sábado, março 31, 2007

Mais um motivo de orgulho

«Entre Janeiro de 2003 e Dezembro de 2005 , os gabinetes governamentais movimentaram, em "práticas sistemáticas e anómalas", e muitas vezes "sem a mínima contrapartida", verbas quase quatro vezes superiores ao custo previsto para o novo aeroporto da Ota, que é de 3,1 mil milhões de euros. (...) Segundo uma "auditoria aos gabinetes governamentais" ontem revelada pelo Tribunal de Contas, e que abrangeu os governos de Durão Barroso, Santana Lopes e o primeiro ano do actual governo de José Sócrates, "as despesas [dos gabinetes governamentais] com transferências correntes totalizaram 12,5 mil milhões de euros ". »



É bom saber que os mesmos governos que têm exigido sacrifícios aos portugueses, em nome do défice, são os protagonistas destas notícias. São os mesmos que fazem dos funcionários públicos bodes expiatórios, congelando carreiras e ingressos, que efectuaram centenas de nomeações generosamente remuneradas. Se as nomeações publicadas em Diário da República já são um escândalo, quando o comum dos mortais presta provas e vai a entrevistas antes de ser seleccionado para um lugar. Maior é o escândalo quando ficamos a saber, que a maior parte destas nomeações, nem sequer foram publicadas em Diário da República:


«Uma trapalhada. A primeira auditoria realizada pelo Tribunal de Contas (TC) aos gabinetes ministeriais e dos primeiros-ministros dos últimos três governos revela falta de transparência nos processos de admissão, total discricionaridade na tabela salarial e mesmo situações ilegais.

Entre as críticas apontadas, relativas a uma análise do período entre 2003 e 2005, está “a opacidade do teor e conteúdo de múltiplos despachos de recrutamento de pessoal dos gabinetes (...) e até da sua não publicação no Diário da República”. Por outro lado, o TC constatou também que o número de colaboradores recrutados para apoio aos gabinetes, durante o triénio, “não obedeceu a quaisquer limites” e que a sua selecção “nem sempre” assentou em critérios “claros e objectivos”. No mesmo sentido, lê-se no relatório, “observaram-se as mais díspares remunerações para funções idênticas”.

O Governo de Sócrates é o que sai melhor do retrato, apresentando cerca de 36,5 milhões de euros de despesas com pessoal, bens e serviços, contra 36,7 do Governo de Santana Lopes, e 77 milhões de euros do executivo de Durão Barroso. Mesmo tendo em conta que o período analisado em que Barroso foi primeiro-ministro é cerca do dobro do dos seus sucessores, o estudo indica uma contracção da despesa em 2005. Por outro lado, no entanto, o relatório indicia que o Governo de José Sócrates terá sido aquele que mais admissões permitiu e que mais recorreu a formas pouco transparentes no processo de recrutamento. Numa amostra de 30 gabinetes analisados com mais pormenor, verificaram-se 484 admissões, sendo que, de entre estas, 74 foram de especialistas.»


.
Lá por não ser uma surpresa, não deixa de ser lamentável. Exige-se seriedade política!!
Ou pelo menos os portugueses deviam exigir, em vez de clamar por Salazares... talvez fosse melhor ideia!

terça-feira, março 27, 2007

Terrenos pantanosos, lodos e aluviões

.

A propósito da OTA, diz que é uma espécie de um lodaçal!!



Gato Fedorento de 25/03/2007

segunda-feira, março 26, 2007

A Grandeza dos Portugueses?

.
Por várias vezes, estive prestes a pronunciar-me sobre o concurso “Grandes Portugueses” e não o fiz, porque discordo profundamente com os princípios fundamentais do programa. Parte-se do princípio que se podem comparar personalidades de épocas históricas e mentalidades tão diferentes. Parte-se do princípio que há domínios do saber melhores que outros, ou qualidades melhores que outras. Parte-se do princípio que existem Super-heróis e não seres humanos, com qualidades e defeitos, inseridos num determinado contexto histórico.


Na minha opinião, não é intelectualmente honesto. A isto acresce, o associar uma personalidade actual à personagem histórica, o que acarreta simpatias e antipatias e deturpa ainda mais a visão da realidade. Por isso não votei, não assisti ao debate e limitei-me a ver alguns documentários. Mas não pude deixar de assistir aos resultados da votação. Quem é afinal o Grande Português?

Os portugueses que participaram na votação do concurso da RTP elegeram Salazar como vencedor. Confesso que não fico surpreendida. Parece-me o resultado de anos de maus governos, de políticas incompetentes e de elites políticas que descredibilizaram a própria democracia. A reacção é um voto de protesto, contra a forma como se tem vindo a fazer política. Os portugueses que votaram, são os portugueses que se debatem com a pobreza, o desemprego, a inflação, o agravamento das desigualdades sociais, a precaridade, a insegurança. Só a vivência dramática diária com estes problemas, pode explicar que os portugueses se tenham esquecido dos assassinatos, das torturas, das prisões políticas, da censura, da humilhação das mulheres, da pobreza extrema, do analfabetismo e da baixa escolaridade que o Salazarismo lhes trouxe. É um sinal de alarme que os nossos políticos deviam saber interpretar.


O que eu lamento, enquanto defensora da democracia é que os portugueses prefiram olhar para o passado, em vez de olharem para o futuro. Tenho pena que se admire um regime autoritário e fascista e não se olhe para os resultados das democracias nórdicas, por exemplo. É triste que peçam uma ditadura, em vez de exigirem uma democracia melhor, mais solidária, que fomente a igualdade social e o bem-estar. Enfim, um regime político que fomente a felicidade de todos e não só de alguns.


Grandeza seria exigir mais e melhor democracia.


P.S. Um aspecto positivo a sublinhar, o 3º lugar de Aristides de Sousa Mendes, os portugueses valorizam o humanismo, a capacidade de defender o que está certo, mesmo quando isso significa o prejuízo do próprio. Aí reside a grandeza e quem sabe a esperança…

sábado, março 24, 2007

"What Kind of Blogger Are You?"

You Are a Pundit Blogger!

Your blog is smart, insightful, and always a quality read.
Truly appreciated by many, surpassed by only a few



Então, não é?? «Truly appreciated by many», sendo que many são 5, 6 pessoas... lol

quarta-feira, março 21, 2007

Árvores e poesia

AS ÁRVORES

.
Eu espero, sim, que essas árvores cresçam.
Adormeço com elas todas as noites,
embalado pela sua sombra.
Lembro-as de memória, sobre a relva verde.
Lembro as suas folhas, caindo de noite.
Mesmo as que ainda não vi, eu espero que cresçam,
que me esperem, que me abriguem nesse dia em que mais precisarei delas,
ouvindo o ruído do mar não muito longe.
Tenho, a cada minuto, saudades dessas árvores.

Francisco José Viegas

segunda-feira, março 19, 2007

Um infeliz aniversário

.

O início da invasão do Iraque foi há 4 anos. Parece que foi ontem que ouvimos o Sr. Bush falar de uma guerra que duraria somente 3 semanas e que vimos a estátua de Saddam tombar. Parece que ainda ouço as vozes eufóricas que comparavam o tombar da estátua ao nosso 25 de Abril...


Mas depressa os factos desmentiram a euforia. Os sucessivos ataques suicidas, a inexistência de armas de destruição massiva, as torturas em Abu-Ghraib, o sequestro de estrangeiros e o sangue derramado de milhares vítimas iraquianas e de soldados norte-americanos... E por fim, a execução de Saddam, que mais não foi que uma acha para a fogueira.


Hoje uma sondagem do “USA Today”, revela que somente 18% dos iraquianos confia na coligação liderada pelos EUA, a maioria acha que a presença de tropas estrangeiras aumentou a insegurança no país. Nove em cada dez iraquianos vivem com medo de morrer. Leio o testemunho impressionante de uma iraquiana:


«Comemos, bebemos e dormimos como animais, mas os animais têm sorte, porque não estão assustados o tempo todo como nós. Não pensam que podem ser assassinados a qualquer momento, por isso acredito que são mais felizes que nós.»


À insegurança junta-se a escassez dos serviços básicos, como o fornecimento de electricidade. Reina o pessimismo e o desalento, há falta de adjectivos que melhor descrevam o drama dos iraquianos. Choca-me que esta situação tenha culpados e que os culpados permaneçam impunes e alheios ao sofrimento dos iraquianos.

sábado, março 17, 2007

Tédio

.

- Is it still rainning my love?

- Yes, my love.

- Remarcable

- And I’m bored to death with it…

- Really?

- Bored to death with this place…
.
Bored to death with my life…
.
Bored to death with myself ...

- What was that my love?

- Nothing…

Excerto de "Bleak House", em português “A casa sombria”.
.
Estreia dia 19 na 2:

quinta-feira, março 15, 2007

Nevoeiro II

.Mark Tucker

"Fog Monument"

terça-feira, março 13, 2007

Então, e o desemprego entre os jovens licenciados?

.
O que tem o governo feito para solucionar o problema do desemprego entre os licenciados? Dir-me-ão o mesmo que tem feito para diminuir o desemprego em geral, nada. Mas analisemos medidas concretas, primeiro foram os célebres cursos de formação para activos qualificados. Os licenciados eram encaminhados para cursos de formação que terminados, levavam a esmagadora maioria de novo para o desemprego. Qualificar mais quem supostamente já é qualificado, quando as empresas portuguesas não querem empregar pessoal qualificado. Foi portanto um sucesso, de medida.


Depois veio o Programa de Estágios Profissionais para a Administração Pública, financiado por fundos comunitários, pelo POAP. Assim se retiraram 3 mil licenciados das estatísticas do IEFP, que passaram a descontar para o IRS, mas não a descontar para a segurança social. À semelhança do que aconteceu, com os cursos de formação, terminado o estágio, os licenciados voltam ao desemprego. Mas desta vez, com a agravante de não terem direito a subsídio de desemprego, ou seja, desta vez são um encargo bem mais leve para o Estado. Muito conveniente, muito socialista…


Como a medida foi afinal proveitosa, não para resolver o problema do desemprego entre os licenciados, mas para o orçamento do Estado, surge o mesmo programa aplicado à Administração Local. À semelhança do PEPAP, o PEPAL está a retirar centenas de licenciados das listas do IEFP. Claro que está devidamente legislado que os PEPAP não podem beneficiar deste novo programa, apesar de estarem novamente desempregados. O programa está agora a ser implementado, mas atrevo-me, pela lógica, a prever que daqui a um ano estes jovens licenciados estarão novamente desempregados.

"L'Avenir", Cartoon de Plantu

Não existe nenhuma política activa e uma estratégia de fundo para combater o desemprego entre os licenciados. O problema arrasta-se no tempo. Milhares de vidas em suspenso. Milhares a questionar o seu lugar, o seu futuro. Muitos em situações de depressão, com a auto-estima abalada, omitem a condição de licenciados. Os que não ficam no desemprego, obrigam-se a aceitar empregos desqualificados, afastados da sua área de licenciatura. O melhor que Portugal tem a oferecer aos seus licenciados é um trabalho num Call-Center…


domingo, março 11, 2007

"Windowsill"

.

Don't wanna hear the noises on TV

Don't want the salesmen coming after me

Don't wanna live in my father's house no more

Don't want it faster, I don't want it free

Don't wanna show you what they done to me

Don't wanna live in my father's house no more

Don't wanna choose black or blue

Don't wanna see what they done to you

Don't wanna live in my father's house no more


Cause the tide is high

And it's rising still

And I don't wanna see it at my windowsill
.

Don't wanna give 'em my name and address

Don't wanna see what happens next

Don't wanna live in my father's house no more

Don't wanna live with my father's debt

You can't forgive what you can't forget

Don't wanna live in my father's house no more

Don't wanna fight in a holy war

Don't want the salesmen knocking at my door

I don't wanna live in America no more


Cause the tide is high

And it's rising still

And I don't wanna see it at my windowsill


MTV, what have you done to me?

Save my soul, set me free!

Set me free! What have you done to me?

I can't breathe! I can't see!

World War III, when are you coming for me?

Been kicking up sparks, we set the flames free

The windows are locked now so what'll it be?

A house on fire or a rising sea?


Why is the night so still?

Why did I take the pill?

Because I don't wanna see it at my windowsill


Don't wanna see it at my windowsill

Don't wanna see it at my windowsill

Don't wanna see it at my windowsill


Arcade Fire

Album "Neon Bible"

2007

quinta-feira, março 08, 2007

Dia Internacional da Mulher

.


«Então, a próxima vez que te entregues a escrever um romance, vê se podes mostrar mais compreensão do coração humano. Nunca escolhe como tua mulher ideal aquela com determinação, desinteressada, corajosa e honesta. O público desprezá-la-á e chamá-la-á pelo nome ultrajante de Lélia, a inapta. Inapta, sim, graças a Deus! Inapta para o servilismo e para a baixeza, inapta para a lisonja ou para o medo dos homens. Homens estúpidos - vós que acreditais nas leis que punem o assassinato com o assassinato e que expressam a vingança na calúnia e na difamação! Mas, quando uma mulher mostre que ela é capaz de viver sem vós, então vosso poder fútil dará lugar à fúria. Vossa fúria é punida por um sorriso, um adeus e despreocupação universal!»


Excerto de “Diário íntimo” de George Sand



Escrevo sobre o dia da mulher, ainda a recordar o relato que ouvi ontem de uma amiga. Com um excelente desempenho nas provas de selecção, foi a candidata escolhida até ao momento em que disse que era mãe. Não terá sido a primeira, nem será a última.


As mulheres continuam a ser discriminadas no mundo do trabalho. São as vítimas da violência doméstica. Recebem os salários mais baixos. 1 em cada 3 mulheres já foi atacada uma vez na vida. São elas as sobrecarregadas com os cuidados familiares, as tarefas domésticas, a educação dos filhos. Toleram o assédio sexual mais ou menos dissimulado. São mais afectadas pela dura realidade do desemprego.


Quantas mulheres abdicam dos seus sonhos, dos seus projectos, da sua vida pessoal para assumir um papel que a sociedade impõe? Quantas e ainda por quanto tempo?

sábado, março 03, 2007

"Free hugs"

.


Às vezes os pequenos gestos são importantes, tornam a dor mais suportável, mesmo que nunca a possam fazer desaparecer. Trazem-nos a certeza que nas contrariedades, um gesto de amizade, um abraço é a única alegria possível.
E se apesar da dor, verificámos que sabemos o que é a amizade, se calhar a contrariedade não é tão grande assim... Só resta saber até que ponto vai o cepticismo!

quinta-feira, março 01, 2007