que não, o Zé e a Maria já transpiram de felicidade se encontrarem um pedaço de areia vazio onde estender a toalha. Porque lá em casa, está um calor que não se pode...

quinta-feira, julho 17, 2008

Vida inteligente



Calvin&Hobbes

terça-feira, julho 15, 2008

"Just shoot them..."

A semana passada, a Visão publicou opiniões de alguns economistas sobre a crise económica que atravessamos. Todos apontam como causa, o mercado financeiro. Aqui ficam algumas citações que achei interessantes:


«MARTIN WOLF: Parece pouca vergonha das pessoas que ganham vastas somas nos mercados dizerem: «A culpa é dos reguladores que não nos impediram de fazer isso.» Ainda assim, também temos de olhar para as autoridades. E há duas grandes linhas. Uma: a culpa é de Greenspan - a política monetária foi demasiado liberal durante muito tempo, particularmente depois de a última bolha ter rebentado, e isso criou condições para a próxima; e a segunda é que o regime regulador não foi suficientemente duro. Há alguma verdade em ambos os pontos, mas são exagerados. Não acredito que haja alguma política monetária que pudesse deter a bolha dos preços imobiliários a que assistimos.»


Deter, talvez não, mas se o regime regulador fosse duro, não estavamos em tão maus lençóis. E quem são afinal, os culpados perguntamos todos?


«ANATOLE KALETSKY; Bem, os accionistas do Citibank e do Bear Stearns foram punidos, mas não eram eles que estavam a tomar decisões. Quem tomava as decisões eram os directores.

GE0RGE SOROS: Porque não dar-lhes um tiro?

ANATOLE KALETSKY; Bem, eu ia sugerir qualquer coisa quase tão radical. Os presidentes do Citigroup, Merrill Lynch e Bear Stearns deviam ficar numa posição similar à de alguém que leva uma empresa à falência; deviam ter sido responsabilizados com uma parte significativa da sua riqueza.»


Pois, era mais fácil alvejá-los do que chamá-los à responsabilidade. Mas quando o Estado cede aos lobbies financeiros, que poder é que regula ou que responsabiliza? Foi este o caminho a que o neo-liberalismo nos levou, e as consequências são desastrosas e estão à vista...


segunda-feira, julho 14, 2008

Muros

I
Altos muros. Siempre estos altos muros,
tan ásperos y duros como el odio,
cortándome el camino al horizonte.
No sé si al otro lado lo que espera
es un jardín o un foso, si me cierran
el paso hacia otra vida o a la muerte.


II
De poco vale que regrese a casa
y busque una escalera o gruesas sogas:
los muros crecen más que mis empeños
y siempre son más altos que mis fuerzas.
A veces, cuando creo estar tocando
su cima con la punta de mis dedos,
los muros se agigantan y me dejan
colgando en el vacío. Caigo al suelo
siempre del mismo lado, ante su burla
y ante la indiferencia de su sombra.





III
Aún no he descubierto si me impiden
salir o entrar, si lo que me han prohibido
es alcanzar la tierra prometida,
o tan sólo escapar de esta miseria
y arribar a la nada más terrible.


IV
Ninguna puerta existe en estos muros,
ni una pequeña grieta para el ojo,
ni un desnivel que invite a la escalada.
No sé si me protegen o encarcelan,
si son una advertencia o un castigo.
Son sólidos y oscuros como el odio.


Poema de Amalia Bautista

sexta-feira, julho 11, 2008

Robin Hood riding to the glen, feared by the bad loved by the good, Robin Hood, Robin Hood!!

O nosso Primeiro-Ministro, quiçá num processo complexo de introspecção e regresso à infância, recuperou a mítica personagem do Robin dos Bosques e introduziu-a na sua política governativa. Mas será que está bem lembrado da personagem? Certamente da música da série de TV, recorda-se:

«Robin Hood, Robin Hood riding through the glen. Robin Hood, Robin Hood with his Merry Men! Steals from the rich, Gives to the poor, Robin Hood... feared by the bad loved by the good, Robin Hood, Robin Hood!!»

Semelhanças com a governação socialista? Nenhumas, só nas complexas introspecções do Primeiro-Ministro pode existir alguma confusão. Cá para mim, Sócrates deve ter uma memória deturpada da música, numa coisa do género:

«Robin Hood, Robin Hood riding through the glen. Robin Hood, Robin Hood with his Merry Men! Steals from the poor, Gives to the rich, Robin Hood... feared by the good loved by the bad, Robin Hood, Robin Hood!!»

Quem se lembra do Robin dos Bosques, não consegue perceber como é que retirar 25% de um lucro especulativo da Galp tem alguma coisa de "robin hoodesco". Primeiro porque o lucro especulativo da Galp, se estivéssemos numa sociedade justa nem devia ter lugar, porque se baseia não no preço real do petróleo, mas nos mercados bolsistas, prejudicando todos os consumidores. "Robin Hoodesco" seria não permitir esta situação. No fundo o que o governo diz é, continuem a ludibriar os consumidores e nós ficamos com 25%. E pior, na prática, o que a Galp irá fazer, será aumentar os preços junto dos consumidores para obter esses 25%, que irá entregar ao Estado sem perder qualquer lucro. Quem é que rouba a quem? Isto parece-me mais uma ideia que o Sheriff de Nottingham teria...

Passemos à parte do que o Primeiro-Ministro Robin dos Bosques vai dar aos pobres:
Aumento da acção social escolar - não tenho nada a apontar, parece-me muito positivo, só espero que os pais não esbarrem no processo burocrático dos pedidos de atribuição destes subsídios.
Redução do IMI e dedução dos juros com amortizações de casa no IRS - muito bem, mas eu só pergunto, será que os portugueses que mais precisam de ajuda contraíram algum empréstimo para habitação ou pagam IMI ou chegarão a pagar algum IRS?

Não discuto que estas medidas não tenham aspectos positivos, mas onde é que está a protecção social aos pensionistas, aos desempregados, aos trabalhadores precários? Medidas que promovam o emprego? Aumento das reformas? Aumento intercalar dos salários? Regulação do mercado dos combustíveis? Combate à inflação? Taxar com mais justiça os lucros da Banca? Isso sim seria alguma coisa que o Robin Hood, faria...

quinta-feira, julho 10, 2008

Ver de olhos fechados

«Então, fechei os olhos com força e fixei-me no que via. Esta era uma das coisas que fazia desde pequeno, que tinha descoberto por acaso e que imaginava ser eu a única pessoa a fazer no mundo. Fechava os olhos e via. Via o que se vê com os olhos fechados. (...) Isto é o que se vê quando fechamos os olhos e continuamos a ver: a cor negra e os pequenos seres de luz que a habitam. E não se consegue olhar fixamente nem para o negro, nem para a luz. Os pontos ou as linhas ou as figuras de luz fogem da atenção. O negro é tão absoluto, tão profundo e tão infinito que o olhar avança por ele sem encontrar um lugar onde possa deter-se.»


José Luís Peixoto, "Uma casa na escuridão"

quarta-feira, julho 09, 2008

Promessas, promessas...


Perdoe-me o cepticismo Srª Merkel, mas só acredito quando vir... E que tal convencer os seus colegas do G8, a fazer o mesmo, e porque não a fazer mais? É pedir muito? Não me parece... O que são 750 milhões para os 8 países mais ricos do mundo? Trocos! E se bem me lembro, em 2005, o G8 comprometeu-se a duplicar a ajuda aos países africanos, sendo que até ao momento foi desbloqueado um quarto desse valor.


Mas o que nos vale, é que o G8 se compromete a reduzir as emissões de gases que provocam o efeito de estufa, em 50%, até 2050... isto vindo de um grupo de países, que nem ratificou unanimemente o protocolo de Quioto. Mas registo o magnífico golpe de propaganda da plantação de árvores, até nos convencemos que há uma preocupação efectiva com o ambiente!

Ao que parece o meu cepticismo tem alguma razão de ser...

terça-feira, julho 08, 2008

A propósito de incêndios em prédios devolutos...

O incêndio na Avenida da Liberdade num prédio devoluto, devia servir para lançar o debate, sobre o que fazer a 4600 prédios nestas condições só em Lisboa. Muito me espanta, como é que um país com tantos cidadãos sem capacidade económica para ter casa própria se dá a este luxo. O direito à habitação ainda é um direito? De repente fiquei na dúvida...


No caso de Lisboa, temos centenas de pessoas a trabalhar na cidade e a fazer todos os dias 1 a 2 horas de deslocações para chegar ao trabalho. E o mesmo para regressar a casa. E eu pergunto, este tempo desperdiçado quanto custa ao país? Onde é que estão aqueles cálculos de produtividade, que os economistas tanto gostam de fazer?

Imagino que seja um custo insignificante, quando comparado com a especulação imobiliária do mercado de venda e arrendamento na cidade de Lisboa. Imagino que se estes 4600 prédios estivessem disponíveis para venda ou arrendamento, se calhar não podíamos alugar um T1 por 1300 euros... Ou então é só a minha imaginação delirante...


O que é certo é que sucessivos governos e executivos camarários vão adiando a resolução deste problema, era interessante que nós explicassem porquê. Será porque a recuperação de um edifício devoluto fica muito cara e a qualidade de vida dos cidadãos e a protecção do património da cidade, não dão lucro?

domingo, julho 06, 2008

Hmong


Esta foto resulta de uma reportagem de Philip Blenkinsop em 1997, para a revista Time acerca dos veteranos Hmong e suas famílias que lutaram sob comando da CIA durante a guerra do Vietname. Esses homens, que viviam escondidos no Laos e ainda continuavam em fuga, quando o viram, acompanhado do jornalista da revista, pensaram que iriam ser salvos. É extremamente tocante.



A fotografia não é nova. Mas será que alguém sabe quem são os Hmong? A fotografia é conhecida. Mas será que alguém sabe quem são os Hmong ou que alguém quer saber? Os Hmong são um povo oriundo do Laos, que foi recrutado pela CIA para combater as tropas comunistas de Ho Chi Min, na guerra do Vietname. Foi a chamada "Guerra Secreta", cuja existência os EUA negaram até 1990. Com a retirada dos EUA do Vietname em 1975, os Hmong foram deixados à sua sorte, sofrendo perseguições e retaliações constantes, mantêm-se escondidos, refugiados nas montanhas até aos dias de hoje. As Nações Unidas tentaram sucessivas negociações entre Laos, a Tailândia, os EUA e a Austrália, sem sucesso...



Calculo que ainda lá estejam, no mesmo local onde a foto foi tirada, à espera de ser salvos...

quinta-feira, julho 03, 2008

"You ate the Lord, our savior"


Larry David
in
"Curb your enthusiasm"

quarta-feira, julho 02, 2008

"Meet David Davis"

Não fosse um artigo do "Open Democracy", e eu provavelmente não saberia quem é David Davis... ou então, ando muito distraída e não li nada na nossa comunicação social sobre ele... Este senhor é um ilustre parlamentar britânico, do partido conservador, que insurgindo-se de tal forma contra a nova Lei Anti-Terrorista de Gordon Brown, demitiu-se do seu cargo político. Ele alega que o Parlamento, ao atentar contra a liberdade e os direitos mais fundamentais do cidadão, deixa de cumprir o papel que lhe foi delegado. Fala de uma asfixia da liberdade cívica pela elite governativa, pelos partidos e pelos próprios Média, sem que o Parlamento consiga evitá-lo. Vale a pena ouvir os motivos dele:







Parece exagero, mas não é. A Lei Anti-terrorista ou lei das 42 horas, prevê que um cidadão possa ser detido sem culpa formada por mais de 42 horas, desde que essa ordem venha de um responsável político da Administração Interna. O Max explica muito bem as implicações dessa legislação neste post. A esta lei juntam-se sucessivas medidas, que visam integrar uma série de dados privados dos cidadãos, em bases de dado do Estado. Bases de dados criadas e desenvolvidas por empresas privadas, que logicamente terão acesso a informações pessoais dos cidadãos. Já para não falar paranóia das câmaras de vigilância...



Claro que a imprensa e os adversários políticos estão a acusá-lo de pretender protagonismo. Sinceramente, não conheceço a política interna britânica o suficiente, para poder afirmar se é disso que se trata. O que importa é a mensagem, não o mensageiro. E para mim, a asfixia das liberdades cívicas é um facto e que já não temos, nos parlamentos ou nos governos garantes dos nossos direitos fundamentais, é mais que óbvio. Como diz o autor do artigo e muito bem, isto não é sobre David Davis, é sobre todos nós:


«Against this background democrats need to develop and reinforce the central claims that Davis is making: that voters don't want to be governed by a state which holds the innocent without charge, conducts blanket surveillance; corrupts personal information; and hires corporations to build a unified high-tech state that manages the identity of every citizen.
This isn't about David Davis, it is about us»

terça-feira, julho 01, 2008

O ditador "bonzinho"?

Mugabe esteve sentado à mesma mesa que vários líderes mundiais na Cimeira Europa-África, lembram-se? Não me lembro de ter surgido na cimeira, qualquer apelo a uma democratização do país, isto para dizer o mínimo. Bem, o resultado de décadas de olhares impávidos e serenos da comunidade internacional para Mugabe, está agora bem à vista: um processo eleitoral vergonhoso, em que os eleitores do partido adversário são perseguidos, intimidados e torturados.
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Cartoon de Jimmy Margulies no "The Record"
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Chegou-se ao ponto dos eleitores terem de se identificar no boletim de voto e terem sido marcados com uma mancha de tinta (ler aqui). É curioso ver até onde irá a impunidade... afinal o Zimbabwe não é o Iraque, nem o Afeganistão... Serão as sanções económicas suficientes e não irão elas atingir mais as populações que o próprio Mugabe?
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Como se não fosse escandalosa a pacividade da comunidade internacional, acabo de ler este post do Devaneios. Muito me espanta como pode o PCP aprovar este tipo de conduta e este tipo de regime, abstendo-se num voto de condenação à actual situação política no Zimbabwe.
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O caso de Mugabe só reforça a minha ideia que existe uma dicotomia hipócrita, entre ditadores mauzinhos e bonzinhos, que só tem a ver com os interesses estratégicos das grandes potências. Para uns a guerra, para outros sanções económicas ou para outros ainda, meros puxões de orelhas. Vamos ver o que acontece no Zimbabwe...
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